Da Redação

Com a possibilidade de disputar a Presidência da República pela quarta vez, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já articula um discurso voltado à consolidação de sua liderança eleitoral. A estratégia passa pela defesa de pautas com forte apelo popular e pela tentativa de se antecipar a um eventual adversário da direita, que hoje tem o senador Flávio Bolsonaro (PL-SP) como principal nome no campo oposicionista.

Apontado como o segundo mais bem colocado nas pesquisas de intenção de voto, Flávio Bolsonaro tem buscado construir uma imagem própria, distante do estilo do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O senador tem reforçado um tom considerado mais moderado, numa tentativa de atrair eleitores que se afastaram do bolsonarismo tradicional, mas ainda resistem ao retorno do PT ao poder.

Enquanto isso, Lula mantém a dianteira nos levantamentos eleitorais e trabalha para sustentar esse desempenho com propostas que dialogam diretamente com a população. Entre os principais destaques estão a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais e a defesa da redução da jornada de trabalho no regime 6×1, sem corte de salários.

A proposta de mudança no Imposto de Renda é considerada a maior reformulação da tabela nos últimos anos. Atualmente, estão isentos apenas os contribuintes com renda de até R$ 2.824. Com a nova regra, a faixa de isenção mais que dobraria, alcançando cerca de 90% dos declarantes. Especialistas avaliam que a medida pode representar um avanço em termos de justiça tributária, desde que acompanhada de ajustes estruturais.

Segundo a economista e doutora em Políticas Públicas Adriana Pereira, a iniciativa é viável, mas exige contrapartidas. Para ela, a isenção precisa vir acompanhada de uma reforma que aumente a contribuição dos mais ricos, garantindo equilíbrio fiscal e redução das desigualdades.

Na área da segurança pública, o discurso do presidente tem enfatizado o fortalecimento da Polícia Federal no combate ao crime organizado. No entanto, os principais projetos do governo sobre o tema, como a PEC da Segurança Pública e o projeto de lei de enfrentamento às facções criminosas, ainda enfrentam entraves no Congresso Nacional. Ambas as propostas sofreram alterações significativas e resistências da oposição, o que atrasou sua tramitação.

Mesmo diante das dificuldades legislativas, Lula voltou ao tema em pronunciamento nacional na véspera do Natal. Na ocasião, afirmou que o combate às facções criminosas avançou para níveis mais elevados e reforçou o apelo pelo enfrentamento à violência contra a mulher, defendendo maior mobilização da sociedade.

No campo internacional, o presidente também tem explorado a reaproximação com os Estados Unidos. A negociação com Donald Trump para a retirada de tarifas sobre produtos brasileiros tem sido apresentada como um êxito diplomático, com reflexos positivos na avaliação do governo. Ainda assim, aliados do Planalto avaliam que esse cenário pode mudar caso Trump decida apoiar abertamente um candidato da direita brasileira em 2026.

Analistas observam que um eventual endosso do ex-presidente norte-americano teria mais peso simbólico do que prático, sinalizando afinidade ideológica, mas sem impacto direto decisivo no eleitorado brasileiro. Ainda assim, o movimento é acompanhado de perto pelo governo, que busca manter sua vantagem no cenário pré-eleitoral.

Até agora, a combinação entre agenda social, propostas econômicas de impacto direto no bolso do eleitor e articulação internacional tem sido o principal pilar do discurso de Lula para sustentar sua posição como favorito na corrida presidencial.