SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Empresas que fazem gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU) e possuem aterros sanitários em território brasileiro devem investir R$ 8,5 bilhões nos próximos quatro anos em novos projetos para a instalação de usinas de produção de biometano em território nacional, de acordo com a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema).

O Brasil tem hoje nove usinas de produção de biometano a partir de resíduos de aterros sanitários e outros 15 projetos estão em processo de autorização pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) em várias regiões do país.

O investimento foi impulsionado pela aprovação, em 2024, da lei do combustível do futuro (14.993/2024), que criou incentivos concretos para a substituição de combustíveis fósseis por alternativas renováveis e sustentáveis. A lei exige a substituição anual, por dez anos, de 1% do consumo de gás natural de origem fóssil por gás renovável.

“Criou-se um mercado para o biometano que incentiva a descarbonização da economia, e isso é um divisor de águas para nós”, diz Pedro Maranhão, presidente da Abrema, entidade que congrega empresas do setor.

O biometano é considerado uma energia limpa e pode substituir o gás natural, de origem fóssil, e ser misturado a ele para todas as suas aplicações, tais como abastecimento de veículos e de processos industriais, uso residencial e até insumo para cogeração de energia elétrica.

“Estamos orientando e incentivando as empresas do setor a fazerem a transição de usinas de biogás para energia elétrica para usinas de produção de biometano”, completa.

O biogás é produzido a partir da captura do metano emitido pela decomposição da matéria orgânica dos resíduos sólidos urbanos (RSU) em aterros sanitários. Este biogás passa por um processo de purificação que gera o biometano.

O Brasil é um dos maiores emissores de metano do mundo, um gás de efeito estufa com potencial de aquecimento 80 vezes maior do que o dióxido de carbono (CO2). Sua captura e conversão em biometano, portanto, é uma ferramenta importante de descarbonização da economia tanto na origem (metano como matéria-prima) como no resultado (substituição de gás de origem fóssil).

Em 2024, o país produziu 81,5 milhões de metros cúbicos de biometano, volume 8,9% superior ao registrado em 2023, segundo o Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis 2025.

Segundo Maranhão, a capacidade instalada de produção de biometano (cerca de 600 mil metros cúbicos por dia) equivale hoje ao abastecimento de 250 mil carros a cada 15 dias ou 1,2 milhão de botijões de gás por mês. “Em Fortaleza, por exemplo, 25% do gás já têm origem em aterros sanitários”, afirma ele.

Em 2024, o Brasil produziu 81,6 milhões de toneladas de RSU, e apenas 2,6 milhões de toneladas, ou 3,2% do total gerado, foram usadas para produção do biometano, de acordo com o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil 2025.

De acordo como o relatório do setor, com o melhor aproveitamento da estrutura já existente, o Brasil teria capacidade para suprir cerca de 5% da atual demanda nacional por gás natural, hoje estimada em 58,4 milhões de m³/dia pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

“O potencial do setor é enorme”, defende Maranhão. “Os dados mostram o quanto o Brasil ainda tem espaço para aumentar a geração de energia sustentável. Cada aterro sanitário é como um poço de petróleo verde e ecológico, com quantidades inesgotáveis para geração do que já é chamado como combustível do futuro. O Brasil pode ser para a geração de energia sustentável o que a Arábia Saudita é hoje para o combustível fóssil.”

No total, segundo o Panorama, 11,7% dos RSU produzidos no Brasil em 2024 foram reaproveitados para geração de insumos energéticos, seja para a geração de energia (8,06%), para a produção de biometano (3,2%), produção de combustível derivado de resíduos, chamado CDR (0,05%) ou reciclagem orgânica (0,35%).

Segundo ele, esta é a agenda “do século 21” do setor de resíduos, mas ela convive com uma “agenda medieval” persistente que mantém cerca de 3 mil lixões em atividade no país.

A Abrema informa estar atuando em parceria com o Ministério Público e o Tribunal de Contas de cada município para pressionar prefeituras que ainda enviam seus resíduos para lixões a encerrá-los e a destinarem esses materiais para aterros sanitários.

De acordo com o Panorama, se todas as cidades com mais de 320 mil habitantes destinarem seus resíduos para aterros sanitários com planta de biometano, seria possível obter uma produção diária de 2,86 milhões de m3 por dia, volume 525,45% superior à capacidade autorizada atual.