SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Realmente parece um pouco uma seita.” Foi o que disse para minha irmã na primeira vez que fomos juntas a uma aula de spinning.
Na rede social X (ex-Twitter), o que não falta são comentários brincando com a ideia. “Hoje vou entrar para a seita do spinning, meus amigos”, escreve um usuário. “O duro é que o spinning é uma seita mesmo né, não vejo a hora de ir de novo”, comenta outro. Há ainda quem compare o exercício a outras atividades, como o crossfit.
A ideia difundida é que, após ir em apenas uma aula, o praticante pode ser “convertido” e se tornar um frequentador assíduo das aulas.
O exercício, feito em grupo, consiste em sessões de ciclismo em bicicletas ergométricas. A música alta e a iluminação baixa e colorida, porém, acaba sempre fazendo parte do pacote. O ambiente, projetado para ser estimulante, é o chamariz da prática.
“Acho que isso tudo acaba criando um aspecto lúdico na aula de spinning, e tira aquela parte maçante de você ficar correndo na esteira, sozinho, sem nenhum contexto”, diz o personal trainer Yuri Motoyama.
Embora popular nas redes sociais, e se proliferando pelas ruas de São Paulo, as aulas de spinning, não são uma novidade.
“Em meados dos anos 2000, começou a se investir muito em aulas alternativas que pudessem trabalhar a parte aeróbia. Então as academias já tinham esteiras e eles usaram como alternativa fazer o spinning”, diz ele.
Não é possível saber exatamente quando a prática surgiu, mas estudos que avaliam características e impactos das aulas de ciclismo indoor são feitos desde o início dos anos 2000.
Um misto de luzes, música, incentivos dos professores e um grupo forma as aulas das principais academia de São Paulo.
Segundo Shane Young, fundador da Velocity, a franquia foi criada após observar o sucesso da prática no exterior.
“Após muitas tentativas e erros, idas e vindas aos Estados Unidos para entender melhor a essência das aulas e da febre da bike que acontecia por lá, além de muita troca e treinamento com os melhores professores do mercado, chegamos ao conceito que temos hoje”, relata o neozelandês, que se mudou para o Brasil em 2010.
De acordo com Young, o sucesso também é resultado da conexão entre os alunos durante as práticas, além de estratégias de incentivo. “São várias as histórias de alunos que se conheceram durante as aulas e hoje formaram grupos de amigos inseparáveis, até casais que iniciaram relacionamentos”, diz.
A preferência pelo exercício na bicicleta ergométrica também é um dos motivos, uma vez que pode ser mais confortável do que correr ou levantar peso, por exemplo.
No caso do publicitário André Sinkos, 35, a dificuldade para manter a constância em academia tradicionais foi um dos motivos para arriscar uma aula de spinning. Ele procurava uma atividade aeróbica para complementar a prática musculação quando um estúdio de ciclismo indoor abriu perto de sua casa.
Apesar de certa hesitação inicial, Sinkos se interessou e aderiu ao exercício.
“O que me encantou muito é que, mesmo sendo uma atividade coletiva, é uma atividade de performance individual”, pondera. “Tem tudo isso de ter uma orientação guiada em grupo, mas o professor não vai forçar você a, girar mais rápido, a colocar muito mais força. Ele vai te orientando e você faz, conforme você vai se sentindo confortável.”
Para o publicitário, as aulas oferecem o nível ideal de competitividade e estímulo por fornecerem, após a prática, um ranking em que apenas o usuário sabe sua posição em relação ao restante do grupo. “Eu me sinto muito acolhido fazendo uma atividade física e com pessoas ali que também estão passando às vezes pelas mesmas dificuldades, pelos mesmos momentos que eu”, diz.