Autoria: Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva.
* Dra Ana Beatriz Barbosa Silva (Médica Psiquiatra, CRM/RJ 5253226/7)
Na criança com transtorno do déficit de atenção (TDAH), mais conhecido como hiperatividade, três sintomas principais se tornam características marcantes: a distração, a impulsividade e a hiperatividade. O que a princípio seriam características comuns em crianças “normais”, como a agitação, a correria, a falta de atenção em atividades prolongadas, principalmente as que não despertam o seu interesse, na criança com TDAH são mais intensas, frequentes e constantes. Sendo assim, a observação se torno o principal instrumento de avaliação de um médico, psicólogo ou outro profissional habilitado.
Como tudo nessa criança parece estar “a mais”, mais agitada, mais bagunceira, mais impulsiva, mais dispersa, podemos imaginar o quanto é desgastante o convívio com a família que, por falta de informação sobre o que é o TDAH, costuma rotular tal criança de mal-educada, insuportável e até mesmo má. É comum ela ouvir sobre o quanto ela é má, que “papai do céu” irá castigá-la, de que no futuro será uma pessoa desagradável e impopular e outros comentários do tipo “se você morrer hoje ninguém irá ao seu enterro”. Como realmente ela tem dificuldade de controlar seus impulsos, envolvendo-se em confusões e desentendimentos com a família e com as outras crianças, acaba acreditando no que lhe dizem, preocupando-se com os castigos divinos. Ouve diariamente uma quantidade de “nãos”, “pára”, “sai daqui”, “fica quieto”, com uma frequência muito maior que as outras crianças, gerando um sentimento de que há algo de errado com ela e de que é um estorvo.
É comum crianças com TDAH expressarem seu sofrimento e sentimento de rejeição dizendo que irão se matar, que irão fugir de casa ou que são infelizes. Muitas vezes ocorre dessa criança ocupar o lugar de bode expiatório da família e o tratamento com resultados positivos acarreta em uma ameaça ao sistema familiar, que encontrou o seu ponto de equilíbrio nessa criança problemática.
Na escola, algumas características que estavam em estado de latência no meio familiar surgem, aumentando suas dificuldades e revelando a sua potencialidade problemática. O aspecto hiperativo e/ou desatento agora se torna mais evidente. A criança é solicitada a cumprir metas e a seguir rotinas, executar tarefas e ser recompensada ou punida de acordo com a eficiência com que são cumpridas. A família não está presente para ajudá-la a se organizar ou cumprir as tarefas para facilitar as coisas para ela. Agora ela não pode correr a todo o momento, como também não pode ficar imóvel e precisa se adequar ao ritmo compatível com as demais crianças, com quem agora convive diariamente. As direções, tempos e ritmos serão determinados pelo professor, orientado por objetivos diferentes de seus pais. O professor que desconhece o problema pode pensar que ela é rebelde ou até irresponsável, o que gera um clima de embate entre ambos e os coleguinhas da escola. O desempenho escolar dessa criança é marcado pela instabilidade e mais uma vez surge um sentimento de inadequação, o que só agrava o problema e aumenta o rombo em sua autoestima.
Sendo assim, é crucial a importância de informação e conhecimento sobre o assunto de todos os envolvidos, a fim de melhorar a convivência e estimular bons comportamentos nas crianças com TDAH, tanto por parte da família quanto da escola, o que contribui para bons resultados no tratamento.
Orientar pais e professores sobre o que é o transtorno do déficit de atenção e como lidar com as crianças que apresentam o problema, também se torna tarefa imprescindível dos profissionais que estão implicados com o cuidado de tais pacientes, contribuindo para o desenvolvimento de suas aptidões, revelando talentos escondidos e despertando valores inatos.