SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sonia Gomes criou um clima para a instalação que apresenta a partir deste sábado (2), na Pinacoteca Luz. A artista escureceu o átrio do museu paulistano, geralmente muito claro devido à iluminação natural, para ressaltar os pendentes que ali instalou, acoplados numa espécie de teto de lona que barra a entrada da luz.
São 34 grandes fios suspensos em diversas alturas, cordões grossos nos quais foram costurados pedaços de tecidos de roupas, enxovais, toalhas e panos de bandeja, todos bastante coloridos. Os pendentes são iluminados por holofotes, direcionados de modo a criar uma luz dramática no ambiente.
“A proposta era uma luz barroca, porque eu sou barroca, sou mineira”, diz a artista, entre risos, enquanto acompanha no museu os acertos finais da montagem da exposição. Para esta instalação, ela conta ter escolhido muitos retalhos com apliques brilhosos, que se destacam com a iluminação, e também pedaços de crochês, para reforçar a ideia de trabalho manual.
Natural de Caetanópolis, no interior de Minas Gerais, a artista de 75 anos ganhou projeção nas duas últimas décadas com suas esculturas abstratas feitas com os tecidos que ela recebe no ateliê. Suas peças não são expostas em bases ou pedestais -elas ficam no chão, convidando o espectador a analisá-las de todos os lados, ou então vão presas à parede ou são suspensas.
O trabalho de corte e costura da artista conquistou museus e galerias e lhe trouxe reconhecimento internacional. Em 2015, Gomes foi convidada a exibir na Bienal de Veneza, uma das exposições mais importantes do mundo -e a primeira bienal da qual participou.
Desde então, fez outras exposições de relevância, como uma no Museu de Arte de São Paulo, o Masp, em 2018, e outra na poderosa Pace Gallery, em Nova York. Este ano, Gomes é um dos destaques da Bienal de São Paulo, onde mostra dezenas de peças, conjunto que compõe um panorama de sua carreira.
Intitulada “Sinfonia das Cores”, a instalação na Pinacoteca é inédita e foi feita sob encomenda do museu para seu átrio, um espaço conhecido como octógono. A obra, uma versão maior de pendentes expostos pela artista no Masp e no Museu da República, em Brasília, levou cerca de um ano para ficar pronta, numa empreitada que envolveu Gomes e seus assistentes.
Enquanto costura, a artista conta que ouve música africana e Cartola. “Geralmente é o trabalho que escolhe a música para ele deslanchar”, ela diz. Com isso em mente, fazia sentido pensar numa trilha sonora para a nova exposição. Gomes conheceu por acaso, um dia ao ligar a televisão, o violonista Plínio Fernandes.
Depois, entrou em contato com o músico e disse a ele que procurava “uma música reflexiva e silenciosa” para o trabalho. Os dois escolheram uma interpretação de Fernandes para o “Prelúdio Nº 4”, de Heitor Villa-Lobos, composição que combina com a instalação por ter momentos de pausa entre as melodias, segundo a artista.
Entre uma conversa e outra com a equipe do museu, Gomes era filmada para um documentário sobre seu trabalho. O filme registra as montagens de suas mostras dentro e fora do Brasil e sua rotina de produção no ateliê, além de compilar entrevistas com amigos, curadores e colecionadores.
“O trabalho da Sônia tira o artesanato do lugar de popular e o coloca no lugar da arte contemporânea”, diz o cineasta Pedro Marques, um dos diretores do filme. A outra diretora é Fernanda Brenner, fundadora do espaço Pivô, em São Paulo.
Marques está gravando a vida da artista há cerca de um ano, e a ideia é seguir com a captação de material até o meio de 2024, com vistas a finalizar o documentário em outubro e lançar no circuito de festivais em 2025. O projeto todo chama “Um Filme para Sonia Gomes”, mas o filme em si ainda não tem título nem data de estreia para o público.
SONIA GOMES: SINFONIA DAS CORES
Quando De sábado (2) a 28 de janeiro de 2024; de quarta à segunda, das 10h às 18h
Onde Pinacoteca Luz – praça da Luz, 2, São Paulo
Preço R$ 30; grátis aos sábados