SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A brasileira Bruna Ferreira, detida pela agência de imigração dos Estados Unidos e ex-cunhada da secretária de imprensa do governo de Donald Trump, Karoline Leavitt, rejeita a versão da Casa Branca sobre sua detenção e seu histórico no país, em entrevista ao jornal americano The Washington Post.
Ferreira está atualmente em centro de detenção no estado de Louisiana. O pai de seu filho de 11 anos é Michael Levitt, irmão de Karoline, e mora em New Hampshire. “Pedi a Karoline para ser a madrinha do meu filho, no lugar da minha única irmã. Cometi um erro ao confiar neles. Não consigo imaginar por que estão criando essa narrativa”, afirma ela ao jornal americano.
Ela foi presa em 12 de novembro pelo ICE (Serviço de Imigração e Alfândega), reforçado pela gestão atual. Bruna é acusada de estar ilegalmente no país, mas ela defende estar sob proteção do Daca, um programa criado pela gestão Obama para regularizar o status de permanência daqueles que chegaram quando eram crianças ao país.
Desde a detenção, a Casa Branca chegou a descrever Bruna como uma criminosa e diz que ela é uma mãe ausente na vida do filho, do ex-companheiro e de Karoline, que está entre as mais firmes defensoras da campanha do presidente republicano para deportar milhões de pessoas. O governo afirma ainda que Bruna e Karoline não conversam há anos e que a brasileira nunca morou com o próprio filho.
A versão da brasileira, no entanto, é bastante diferente. Na entrevista ao Washington Post, ela mostrou fotos de família, registros do tribunal e seu perfil nas redes sociais. Ela afirmou que, um dia, considerou Karoline como sua irmã.
Ela relatou ao jornal que conheceu Michael Leavitt em uma festa. Eles se apaixonaram, ficaram noivos e tiveram um filho enquanto viviam em New Hampshire, mas a relação teria se desgastado e terminado antes de casarem, em 2011. Desde então, eles dividem as obrigações com o filho, de acordo com o relato de Bruna e com documentos judiciais.
A brasileira disse se sentir ofendida com o que foi dito sobre ela pela Casa Branca e pelo Departamento de Segurança Interna (DHS), que coordena o ICE. Ela afirma que seu filho é parte da família Leavitt e que vê a família do ex-companheiro com frequência.
Ela considera absurda a declaração de que não convive com o menino. De acordo com o depoimento, antes da prisão, ela geria dois negócios de limpeza e vestuário, além de levar o filho à escola, ir a jogos escolares, dar presentes e procurar dar ao filho “tudo o que um jovem precisa”, segundo disse ao jornal americano.
A detenção da brasileira repercutiu nos Estados Unidos, e houve questionamentos sobre os motivos que podem ter colocado Bruna na mira do ICE e do DHS. Os advogados dela afirmam que há vídeos indicando que agentes estavam em busca especificamente dela quando a prenderam.
A brasileira enfrenta um processo que pode culminar na sua deportação para o Brasil, embora viva nos EUA desde 1998, quando tinha 6 anos de idade.
O advogado dela, Todd Pomerleau, afirma que ela não tem histórico criminal. Segundo ele, o DHS se refere a um incidente em 2008 para chamá-la de criminosa. Na ocasião, ela foi convocada pelo tribunal que julga infrações de menores de idade depois de uma briga com outra garota do lado de fora de uma loja da Dunkin’ Donuts por causa de US$ 8 dólares, aos 16 anos. A brasileira não foi presa na época e o caso foi arquivado.
Michael, o ex-noivo de Bruna, também repercutiu as acusações da Casa Branca de que a brasileira nunca morou com o filho do casal. Contudo, em documentos entregues por ele ao tribunal de New Hampshire em 2015, ele escreve que os dois dividiam o mesmo endereço. Ele não respondeu os questionamentos sobre a discrepância entre as versões.
A legalidade da permanência de Bruna no país foi um ponto de conflito no relacionamento do casal alguma vezes. Depois do término, a brasileira disse à Justiça que ele ameaçava tentar deportá-la. Bruna diz que ele e seu pai, Bob Leavitt, disseram recentemente que ela e sua irmã deveriam se autodeportar e tentar retornar legalmente aos EUA.
Se fizessem isso, elas poderiam ser proibidas de retornar ao país por até 10 anos. “É uma armadilha,” disse Pomerleau.
Nos tribunais, o então ex-casal trocou acusações. Em abril de 2015, o homem tentou conseguir a guarda primária do filho, acusando Bruna de ter empurrado Michael durante uma discussão em uma viagem. Ele disse que ela voltou para casa sem ele e ameaçou voltar para o Brasil com o menino.
Bruna negou as acusações e, em documentos judiciais, acusou Michael de abuso, dizendo que no dia de seu chá de bebê, ele, embriagado, teria a empurrado, dado socos nas paredes e quebrado portas. O advogado de Bruna disse em um processo judicial de maio de 2015 que Michael também “ameaçou contatar a imigração em um esforço para deportá-la.”
Ele nega essas acusações. Na última década, uma série de juízes ordenou que o casal compartilhasse a guarda do filho e resolvesse suas diferenças fora dos tribunais.
Em mensagens de texto ao Washington Post, Michael negou ter tentado deportar Bruna. “Eu não tive nenhum envolvimento na detenção dela pelo ICE. Não tenho controle sobre isso e não tive nenhum envolvimento.”
Ele afirmou ainda que quer que a brasileira tenha acesso ao filho: “Eu quero que meu filho tenha um relacionamento com sua mãe, como sempre demonstrei,” escreveu. Isso, no entanto, seria difícil se ela fosse deportada do país, disseram os advogados de Bruna.
COMO FOI A DETENÇÃO
Em 12 de novembro, Bruna disse que havia deixado seu filho na escola em New Hampshire. Ela foi presa naquela tarde, quando afirmou que estava saindo para buscá-lo.
“Pensar no meu filho me esperando na fila de carros da escola e não ter ninguém para buscá-lo é algo que continuo revivendo na minha cabeça,” disse ela, enxugando as lágrimas durante a entrevista, segundo o jornal americano. “É muito lamentável que as coisas tenham acontecido dessa maneira.”
Ela afirmou que, depois disso, o ICE a transportou “como gado” para Vermont, Filadélfia, Texas e então para a Louisiana, onde passa seus dias cercada por centenas de outras mulheres enfrentando processos de deportação.
Depois que a Telemundo, uma emissora de TV em língua espanhola, transmitiu seu caso, ela disse que as detentas a encheram de perguntas sobre seu relacionamento com Karoline.
“Por que você está aqui? Foi ela quem a colocou aqui?” ela disse que perguntaram, referindo-se à secretária de imprensa da Casa Branca. “Ela não gostava de você?”
“Eu sei tanto quanto vocês,” ela diz que responde.



