SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em queda nesta segunda-feira (8), com o mercado ainda atento ao cenário eleitoral no Brasil.

O movimento desta sessão é de ajustes, após o anúncio da candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência em 2026 gerar forte volatilidade para os ativos domésticos na sexta-feira. Ao longo do fim de semana, porém, o filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro sinalizou que poderá desistir da campanha por um “preço”.

Às 11h36, a moeda norte-americana caía 0,47%, a R$ 5,408, em recuperação após a disparada de mais de 2% de sexta-feira. Já a Bolsa avançava 0,63%, a 158.361 pontos, também retomando parte do terreno depois de tombar mais de 4% na sessão anterior.

Dois dias após anunciar que iria concorrer à Presidência, o senador Flávio Bolsonaro admitiu no domingo que pode desistir, mas disse que, para isso, haverá um “preço”.

“Olha, tem uma possibilidade de eu não ir até o fim. Eu tenho preço para isso. Eu vou negociar. Eu tenho um preço para não ir até o fim”, disse após participar de um culto evangélico em Brasília.

O preço, segundo afirmou à TV Record, é a “justiça”. Ele só desistirá da candidatura à Presidência se o ex-presidente Jair “Bolsonaro estiver livre, nas urnas”, e também condicionou a decisão à anistia aos condenados por atos golpistas de 6 de janeiro de 2023.

A sinalização de que ele poderá não ser candidato abre espaço para a interpretação de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), segue como um nome possível para a direita nas eleições.

O tombo dos ativos domésticos na sexta ocorreu justamente pela percepção de que, com o apoio de Bolsonaro a Flávio, uma eventual candidatura de Tarcísio, nome favorito da Faria Lima para a disputa, perderia força.

“Sob a ótica do mercado, Tarcísio é o candidato mais forte para bater de frente com Lula (PT) na eleição. Se Flávio é o candidato de Bolsonaro, Tarcísio não tem o apoio do ex-presidente e será um nome que dividirá a direita. Foi o mercado precificando a chance de uma reeleição de Lula”, afirma Daniel Teles, especialista e sócio da Valor Investimentos.

A possibilidade de um novo mandato do petista levou os investidores a imbutir nos preços dos ativos os riscos vinculados à política fiscal do governo, vista como expansionista por uma parcela do mercado.

O movimento de sexta-feira, na visão de Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, também teve fundamentos na valorização acumulada do real e da Bolsa brasileira nos últimos dias.

“Essas altas consecutivas da Bolsa e do real criaram um ambiente um pouco mais sensível, no qual investidores vendem ativos com mais facilidade para evitar a volatilidade. É normal que, antes de conseguir digerir o noticiário político, o mercado entre em um fluxo vendedor mais forte.”

Houve, ainda, um movimento tradicional de distribuição de dividendos no mês de dezembro que também pesa no dólar, segundo analistas. De acordo com Teles, ao longo de todo o mês há saída de dólares relacionada a essas distribuições. Isso pressiona a moeda porque parte dos recursos é enviada ao exterior.

A política monetária também segue no foco dos investidores, em especial a decisão de juros do Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) na quarta-feira.

As apostas estão concentradas em uma nova redução de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros americana nesta semana, com probabilidade de 89,6%. Os 10,4% restantes veem como mais provável uma manutenção do atual patamar de 3,75% e 4%.

O Banco Central brasileiro também decide sobre a taxa Selic nos mesmos dias que o Fed. Aqui, a previsão é que os juros encerrem o ano parados em 15%, mas o Copom deve flexibilizar o discurso e abrir espaço para queda da Selic em 2026.

Enquanto a manutenção da taxa no atual patamar é a projeção unânime dos agentes econômicos para a decisão da próxima quarta-feira (10), as apostas para o início do ciclo de cortes de juros estão divididas entre janeiro e março do próximo ano.

No mercado de câmbio, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, melhor para o real, e o inverso também vale.

Quando a taxa por lá cai -como ocorreu nas últimas reuniões do Fed- e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de “carry trade”.

Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.