Brasília (DF) 30/05/2023 O presidente Lula, durante Fotografia oficial dos Presidentes dos países da América do Sul. No palácio do Itamaraty. Foto Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil

RICARDO DELLA COLETTA E RENATO MACHADO

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Os países que abandonaram a Unasul vetaram qualquer menção ao órgão no comunicado conjunto da reunião de líderes sul-americanos realizada pelo presidente Lula (PT), nesta terça-feira (30), em Brasília.

O movimento foi liderado por países como Uruguai, Paraguai e Chile, que têm defendido uma retomada da integração na América do Sul sem a influência de ideologias e focada em pilares pragmáticos.

Lula, por sua vez, fez uma defesa enfática do organismo em seu discurso de abertura da cúpula, mas destacou não querer impor o formato que a integração regional deve tomar. O texto original que o Brasil circulou entre os 11 governos presentes fazia menção à Unasul, termo que precisou ser retirado para que uma redação de consenso pudesse ser aprovada. As negociações prosseguiram durante toda a terça.

Além de Lula, estiveram na reunião no Itamaraty os presidentes Alberto Fernández (Argentina), Luís Arce (Bolívia), Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Guillermo Lasso (Equador), Irfaan Ali (Guiana), Mário Abdo Benítez (Paraguai), Chan Santokhi (Suriname) e Luis Lacalle Pou (Uruguai), além do ditador Nicolás Maduro (Venezuela). O Peru foi representado pelo presidente do chefe do Conselho de Ministros, Alberto Otárola, uma vez que a presidente Dina Boluarte está legalmente impedida de deixar o país.

O comunicado negociado tem apenas nove parágrafos, num formato enxuto que reflete as dificuldades de os governos da América do Sul construírem consensos em diversos temas. O principal avanço é a criação de um grupo de trabalho liderado pelos ministros de Relações Exteriores, com o objetivo de avaliar as “experiências dos mecanismos sul-americanos de integração e a elaboração de um mapa do caminho para a integração da América do Sul, a ser submetido à consideração dos chefes de Estado”.

No comunicado, os líderes também acordaram prover “iniciativas de cooperação sul-americana, com um enfoque social e de gênero, em áreas que dizem respeito às necessidades imediatas dos cidadãos”. São citadas como prioridades as áreas de saúde, segurança alimentar, sistemas alimentares baseados na agricultura tradicional, ambiente, recursos hídricos, desastres naturais e infraestrutura, entre outros.

A posição dos contrários à volta da Unasul também provocou outras modificações no documento.

Foi retirado, por exemplo, um item que estabelecia 120 dias para que o grupo de trabalho apresentasse a rota proposta para a retomada da integração. Lula queria ainda que esse fórum fosse composto por indicados dos presidentes. O Uruguai, porém, defendeu a atuação de chanceleres –um ponto que, segundo negociadores, ressalta o desejo dos uruguaios que o grupo seja menos político e mais técnico.

Como a Folha de S.Paulo mostrou, negociadores brasileiros começaram a sentir resistências dos vizinhos tão logo Lula anunciou a pretensão de convocar uma reunião com líderes da região. Os países que se desligaram do bloco avaliam que há espaço para aprofundar a integração em temas específicos, como saúde, infraestrutura e combate ao crime organizado, mas afirmam ser necessário corrigir erros do passado.

Essas opiniões foram manifestadas publicamente nesta terça. Lacalle Pou, por exemplo, pediu um “basta de instituições”. “Chega de instituições, basta de instituições. Vamos ao tema da Unasul, vamos colocar o nome das coisas. Quando assumimos o governo, saímos da Unasul. Em seguida chegou o convite para ingressar no Prosul [bloco de direita lançado em 2019], e dissemos não. Ou então não deixamos de ser clubes ideológicos que têm vida apenas enquanto há coincidência de ideologias”, afirmou.

O chanceler do Chile, Alberto van Klaveren, disse que seu país e outros participantes defenderam um “mecanismo mais amplo”. “Há países que estão muito comprometidos com a Unasul e outros que, na verdade, estamos patrocinando um mecanismo mais amplo. Acredito haver uma convergência de posições. O Chile defendeu a necessidade de um fórum de concertação de países sul-americanos. Concertação política, algo no ânimo e no espírito do restante dos governantes nessa cúpula.”