BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Os advogados da médica Juliana Brasil Santos, investigada pela morte de Benício Xavier, 6, em um hospital de Manaus, afirmam que a adrenalina aplicada no menino após sua chegada ao hospital não teria sido a causa do óbito.
A criança, que deu entrada na instituição com quadro de tosse e suspeita de laringite, teria piorado após receber adrenalina por via venosa, de acordo com os pais.
A Polícia Civil do Amazonas chegou a pedir a prisão da profissional por homicídio com dolo eventual (quando é assumido o risco de matar) baseada na prescrição da médica, mas ela conseguiu na Justiça um habeas corpus que impede a sua detenção.
Os advogados Felipe Braga e Alessandra Vila, responsáveis pela defesa de Juliana, afirmaram que a médica fez a prescrição da adrenalina via nebulização, o mais recomendado nesse caso, mas que o sistema do hospital teria alterado a via de administração de medicamentos.
Eles também disseram que, assim que soube da aplicação via endovenosa, a médica encaminhou o paciente para a sala vermelha do hospital (que atende casos graves no pronto-socorro) e procedeu com o tratamento recomendado.
“Benício não morre no momento da aplicação da medicação. As seis paradas cardíacas [não aconteceram] logo após a administração do medicamento, porque ele permaneceu responsivo, orientado, lúcido. A atuação rápida da doutora Juliana ao fazer a medicação de soro fisiológico, de hidratar o paciente, de colocá-lo em monitoração, foi o suficiente para evitar qualquer tipo de resultado adverso”, afirma o defensor Felipe Braga.
Os advogados afirmam que a piora do menino aconteceu na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), quando Juliana já não era mais responsável pelo paciente. Eles dizem que duas tentativas de intubação na criança foram frustradas até uma terceira, que foi bem-sucedida e aconteceu 40 minutos após a primeira.
“A causa morte, atestada na declaração de óbito, não é intoxicação medicamentosa e, portanto, não foi pela prescrição e pela administração da adrenalina. O resultado morte acontece via declaração de óbito, que foi feita pela médica que estava na UTI naquele momento, como edema agudo no pulmão”, afirma Braga.
Ele afirma que um exame de raio-x solicitado por Juliana e que não teria sido feito pelo hospital no primeiro momento identificou, já na UTI, que a criança apresentava um quadro de pneumonia bilateral.
O delegado Marcelo Martins, à frente das investigações, afirma que todas as hipóteses estão sendo investigadas, mas diz que a responsabilidade criminal de Juliana e da técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva, que administrou o medicamento, já estão demonstradas.
Sobre a suposta falha no sistema do hospital, que teria alterado a via de administração do medicamento, ele diz que uma perícia será feita, mas que cabe à médica revisar a prescrição, cuja dosagem ele considera como letal.
A reportagem tenta desde domingo (30) uma manifestação do hospital Santa Júlia, mas sem sucesso. A unidade de saúde foi procurada novamente nesta sexta-feira (5) à tarde, mas ninguém respondeu. O hospital afastou as duas profissionais que atenderam Benício.
A defesa da técnica de enfermagem não foi localizada. Em entrevista a jornalistas após prestar depoimento na semana passada, ela afirmou que comunicou a médica sobre a piora da criança após a aplicação de adrenalina e que depois retornou à pediatria.
Sobre as mensagens em que a médica admite a um superior do hospital que teria errado a prescrição, a defesa dela as justifica em razão de os fatos terem acontecido de forma rápida.
“Ela falou que poderia ter calculado essa frase para dizer ‘a técnica aplicou a medicação de maneira equivocada’, mas isso só se apurou posteriormente”, disse o defensor.
Os advogados também afirmam que uma técnica mais experiente foi ouvida na delegacia e disse que orientou Raiza para não aplicar a adrenalina via intravenosa, mas que a suspeita teria afirmado que seguiria a prescrição.



