Da Redação

A cegueira infantil continua sendo um problema de grandes proporções em todo o mundo. Estimativas da Organização Mundial da Saúde indicam que cerca de 1,4 milhão de crianças vivem sem visão, principalmente em países em desenvolvimento ou em situação de extrema pobreza. Todos os anos, aproximadamente 500 mil novos casos são registrados. Apesar da gravidade do cenário, a maior parte dessas ocorrências poderia ser evitada ou tratada com diagnóstico precoce e acompanhamento adequado.

Os prejuízos causados pela perda visual na infância vão além da limitação sensorial. A dificuldade para enxergar interfere diretamente no desenvolvimento cognitivo, motor e social da criança, comprometendo a aprendizagem e a autonomia ao longo da vida. Por isso, ações preventivas e identificação rápida de problemas oculares são decisivas para garantir mais qualidade de vida e inclusão.

Segundo a oftalmologista Cejanna Câmara, do Hospital Totum Saúde e do CEROF-UFG, doenças comuns em países de baixa e média renda continuam sendo responsáveis por perdas visuais evitáveis. Entre elas estão catarata congênita, glaucoma congênito, retinopatia da prematuridade, infecções oculares, deficiências nutricionais como a falta de vitamina A e erros refracionais não corrigidos.

A especialista destaca que o cuidado com a visão deve começar ainda nos primeiros dias de vida. O teste do reflexo vermelho, conhecido como teste do olhinho, é fundamental logo após o nascimento, pois permite identificar alterações graves precocemente. Quanto mais cedo o problema é detectado, maiores são as chances de preservar a visão da criança.

Embora o teste do olhinho esteja amplamente disseminado no Brasil, o acompanhamento oftalmológico contínuo ainda é pouco valorizado quando o exame inicial não aponta alterações. Para a médica, consultas regulares e campanhas educativas ao longo do ano, aliadas ao encaminhamento rápido ao especialista, são estratégias essenciais para evitar perdas visuais que poderiam ser prevenidas.

Outro ponto de atenção crescente é o aumento da miopia entre crianças e adolescentes. Estudos apontam que, até 2050, cerca de 40% da população mundial poderá ser míope, número que pode se aproximar de 50% em cenários de maior exposição a fatores de risco. O uso excessivo de telas é um dos principais agravantes desse quadro.

Cejanna Câmara alerta que a exposição prolongada a celulares, tablets e outros dispositivos digitais tem sido associada a sintomas como fadiga ocular, olhos secos, dor de cabeça, sensibilidade à luz e dificuldade de foco. Embora as telas não causem, por si só, doenças estruturais nos olhos, o uso inadequado, sem pausas e com pouca exposição à luz natural, prejudica o desenvolvimento visual e contribui para o avanço da miopia.

Para preservar a saúde ocular das crianças, a oftalmologista defende um conjunto de ações que inclui o fortalecimento da atenção primária, programas de triagem desde o nascimento, acesso rápido ao tratamento especializado, capacitação de profissionais de saúde e educação contínua de famílias e comunidades.

Pais e responsáveis também devem ficar atentos a sinais do dia a dia, como falta de contato visual, sensibilidade excessiva à luz, desvio dos olhos, dificuldade para acompanhar objetos em movimento ou aproximação exagerada do rosto de telas e brinquedos. Esses comportamentos podem indicar alterações visuais que exigem avaliação médica.

A médica ressalta que algumas doenças oculares não apresentam sintomas evidentes. Problemas como ambliopia e erros refrativos podem evoluir silenciosamente, sem causar dor ou desconforto, o que reforça a importância do acompanhamento oftalmológico periódico.

Entre os principais sinais de alerta estão estrabismo, dificuldade para enxergar de longe ou de perto, cerrar os olhos, inclinar a cabeça com frequência, lacrimejamento constante, olhos vermelhos persistentes e dores de cabeça recorrentes. No ambiente escolar, queda no rendimento, desatenção e dificuldade para copiar conteúdos do quadro também podem estar relacionados a problemas de visão.

Nos bebês, a ausência de contato visual, a dificuldade em acompanhar objetos e alterações no reflexo pupilar, como o aparecimento de uma mancha branca no olho, são sinais que merecem atenção imediata. O diagnóstico precoce, segundo a especialista, é a chave para evitar que problemas tratáveis se transformem em limitações permanentes.