SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A facilidade com que criminosos entraram e saíram da biblioteca municipal Mário de Andrade, de onde roubaram 13 gravuras, mostra que a Prefeitura de São Paulo subestimou riscos em torno da exposição que ocorria no local com obras do francês Henri Matisse e do brasileiro Candido Portinari.
A avaliação é do consultor em segurança Alan Fernandes, conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, para quem a gestão Ricardo Nunes (MDB) não considerou o valor real das produções. Procurada, a administração municipal não respondeu até a publicação desta reportagem.
O caso ocorreu na manhã deste domingo (7). Uma dupla de criminosos invadiu o local, rendeu uma segurança que estava desarmada e levou as obras –oito de Matisse e cinco de Portinari.
A SSP (Secretaria de Segurança Pública), por sua vez, anunciou na tarde desta segunda-feira (8) ter prendido um dos suspeitos. O segundo ainda não foi identificado, e nenhuma das obras foi recuperada até o momento.
“A dinâmica do roubo mostra uma fragilidade muito grande na segurança do espaço”, afirma Fernandes.
Ao render a segurança que estava no local, a dupla a levou até uma sala e a obrigou a entregar o rádio de comunicação e o celular. Enquanto isso, o segundo suspeito retirou os quadros da parede. Não houve vítimas nem relatos de tiros disparados.
Leiloeiros estimam que o valor total das produções atinja R$ 4,5 milhões, mas que isso não significa que os autores do crime conseguirão revendê-las a esse custo.
Segundo a Secretaria de Cultura e Economia Criativa, todas as obras possuem apólice de seguro.
O conjunto fazia parte do acervo municipal e integrava a exposição “Do Livro ao Museu: MAM São Paulo e a Biblioteca Mário de Andrade”, encerrada no próprio domingo. O caso é investigado pela 1ª Cerco (Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas).
A rapidez da ação sugere que o crime se deu sob encomenda, afirma o pesquisador Tadeu Chiarelli, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP (ECA-USP).
“Temos um problema muito grande no que diz respeito à venda dessas obras, sobretudo com relação às de Matisse. É um conjunto raro, no qual todo mundo vai ficar de olho”, afirma Chiarelli.
Por isso mesmo, segundo ele, “é difícil até de a pessoa colocar na sala de casa”.
A negociação das produções possui obstáculos mesmo em ambientes mais nichados, diz o pesquisador, “a não ser que tenhamos um colecionador maluco por aí”.
Para ele, o principal impasse está na recuperação dessas obras. “O rastreamento delas é o mais complicado. Como são obras pequenas, podem passar incólumes dentro de pastas em malas de aeroportos, sem que sejam detectadas pelos scanners”, diz.
Daí a necessidade de se acionar a Interpol (Polícia Internacional), o que a gestão Nunes afirmou ter feito ainda no domingo, e ao mesmo tempo garantir que a Polícia Federal reforce a fiscalização em aeroportos.
Curadora de arte com trabalhos em São Paulo, Miami e Genebra, a consultora Bianca Cutait afirma que há outros mecanismos que exposições adotam para reforçar proteção contra o furto e roubo de obras de arte.
“A maioria dos museus tem alarme em todas as produções, e nas obras de valor mais alto eles estão grudados e acoplados a sensores”, diz. A Prefeitura de São Paulo não respondeu se havia algo do gênero na exposição.
Além de alarmes e sensores, o próprio ambiente onde obras estão expostas costuma ser mais resistente, afirma Cutait. “Muitas têm proteção como acrílico antifurto, antirroubo. Essas coisas de maior valor exigem proteção extra”, afirma.



