SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – O cenário de insegurança em Salvador, com disputas por territórios entre facções criminosas nos bairros da periferia, fez com que os grêmios estudantis de colégios estaduais suspendessem temporariamente suas atividades presenciais.
A medida foi adotada na última semana pela Associação dos Grêmios Estudantis de Salvador (AGES), entidade que representa grêmios de ao menos 25 escolas, após integrantes de uma chapa vencedora em um processo eleitoral interno terem sido ameaçados na saída do colégio.
Ao menos uma estudante foi agredida nas proximidades da escola, cujo nome não foi divulgado pelas entidades por razões de segurança. Líderes estudantis dizem que os agressores eram pessoas de fora da comunidade escolar.
“Uma das chapas, ao constatar que perdeu a eleição, acionou integrantes deste poder paralelo na comunidade e repetiram-se cenas de barbárie, violência e perseguições”, disse em nota conjunta a Associação dos Grêmios Estudantis de Salvador e a União Estadual dos e das Estudantes.
Outros jovens teriam sido perseguidos e precisaram se esconder até a chegada da ronda escolar, que não encontrou os suspeitos.
O governo da Bahia trata o caso como uma disputa entre estudantes, sem relações com facções criminosas. Em nota, a secretaria de Educação da Bahia disse que as eleições para grêmios ocorreram dentro da normalidade e a segurança das escolas não foi afetada por qualquer tipo de ocorrência.
“Desentendimentos pontuais, comuns em processos democráticos, foram solucionados sem maiores problemas e sem causar prejuízo para a manutenção das atividades letivas”, informou a secretaria.
A Secretaria da Segurança Pública determinou à Polícia Civil a investigação célere da denúncia, com a coleta dos depoimentos das vítimas, análises de mensagens nas redes sociais e busca por imagens de câmeras de segurança.
Procurado, o Ministério Público do Estado da Bahia informou que não recebeu denúncias sobre ameaças a estudantes.
As associações classificaram a decisão de suspender as atividades como “dolorosa e extrema” e alegam um cenário de agravamento da insegurança dentro e fora das escolas da capital baiana.
Líderes estudantis relatam que episódios semelhantes ocorreram em diferentes colégios da periferia de Salvador, onde brigas internas frequentemente resultam em ameaças externas.
As chapas nas eleições estudantis, antes identificadas por números, passaram a usar letras. O objetivo é evitar pressões de facções como o Comando Vermelho e o Bonde do Maluco, cujos membros são associados a determinados números.
“A atuação dos grêmios estudantis está sendo comprometida por interferências externas e disputas de poderes paralelos, que se infiltram nos territórios, nos corredores escolares e nas relações comunitárias”, disseram as entidades que representam os grêmios.
Os estudantes ainda cobraram políticas públicas que ofereçam oportunidades de estudo, trabalho e proteção social aos jovens negros da periferia, com presença efetiva do poder público: “A sociedade não pode aceitar que a única porta aberta para essa juventude seja a porta do crime e da violência. ”
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública destacou que trabalha de forma integrada com a Secretaria de Educação, promovendo ações de conscientização e também visitas diárias nas unidades de ensino por meio do Batalhão Ronda Escolar.
A secretaria ainda diz que as forças de segurança da Bahia seguem combatendo as facções por meio de um policiamento orientado pela inteligência. E destacou que informações sobre grupos criminosos podem ser compartilhadas, com total sigilo, pelo disque-denúncia.



