Da Redação

O registro de um novo caso de raiva bovina em Turvelândia, confirmado pela Agrodefesa no último dia 6 de dezembro, aumentou a preocupação entre produtores e autoridades sanitárias. O diagnóstico veio acompanhado de outros dez animais sob suspeita, levantando um sinal de alerta especialmente porque a doença, além de fatal para bovinos, é transmissível a seres humanos.

Para Marcelo Penha, médico-veterinário e analista do Ifag, os registros recentes mostram que o vírus permanece ativo em diferentes regiões do estado. Ele lembra que áreas como Turvelândia, Carmo do Rio Verde e Silvânia possuem colônias do morcego hematófago Desmodus rotundus, principal transmissor da doença. Os animais investigados apresentaram os sinais clássicos da infecção, como perda de coordenação, salivação excessiva e paralisia progressiva, que invariavelmente resultam em morte.

A confirmação do caso ocorreu após análise laboratorial de um bovino que apresentou sintomas neurológicos e morreu rapidamente. No entanto, segundo a Agrodefesa, o atraso na notificação impediu que outras nove mortes anteriores fossem examinadas, o que reforça a importância da comunicação imediata por parte dos produtores. O órgão lembra que notificar suspeitas não gera penalidades.

Especialistas apontam que fatores ambientais podem estar influenciando o aumento dos registros. A seca tende a dispersar morcegos em busca de alimento, enquanto o início do período chuvoso altera o comportamento das colônias. Outro ponto crítico é a queda na vacinação: embora a imunização contra a raiva tenha deixado de ser obrigatória em 2025, ela segue altamente recomendada em regiões com histórico da doença.

Até agora, Goiás contabiliza 38 focos confirmados entre 62 investigações realizadas neste ano. Embora os números não representem grande impacto econômico frente ao tamanho da pecuária goiana, a doença segue como ameaça importante, especialmente pelo risco à saúde humana.

Os impactos para o setor vão além da perda dos animais infectados. Em cada foco confirmado, propriedades vizinhas em um raio de 12 quilômetros precisam realizar vacinação emergencial. Isso implica aumento de custos, interrupções no manejo e necessidade de reforço sanitário. O protocolo inclui coleta de amostras, imunização obrigatória e monitoramento de abrigos de morcegos.

Tanto o Ifag quanto a Agrodefesa reforçam a importância do uso de equipamentos de proteção no manejo de animais com sintomas neurológicos. A saliva é o principal veículo de transmissão do vírus, e qualquer contato exige cuidado imediato. Em caso de exposição, a orientação é procurar atendimento de saúde e relatar a situação para receber profilaxia adequada.

A recomendação central permanece a mesma: manter vacinação preventiva, monitorar possíveis abrigos de morcegos, comunicar suspeitas o quanto antes e observar atentamente qualquer alteração no comportamento dos animais. Como resume Marcelo Penha, “a raiva é uma doença rápida, silenciosa e devastadora — a única defesa é agir antes dela”.