SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em alta frente ao real nos primeiros negócios desta quinta-feira (31), acompanhando a força da divisa norte-americana no exterior antes de importantes dados de inflação dos Estados Unidos, que podem balizar a trajetória de política monetária do Federal Reserve.
Às 9h11, a moeda americana à vista avançava 0,19%, sendo vendida a R$ 4,87. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,27%, a R$ 4,88.
O foco do mercado local, porém, segue na apresentação do projeto de Orçamento de 2024, que será apresentado nesta quinta. O texto tem gerado dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir sua meta de déficit zero em 2024, já que depende de medidas ainda não aprovadas pelo Congresso para atingir o objetivo.
A pauta fiscal pressionou os negócios no país na quarta (3), quando a Bolsa brasileira caiu e voltou ao patamar dos 117 mil pontos, e o dólar registrou alta ante o real após a divulgação de dados que mostraram desaceleração da economia dos Estados Unidos.
A formação da taxa Ptax, que ocorre no último dia útil do ano, também pressionou a moeda americana no Brasil.
Nesse cenário, o Ibovespa caiu 0,73%, aos 117.535 pontos, enquanto o dólar subiu 0,33%, terminando o dia cotado a R$ 4,869.
O principal gargalo sobre o plano orçamentário é a meta de déficit primário do ano que vem. O ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou na terça (29) que o Orçamento será enviado com meta de déficit zero, como proposto originalmente pelo arcabouço fiscal, e a ministra Simone Tebet (Planejamento) confirmou o número nesta quarta.
A meta, porém, é vista com ceticismo pelo mercado e até por membros do governo, já que não há certeza sobre as fontes de arrecadação para atingir esse objetivo. Como antecipou a Folha, a proposta de Orçamento de 2024 terá previsão de R$ 168 bilhões em receitas extras, mas a partir de medidas que ainda precisam de aprovação no Congresso Nacional.
“Ainda há um descasamento do fechamento de receita com despesa, a gente ainda não sabe de onde vai vir a receita para cobrir o novo arcabouço fiscal. Isso tem causado estresse na Bolsa”, diz Gabriel Meira, sócio da Valor Investimentos.
Além disso, o Tesouro Nacional informou nesta quarta que o governo central registrou déficit primário de R$ 35,933 bilhões em julho, ante um saldo positivo de R$ 18,949 bilhões no mesmo mês do ano passado, com as contas impactadas por uma forte alta dos gastos públicos.
O resultado foi o segundo pior para o mês na série histórica corrigida pela inflação do Tesouro, iniciada em 1997, melhor apenas que o rombo de R$ 109,6 bilhões registrado em julho de 2020, quando o gasto do governo estava fortemente impactado pelo enfrentamento da pandemia de Covid-19.
Assim, mesmo com otimismo no exterior, o Ibovespa registrou queda, numa sessão de correção após forte alta registrada na terça (29). O índice foi pressionado por recuos de Itaú (2,02%) e Bradesco (2,38%), que ficaram entre as mais negociadas da sessão, e perdas de Via (7,69%%), Alpargatas (5,49%) e IRB Brasil (5,28%), que lideraram os tombos do pregão.
Na ponta positiva, a Petrobras teve alta de 0,67%, enquanto a Vale permaneceu estável. A líder de ganhos, no entanto, foi a CVC, registrando alta de 16,23% em reação ao pedido de recuperação judicial da 123milhas.
Analistas enxergam a crise na companhia como oportunidade de crescimento de vendas para a CVC no curto prazo, já que ambas disputam concorrência como plataformas de turismo.
“Com o pedido de recuperação judicial da 123milhas, o mercado entende que parte da participação de mercado da companhia irá para a CVC. Com o mercado receoso em relação às empresas que negociam milhas e passagens aéreas, a CVC, que é uma empresa mais tradicional de venda de pacotes de viagens, pode ser beneficiada”, afirma Leandro Petrokas, diretor de pesquisa e sócio da Quantzed
Nos mercados futuros, os juros mais longos registraram alta, após oscilarem em baixa durante a maior parte da sessão, com investidores reagindo negativamente à divulgação de detalhes do Orçamento para 2024 e ao déficit primário pior que o esperado em julho.
Os contratos com vencimento em janeiro de 2027 saíram de 10,11% para 10,21%, enquanto os para 2029 foram de 10,57% para 10,69%.