Autoria: Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva e Dr. Alex Rocha
* Dra Ana Beatriz Barbosa Silva (Médica Psiquiatra, CRM/RJ 5253226/7)
* Dr. Alex Rocha (Psicólogo clínico cognitivo-comportamental, especialista em neurofeedback, CRP/RJ 5-325336)
Neurofeedback é um tratamento que tem como principal objetivo melhorar o funcionamento cerebral por meio da neuromodulação autorregulatória. Esse tratamento não tem nenhum efeito medicamentoso e muito menos invasivo no cérebro. Ele é responsável por estimular as habilidades naturais do cérebro, regulando e desenvolvendo suas potencialidades, corrigindo distúrbios, o que contribui para um melhor desempenho cognitivo e comportamental. É feito por meio de sensores que captam sinais elétricos provenientes dos neurônios, sendo decodificados e processados por um software especializado. Com isso, o funcionamento do cérebro pode ser acompanhado em tempo real pela tela de um computador. A partir de então, a pessoa vai aprendendo, por erros e tentativas, a levar o cérebro a uma transformação. O programa, ao longo do tratamento, informa se a abordagem está correta, muitas vezes sob a forma de pontos, como em um game.
Temos que ter em mente que o cérebro funciona por meio de descargas elétricas, que são a base de comunicação entre os neurônios. Estas ondas elétricas podem ser identificadas por exame de eletroencefalograma (EEG) e tudo o que é controlado por elas acaba por aumentar ou prejudicar as funções executivas.
Sabemos que em casos do transtorno do déficit de atenção (TDAH), por exemplo, a neurobiologia consiste em lentidão nas áreas frontais do cérebro e dificuldades de concentração. Assim, o neurofeedback é uma das maneiras de treinar o cérebro do paciente a se desenvolver de forma mais eficaz. O exercício mantém o pulso em faixas de frequência que são determinadas como os objetivos finais. Com base nos resultados dessa análise, o treinamento de autorregulação da atividade elétrica cerebral é realizado no paciente a fim de fortalecer as redes neuronais, aumentar a flexibilidade do cérebro, e incrementar a estabilidade mental. Com isso, aos poucos, o paciente vai conseguindo melhores resultados no treino e colhendo seus efeitos positivos, como maior capacidade de sustentar o esforço mental e a concentração. De forma análoga, podemos utilizar a mesma técnica para outros transtornos, como a depressão, os transtornos ansiedade, entre muitos outros.
Tratamento:
O tratamento com neurofeedback é completamente natural e não invasivo, ou seja, o paciente não recebe nenhum tipo de irradiação elétrica ou magnética do equipamento. Eletrodos são colocados sobre o couro cabeludo para a captação das emissões elétricas dos neurônios, que pulsam dentro do crânio. Por meio de cabos, estas informações elétricas são enviadas a um computador. Tal terapia permite que o paciente trabalhe diretamente no problema, treinando o cérebro para se tornar menos impulsivo. Ao reduzir os padrões do cérebro demasiado rápido e demasiado lento, como ocorrem no cérebro de alguém com TDAH, o neurofeedback ajuda o paciente a assumir o autocontrole, sendo, portanto, uma alternativa para pessoas que não respondem aos tratamentos convencionais ou que não toleram os efeitos colaterais das medicações. Para tais casos, esta técnica apresenta inúmeros pontos positivos quando comparada com outras formas de tratamento.
O neurofeedback pode substituir a medicação?
Todo tratamento medicamentoso quando bem acompanhado e administrado tem níveis de eficácia e é capaz de produzir os resultados positivos a que se propõe. Mas há diferenças importantes. As alternativas não medicamentosas, como é o caso do neurofeedback, são totalmente naturais e não invasivas, indolores, sem contraindicações ou efeitos colaterais desconhecidos.
Já os psicoestimulantes, que aumentam os níveis de atividades motoras e cognitivas, são medicações em que as prescrições devem ser de forma cautelosa e de acordo com a resposta de cada paciente. Até onde se tem conhecimento, os efeitos colaterais conhecidos não são graves, mas, como já dito, há pacientes que não se adaptam à medicação ou não toleram os efeitos indesejáveis, o que dificulta o tratamento, além daqueles que apresentam quadros mais graves, necessitando de outras técnicas em que as melhoras sejam mais eficazes.
A busca por melhoras de longo prazo e sustentáveis tem aumentado muito a procura por tratamentos não medicamentosos. Como o TDAH não pode ser curado definitivamente é preciso conseguir formas de tratamento que tornem o manejo de longo prazo dos sintomas o menos custoso possível. Tanto o neurofeedback como o Brain Fitness se baseiam em processos de treinamento e aprendizagem; dessa forma, seus ganhos se mantêm por um período de tempo bem maior que a medicação. Neste caso, algumas medicações têm efeito apenas durante o período em que estão em ação, ou seja, entre 4 e 8 horas. Treinar o cérebro com neurofeedback ajuda a resolver a raiz do problema sem medicamentos, o que é crucial para a saúde do paciente.
Por quanto tempo é preciso fazer o tratamento com neurofeedback?
O neurofeedback é um tratamento que demanda dedicação e disciplina por ser um protocolo bem intensivo. O recomendável são entre 30 e 40 sessões. Não é possível fazer uma definição prévia sobre a quantidade de tempo total, pois varia muito de pessoa para pessoa e da gravide do quadro. Entretanto é um tratamento que garante efeitos duradouros.
Indicações:
• Transtorno do déficit de atenção (TDA e TDAH);
• Transtorno do estresse pós-traumático (TEPT);
• Ansiedade;
• Depressão;
• Dificuldades de concentração;
• Dificuldades de memória;
• Distúrbios de aprendizagem;
• Enxaqueca;
• Estresse;
• Fibromialgia;
• Hiperatividade;
• Insônia;
• Síndrome do pânico;
• Transtornos alimentares;
• Otimização da performance mental;
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