SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar registrou alta no Brasil e no exterior nesta terça-feira (5) num cenário de aversão ao risco global, após dados econômicos decepcionantes na China e na Europa. A moeda americana subiu 0,83% frente ao real, terminando o dia cotada a R$ 4,975.
Já a Bolsa brasileira teve uma sessão volátil. O Ibovespa começou o dia em queda puxado justamente pelo pessimismo no exterior, mas chegou a operar no positivo apoiado pela alta do petróleo, que atingiu seu maior valor em dez meses.
O índice não conseguiu, porém, sustentar os ganhos, e firmou queda no fim da tarde, fechando a sessão em baixa de 0,37%, aos 117.331 pontos.
Uma pesquisa do setor privado mostrou nesta terça-feira (5) que a atividade de serviços na China registrou em agosto seu ritmo de crescimento mais lento em oito meses, sinalizando que a economia do país continua a ser afetada por uma fraca demanda.
Já na zona do euro, o declínio na atividade empresarial acelerou no mês passado com mais rapidez do que se pensava inicialmente, com o setor de serviços em contração, de acordo com pesquisa separada.
Nesse cenário, a moeda americana avançou em todo o mundo. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras moedas fortes, subiu 0,55% nesta tarde, refletindo também os ganhos dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano, que ocorreu justamente pelos temores sobre desaceleração da economia mundial.
Os índices de ações americanos também foram pressionados pelo movimento de aversão ao risco global, e o Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq registraram queda de 0,56%, 0,42% e 0,08%, respectivamente.
No Brasil, porém, o pessimismo foi parcialmente revertido, e o Ibovespa chegou a registrar leve alta no início da tarde apoiado pela subida do petróleo no exterior. O preço do petróleo Brent subiu cerca de 2% nesta terça e atingiu seu maior nível desde novembro do ano passado, sendo negociado num patamar acima de US$ 90.
A alta do produto reflete uma decisão da Arábia Saudita e da Rússia de realizar um corte mais profundo de oferta do petróleo.
Nesse cenário, as ações da Petrobras, segunda maior empresa da Bolsa brasileira, registraram forte alta. Os papéis preferenciais da petroleira subiram 3,22%, enquanto os ordinários avançaram 4,60%, e ambos ficaram entre os mais negociados da sessão, reduzindo as perdas do Ibovespa.
Na ponta negativa, as ações da Vale registraram queda de 0,41%, impactadas pelos temores sobre a China, e pressionaram o índice, fazendo o Ibovespa voltar ao terreno negativo.
“Apesar da alta da Petrobras, o avanço do petróleo é negativo nos mercados globais, dado que um aumento de preço sinaliza mais inflação e, por consequência, mais juros dos bancos centrais. Isso está fazendo com que os títulos americanos subam”, diz Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos.
Seguindo os títulos americanos, os juros futuros no Brasil também registraram alta e pesaram sobre os negócios. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 foram de 10,60% para 10,61%, enquanto os para 2027 foram de 10,37% para 10,49%.
O avanço das curvas futuras pressionou empresas menores e mais ligadas à economia doméstica da Bolsa brasileira, as chamadas “small caps”, em setores como varejo, aéreo e educação.
A Via, dona da Casas Bahia, registrou o maior recuo do dia, caindo 7,14%. A companhia anunciou nesta terça uma oferta primária subsequente de ações, com expectativa de levantar cerca de R$ 1 bilhão que serão usados para melhorar a estrutura de capital da empresa.
CVC, Azul e Gol também ficaram entre as maiores quedas da sessão, com tombos de 5,81%, 5,06% e 4,97%, respectivamente. O índice que reúne as “small caps”, por sua vez, teve queda de 1,23%.
Na cena local, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a produção industrial brasileira caiu 0,6% em julho, numa perda maior que a esperada pelo mercado, o que reforçou o clima negativo nos negócios brasileiros.
“Os desafios para o setor industrial seguem inalterados, com uma conjuntura econômica desafiadora no ano, especialmente no que diz respeito à perspectiva de menor fôlego da demanda por bens (o que mantém os estoques elevados) e manutenção dos juros elevados (maior custo do crédito e endividamento)”, afirma João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital.
Além disso, a falta de catalisadores na agenda doméstica também contribuiu para a queda do Ibovespa, que acabou sendo mais influenciado por fatores externos, como aponta Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas.
“Os avanços mais significativos na agenda do Congresso e da equipe econômica ainda estão travadas, à espera da reforma ministerial. Nesse ambiente, o tom dos mercados globais parece ter um pouco mais de relevância”, diz Ashikawa.