RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro denunciou dois policiais do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) à Justiça, nesta sexta-feira (5), sob acusação do homicídio de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 23.
O jovem foi morto no dia 7 de junho, em uma incursão do batalhão no morro Santo Amaro, no Catete, zona sul da capital fluminense. A operação ocorreu em meio a uma festa junina na comunidade.
Os PMs denunciados são o 1º sargento Daniel Sousa da Silva e o 1º tenente Felippe Carlos de Souza Martins. A reportagem não localizou a defesa deles neste sábado (6).
Segundo a denúncia, Daniel efetuou os disparos que causaram a morte da vítima. “As imagens das câmeras operacionais portáteis demonstram que Herus não esboçou qualquer atitude agressiva e tentou se afastar para se proteger, estando de costas no momento em que foi atingido”, diz o MPRJ em nota.
Já o tenente Felippe, comandante da equipe Alfa do Bope, foi denunciado sob suspeita de omissão penalmente relevante. De acordo com o MPRJ, ele decidiu manter a operação mesmo após receber informações de que havia uma festa junina em andamento com grande número de moradores no local, incluindo crianças.
Os dois agentes responderão por homicídio qualificado por motivo fútil e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima.
Segundo a Promotoria, o inquérito policial indicou a existência de legítima defesa por parte do sargento Daniel, mas essa interpretação não encontra respaldo em nenhuma prova técnica.
A denúncia aponta que a análise das imagens, os laudos periciais e os depoimentos colhidos demonstram que não houve qualquer gesto da vítima que indicasse agressão ou ameaça.
A instituição requereu ainda a aplicação de medidas cautelares, incluindo a suspensão integral do exercício das funções dos dois policiais.
A Polícia Civil afirmou, por meio de nota, que a DHC (Delegacia de Homicídios da Capital) concluiu a investigação baseada em critérios técnicos, após diversas diligências, como análise de laudos periciais e de imagens.
A Polícia Militar também disse que instaurou um IPM (Inquérito Policial Militar) para apurar as circunstâncias da morte de Herus. De acordo com a PM, logo após o fato, o comando da corporação afastou do serviço operacional os agentes envolvidos na ação, em uma medida administrativa preventiva.
“Concluídas as investigações, o IPM apontou indícios de crime militar. No dia 18 de agosto de 2025, o inquérito foi remetido ao Ministério Público, junto à Auditoria de Justiça Militar”, disse a PM.
“Vale destacar que a Corregedoria da Corporação colaborou integralmente com todas as investigações realizadas pela Polícia Civil e o Ministério Público”, acrescentou.
A Justiça agora decidirá se aceita a denúncia da Promotoria -o que implicaria na abertura do processo contra os policiais.
Por meio de acordo assinado em outubro, o governo do Rio de Janeiro se comprometeu a pagar indenizações aos familiares e pensão mensal ao filho de Herus, de dois anos, até que ele complete 18 anos –ou 24, caso curse o ensino superior.
O jovem trabalhava como office boy em uma imobiliária e sonhava em ser designer gráfico. Segundo familiares, Herus foi atingido quando saiu para comprar comida e refrigerante para a mãe. Outras cinco pessoas ficaram feridas na ocasião.
Após o episódio, o governador Cláudio Castro (PL) exonerou os coronéis Aristheu de Góes Lopes, comandante do Bope, e André Luiz de Souza Batista, do COE (Comando de Operações Especiais).
Em depoimento, o sargento Daniel disse que foi o único de sua equipe a realizar disparos na ação. Ele declarou que os tiros foram uma resposta a disparos de traficantes. A manifestação do agente contrariou o primeiro posicionamento da PM, que afirmava que os policiais não dispararam naquela noite.



