SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Realizado fora das datas usuais, durante o inverno do Hemisfério Sul, os Jogos Pan-Americanos de Santiago, este ano, de 20 de outubro a 5 de novembro, foram programados para ocorrerem em meio à temporada dos principais torneios interclubes da Europa. E isso está virando dor de cabeça para a montagem de seleções brasileiras —e também dos adversários— em modalidades coletivas.

Assim como o futebol tem as “datas Fifa”, janelas em que as seleções se reúnem e os clubes têm obrigação de liberar seus atletas, o calendário internacional do basquete, do vôlei e do handebol também prevê essas pausas. E só a do handebol masculino vai coincidir com o Pan. No feminino, o Brasil muito provavelmente terá desfalques em busca do ouro pan-americano e da vaga olímpica.

“Tem no regulamento da Federação Internacional que, por ser qualificatória olímpica, o clube é obrigado a liberar. Só que a gente sabe que tem um porém nisso. O clube não vai se opor oficialmente, mas pode conversar com atleta, expor situações”, diz Álvaro Casagrande, diretor de seleções da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb).

No handebol feminino a situação é complexa, porque o torneio coincide com uma rodada da Champions League. O Brasil tem seis atletas no torneio mais importante do calendário internacional, e duas delas são goleiras: Gabi Moreschi, do Bietigheim (Alemanha), e Babi, do Krim Mercator (Eslovênia).

Como a posição não permite improvisações, e no handebol é padrão que duas goleiras se revezem durante o jogo, é provável que nenhuma das duas jogue o Pan. A Federação Internacional de Handebol (IHF) até pune o clube que não liberar sua jogadora com a impossibilidade de escalá-la durante as mesmas datas, mas a CBHb entende que isso atrapalharia a carreira das atletas, e não pretende acionar esse tipo de mecanismo.

Nos últimos dias, a IHF e a Coscabal, que é a confederação de handebol das Américas do Sul e Central, passaram a usar esse tipo de ameaça para pressionar os clubes, principalmente da Espanha, onde joga a maioria das atletas não só do Brasil, mas de toda a América Latina. Os espanhóis aceitaram flexibilizar, adaptando a tabela do campeonato local.

No masculino, todos terão força máxima, mas ninguém vai treinar. Se no feminino a “data IHF” mundial cai 15 dias antes do Pan, o que vai permitir à seleção brasileira treinar por uma semana em Portugal, entre os homens a janela é bem no Pan.

Os jogadores atuam sábado na Europa, viajam domingo, e chegam a Santiago para jogar o Pan/Pré-Olímpico na segunda. No caso da seleção brasileira, o último camping de treino foi em julho. O sorteio das chaves acontece nesta sexta-feira (1º)

SEM FORÇA MÁXIMA

No vôlei, o problema foi identificado cedo pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), que montou o planejamento para 2023 já descartando a utilização, no Pan, de jogadores que atuam na Europa. “Teremos equipes mais fortes do que estamos acostumados a levar para o Pan, mas não vão os times principais. Tanto no masculino quanto no feminino foram montados elencos alternativos, mais jovens, que estão treinando especialmente para ir ao Pan”, explica Ney Wilson, diretor de Esporte do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Procurada, a CBV não se posicionou.

Já a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) não teve essa percepção e enviou uma lista larga, uma pré-inscrição obrigatória, com diversos atletas que atuam em clubes europeus, que não são obrigados a liberá-los no meio da temporada. Alertada pelo COB, a confederação atualizou essa lista, agora sim com alternativas viáveis.

No masculino, só Lucas Dias, entre os 12 jogadores que estão no Mundial, joga no NBB. A liga terá jogos durante o Pan, mas a tendência é que os clubes brasileiros liberem seus convocados, que formariam uma seleção ‘B” ou “C”.

Já no feminino o cenário é mais incerto. A temporada brasileira terminou ontem, com a final da LBF, e a partir de agora as melhores do país partem para a Europa. A seleção que vai ao Pan deve ser formada por quem continuar no Brasil, servindo de preparação para o Pré-Olímpico do ano que vem. A CBB foi procurada pela reportagem e disse apenas que “sempre buscará ter os melhores jogadores disponíveis”.

Há também potencial de dor de cabeça no polo aquático, outra modalidade coletiva que tem no Pan um torneio pré-olímpico. Mas o único desfalque do Brasil deverá ser Iza Chiappini, exatamente o principal nome da seleção feminina, que fechou com um clube francês e já avisou que não vai a Santiago. “O que a confederação nos passou é que, no caso dela, é uma escolha pessoal, não é um bloqueio do clube”, explica Ney Wilson.

O COB conta com força máxima nas demais modalidades, exceto o futebol. A CBF tem programada para hoje uma reunião em que deve ser definida uma pré-lista de convocados para a seleção masculina, só com jogadores que atuam no Brasil. O torneio é sub-22 e a ideia é utilizá-lo para observar potenciais convocáveis para o Pré-Olímpico. Já no feminino o Brasil não vai participar.