SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira registrou forte queda de 1,52% e fechou aos 115.741 pontos nesta quinta-feira (31) ainda pressionada pela deterioração do cenário fiscal, enquanto investidores aguardavam a apresentação do projeto de Orçamento de 2024. Dúvidas sobre o cumprimento da meta de déficit zero, prevista no novo arcabouço fiscal, continuam pesando sobre os negócios brasileiros.

O mercado repercute, ainda, a aprovação do projeto que prorroga a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores por mais quatro anos na Câmara e a retomada do voto de desempate no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) no Senado.

Já o dólar registrou forte alta após a divulgação de dados de inflação ainda fortes nos Estados Unidos, em sessão também influenciada por fatores técnicos. O cenário fiscal no Brasil também pressionou as negociações da divisa, que terminou o dia cotada a R$ 4,949, com valorização de 1,65%.

As discussões sobre o projeto de Orçamento de 2024 vêm despertando temores no mercado, que vê com ceticismo a decisão do governo de manter a meta de déficit zero para 2024 contando com medidas que ainda não foram aprovadas pelo Congresso.

Na quarta (30), a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que o Orçamento de 2024 prevê aumento de R$ 129 bilhões da despesa primária em relação a este ano e estabelece uma ampliação de R$ 168 bilhões em arrecadação para assegurar a previsão de déficit zero.

Tais detalhes vieram após o Tesouro Nacional reportar que o governo central registrou déficit fiscal primário de R$ 35,9 bilhões em julho, forte deterioração ante o saldo positivo de R$ 18,9 bilhões um ano antes e pior do que as expectativas, o que desagradou a agentes financeiros.

A economista Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest, destaca que a preocupação fiscal foi um dos principais fatores de pressão nos negócios brasileiros do pregão desta quinta.

“Apesar de declarações de [Fernando] Haddad [ministro da Fazenda] e Tebet, o mercado ainda está avesso ao risco. Existe uma preocupação muito grande com o aumento de gastos e o quanto isso pode afetar a economia num prazo mais longo”, afirma Quartaroli.

Os temores aumentaram após a aprovação na Câmara do projeto de lei que prorroga por mais quatro anos a desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia, o que, na visão do superintendente de pesquisa da Ágora, José Cataldo, “significa menos recursos e a manutenção do ambiente fiscal desafiador”.

Uma vitória para o governo, porém, foi a aprovação no Senado do projeto de lei que restabelece o chamado voto de desempate no Carf, uma das principais medidas de Haddad para elevar a arrecadação e reequilibrar as contas públicas. O PL agora segue para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Nesse cenário, o Ibovespa teve queda significativa puxada por baixas do setor financeiro, com Itaú e Bradesco registrando perdas de 0,86% e 1,38%, respectivamente, e figurando entre as mais negociadas da sessão. Queda de 2,08% das ações da Petrobras também pressionou o índice.

Na ponta positiva, a Vale foi a única entre as mais negociadas a operar em alta, com suas ações subindo 0,15% em dia de valorização do minério de ferro no exterior.

Com as preocupações fiscais no radar, os juros futuros no Brasil registraram forte alta nesta quinta. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 subiram de 10,44% para 10,55%, enquanto os para 2027 foram de 9,98% para 10,16%, pressionando ainda mais o desempenho de ativos brasileiros.

No câmbio, o dólar avançou sobre várias divisas globalmente após a divulgação de dados de inflação nos Estados Unidos.

A inflação medida pelo índice de preços PCE, acompanhado de perto pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano), ficou em 0,2% no mês passado, repetindo a taxa mensal vista em junho. Nos 12 meses até julho, o PCE aumentou 3,3%, depois de avançar 3,0% em junho.

Apesar da leve aceleração dos dados na base anual, o diretor de operações da FB Capital, Fernando Bergallo, explicou que a leitura de inflação dos EUA ainda veio em linha com o esperado. Ele mantém visão de que “os juros por lá não devem subir mais”, ressaltando que a aposta de um “pouso suave” da economia norte-americana está ganhando terreno entre os analistas.

Juros mais altos nos EUA tendem a impulsionar o dólar ao tornar os retornos do mercado de renda fixa norte-americano mais atraentes, enquanto a perspectiva de uma postura monetária mais branda por lá costuma beneficiar moedas rivais do dólar, principalmente as de países com taxas mais altas, que oferecem maior rentabilidade.

No Brasil, o dólar ainda é pressionado por fatores técnicos pela formação da taxa Ptax, que ocorre no último dia útil do mês.

A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar.

Nos EUA, a maioria dos índices acionários fecharam em queda justamente por conta dos dados de inflação do início do dia, com o Dow Jones e o S&P 500 caindo 0,48% e 0,16%, respectivamente. O índice de tecnologia Nasdaq, no entanto, teve alta de 0,11%.