Da Redação

O ano de 2026 promete alterar de forma significativa o caminho de quem está prestes a se aposentar. O avanço gradual das regras de transição da Reforma da Previdência torna os critérios mais rigorosos, muda a forma de cálculo e pode reduzir o valor do benefício para quem não se planejar corretamente. Diante disso, especialistas reforçam que se aposentar deixou de ser um procedimento automático e passou a exigir análise técnica e planejamento individualizado.

Tradicionalmente, o fim de ano é marcado por balanços pessoais e projeções de futuro. No entanto, para quem depende do INSS, esse momento ganhou maior complexidade. Um pedido feito no tempo errado ou com base na regra inadequada pode gerar perdas financeiras permanentes, afetando toda a renda ao longo da aposentadoria.

De acordo com o advogado Humberto Tommasi, sócio fundador do escritório Ozon e Tommasi Advogados, o planejamento previdenciário hoje é essencial. Segundo ele, as regras de transição mudam ano a ano e interferem diretamente no cálculo do benefício. Em alguns casos, aguardar poucos meses pode representar um aumento significativo no valor mensal, enquanto antecipar o pedido pode causar prejuízos irreversíveis. Para Tommasi, decisões intuitivas não têm mais espaço nesse cenário.

O especialista ressalta que não existe uma fórmula única. Cada trabalhador tem um histórico contributivo diferente, o que exige análise individual, simulações detalhadas e estudo cuidadoso do cadastro no INSS. A escolha da regra precisa ser técnica e baseada em números, não apenas na ansiedade de se aposentar.

A complexidade do sistema também explica o crescimento na busca por revisões e planejamentos previdenciários. Outro fator preocupante é o alto índice de pedidos negados. Segundo Tommasi, muitos indeferimentos ocorrem por falhas simples, como informações incorretas no CNIS ou falta de documentos, problemas que poderiam ser evitados com uma avaliação prévia adequada.

O advogado previdenciário Marcus Vinicios Cardoso destaca que a principal pergunta de quem está próximo da aposentadoria não deve ser apenas quando se aposentar, mas de que forma fazê-lo. Para ele, a decisão é estratégica e o ponto central deve ser o valor do benefício ao longo dos anos, não apenas a data de início do pagamento.

Cardoso explica que algumas regras, como a de pontos, tendem a beneficiar quem teve uma carreira contributiva longa e salários mais estáveis, pois permitem escapar de idades mínimas mais rígidas e alcançar coeficientes melhores. Já a aposentadoria por idade com tempo mínimo pode ser mais vantajosa para quem já atingiu a idade exigida, mas não soma pontuação suficiente. Com o endurecimento das regras em 2026, comparar cenários será indispensável.

Outro alerta importante é que, na maioria dos casos, a aposentadoria é irreversível. Hoje não há possibilidade de desaposentação, o que significa que um erro no pedido pode gerar perdas mensais pelo resto da vida. Por isso, a análise individual permite corrigir vínculos, ajustar salários, escolher a regra mais vantajosa e até planejar contribuições futuras para melhorar o resultado final.

Antes de protocolar o pedido, Cardoso recomenda um checklist básico, que inclui a conferência detalhada do CNIS, correção de vínculos não registrados, revisão dos salários de contribuição, análise de todas as regras disponíveis, simulações de valores e verificação de períodos especiais, rurais ou concomitantes. Ignorar essas etapas aumenta consideravelmente o risco de prejuízo.

Entre os erros mais frequentes que levam à negativa do benefício estão dados cadastrais incorretos, contribuições abaixo do valor mínimo, registros equivocados de vínculos simultâneos e escolha inadequada da regra. Segundo o advogado, a atuação preventiva reduz drasticamente as negativas e evita disputas judiciais desnecessárias.

Para quem planeja se aposentar em 2026, esperar pode ser uma boa estratégia, mas não em todos os casos. Há situações em que alguns meses a mais de contribuição elevam o benefício em valores expressivos, enquanto em outras o adiamento não compensa. Por isso, a decisão precisa ser baseada em cálculos jurídicos e financeiros.

As contribuições realizadas após a Reforma também merecem atenção especial. Todas as contribuições desde julho de 1995 entram na média, inclusive as mais baixas. Quem teve períodos intermitentes ou longos intervalos sem contribuir pode ver o valor final cair de forma significativa. Em alguns casos, complementar contribuições ou revisar salários antigos muda completamente o cenário.

Carreiras mistas exigem cuidado redobrado. Segundo Cardoso, são justamente essas trajetórias que mais sofrem com erros do INSS. Revisar contribuições concomitantes, validar períodos especiais e manter documentos organizados, como carteira de trabalho, carnês, PPPs e recibos, é fundamental.

A expectativa é de que 2026 concentre um dos maiores volumes de pedidos de aposentadoria dos últimos anos. O recado dos especialistas é claro. A aposentadoria deve ser tratada como um projeto financeiro de longo prazo. Quem planeja, escolhe melhor e recebe mais. Quem deixa para depois, muitas vezes percebe o erro quando já não há mais como corrigir.