SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O CNU 2025 (Concurso Nacional Unificado), cuja segunda fase foi aplicada no domingo (7), buscou um candidato com perfil de servidor mais generalista e com capacidade de se adaptar no longo prazo, afirmam especialistas em seleção para o setor público.

Segundo João Victor Guedes-Neto, professor do FGV Ebape (Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas), o propósito do CNU é recrutar pessoas para servir ao Estado durante décadas, e a ideia não é tanto escolher profissionais bons para exercer uma função instantaneamente, mas, sim, pessoas com capacidade de se adaptar e que consigam dar respostas rápidas a problemas conforme surgem.

A ideia é que o Estado já tem um bom corpo técnico e vai se comprometer a formar esses novos servidores internamente. “O mundo do setor público mudou, as políticas são mais intersetoriais, os desafios são mais voláteis e queremos servidores que permaneçam no Estado por décadas, e isso demanda adaptabilidade” afirma.

Segundo ele, a prova buscou aferir o conhecimento técnico dos candidatos, mas ao mesmo tempo a capacidade de reação deles a situações novas.

Ele deu um exemplo de uma questão que, ao mesmo tempo, exigia o conhecimento técnico, mas também forçava o candidato a pensar em uma circunstância nova: o enunciado pedia para descrever tipos de emenda parlamentar e o papel das OSCs (organizações da sociedade civil) e, então, elaborar uma estratégia de captação para uma OSC que considerasse os problemas de coordenação entre Executivo (na figura do Ministério de Igualdade Racial), Legislativo e terceiro setor.

Outra discutia comunicação digital por memes, riscos éticos e institucionais, e pedia uma estratégia para comunicar um tema sensível para jovens.

Guedes-Neto afirma que ainda é cedo para tirar alguma conclusão sobre a estratégia que o CNU deste ano usou para aumentar o percentual de mulheres convocadas para a segunda fase.

Para ele, por enquanto só é possível afirmar que houve uma sinalização institucional, mas ainda é cedo para dizer se, na prática, a política funcionou.

Júlia Branco, professora do Estratégia Concursos, afirma que as perguntas que exigiam exemplos, soluções e caminhos para solucionar problemas apareceram em muitos blocos, o que mostra a preferência da banca.

Segundo ela, não eram necessariamente questões difíceis em termos de conteúdo, mas exigiam um elevado nível de capacidade reflexiva, argumentativa e de articulação de ideias.

“Ficou muito clara a intenção de selecionar candidatos com compreensão ampla sobre o funcionamento dos serviços públicos, sobre os processos de implementação de políticas públicas e sobre o uso adequado de recursos públicos para correção de desigualdades históricas”, diz.

POUCAS LINHAS

Eduardo Cambuy, professor do Gran Concursos, diz que o governo está mais preocupado em selecionar um perfil de candidato e não buscar aquele que tem competências técnicas específicas.

Ele afirma considerar, no entanto, que a prova buscava sempre misturar elementos de diferentes eixos do conteúdo e que, algumas vezes, uma só pergunta abordava um número excessivo de temas.

Segundo o professor, no edital dos blocos 1 ao 7 havia a previsão de serem cobradas somente questões objetivas, mas na hora da prova algumas perguntas exigiam respostas argumentativas, ou seja, para que o candidato defendesse um ponto de vista.

Nos blocos para candidatos a vagas que exigem nível superior, cada prova teve duas questões; no exame para nível médio, era uma dissertação argumentativa.

Cambuy diz ainda que os enunciados exigiam respostas que abordavam muitos itens, e que o espaço para responder, de até 30 linhas, era curto. “O texto vai ficar raso e superficial. Se a banca for criteriosa na correção, vai dar nota baixa para todos, porque não dá para atender todos os itens. Ou vai relaxar a nota.”