SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – “O Agente Secreto” recebeu três indicações ao Globo de Ouro: melhor filme, melhor filme em língua não-inglesa e melhor ator em filme de drama, com Wagner Moura. O longa aborda uma lenda recifense que tira o sono de crianças da capital pernambucana: a perna cabeluda.
O QUE É A LENDA DA “PERNA CABELUDA”?
A lenda foi disseminada nos anos 1970 por uma coluna do Diário de Pernambuco. O jornalista Raimundo Carrero escreveu sobre a história em sua coluna de romance policial após encontrar um rapaz ensanguentado nas escadarias do jornal: “Ele disse que foi a perna cabeluda. Eu disse: ‘O que é isso?'”, contou Raimundo em entrevista ao UOL.
“A partir da crônica, a perna ganhou uma dimensão incrível. As pessoas que se machucavam, ou que por algum motivo se envolviam em brigas, bebedeiras ou confusões, vinham procurá-lo dizendo que apanharam da perna cabeluda”, disse Raimundo Carrero.
Na história, uma perna cabeluda ataca pessoas com chutes e rasteiras. A criatura assombraria as ruas da cidade, principalmente à noite.
Uma pessoa fora agredida, levara três pernadas no pescoço, uma na barriga; sangrando, fora socorrida por populares e estava, agora, no Hospital da Restauração. Trecho do romance policial publicado em 1º de fevereiro de 1976
Na época, existia uma forte censura aos jornais imposta pela ditadura militar e, com o espaço limitado para notícias, o jornal aproveitou para divulgar ainda mais a perna cabeluda. “Como as pessoas não podiam falar em política ou movimentos sociais, era mais fácil trabalhar com o imaginário”, explicou Raimundo.
“A perna representava socialmente as mentes conservadoras querendo punir os mais jovens. Foi a época em que os movimentos de contracultura invadiram o país. Havia todos aqueles cabeludos, roqueiros e mocinhas de minissaia”, disse Raimundo Carrero para a revista Piauí.



