RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Oito pesquisadoras brasileiras ganharam o prêmio Para Mulheres na Ciência, concedido pela L’Oréal do Brasil com a ABC (Academia Brasileira de Ciências) e a Unesco (braço da ONU para Educação, Ciência e Cultura). A cerimônia da premiação ocorreu na noite desta quinta-feira (4), no Palácio da Cidade, no Rio de Janeiro.

Cada uma das laureadas recebe uma bolsa de R$ 50 mil para desenvolver projetos de pesquisa.

Na categoria ciências da vida, foram premiadas Jaqueline Sachett, professora da UEA (Universidade do Estado do Amazonas); Juliana Hipólito, do Instituto Nacional da Mata Atlântica; Sonaira Silva, professora da Ufac (Universidade Federal do Acre); e Luana Rossato, professora da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), em Mato Grosso do Sul.

A categoria de ciências físicas teve como laureada Thaís Azevedo, da USP (Universidade de São Paulo) e a de química, Vanessa do Nascimento, pesquisadora da UFF (Universidade Federal Fluminense), em Niterói.

Na área de matemática, a laureada foi Renata Rojas Guerra, da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), no Rio Grande do Sul. Por fim, a professora Paula Maçaira, da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica), saiu vencedora na categoria ciências da engenharia e tecnologia.

Esta é a 20ª edição do prêmio no Brasil. A iniciativa faz parte de um programa que contempla anualmente mais de 350 jovens cientistas pelo mundo em 110 países por meio das iniciativas regionais e nacionais.

A cerimônia teve a participação de Patricia Bozza, vice-presidente da ABC, Tatiane Roque, secretária municipal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Marcelo Zimet, presidente da L’Oréal no Brasil, e Fábio Eon, coordenador de ciências humanas, sociais e naturais da Unesco no Brasil.

*

CONHEÇA AS VENCEDORAS E SEUS PROJETOS

JACQUELINE SACHETT

Enfermeira, tem mestrado em enfermagem pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e doutorado em doenças tropicais e infecciosas pela UEA na linha de pesquisa sobre animais peçonhentos. É professora da UEA desde 2012.

O projeto dela concentra-se em acidentes com animais peçonhentos, em especial as jararacas (serpentes do gênero Bothrops) em populações indígenas, quilombolas e ribeirinhas.

Ela investiga como o uso de fotobiomodulação (terapia com luz de baixa intensidade) junto com o soro antiofídico pode reduzir infecções e acelerar a recuperação do organismo após a picada. Jacqueline também mapeia as incapacidades físicas e neurológicas decorrentes do envenenamento por serpentes, que podem trazer danos a longo prazo.

JULIANA HIPÓLITO

Professora no Instituto Nacional da Mata Atlântica, é bióloga, com mestrado e doutorado em ecologia e biomonitoramento pela UFBA (Universidade Federal da Bahia). Ela pesquisa a dinâmica entre animais polinizadores e as plantas por meio do uso de técnicas inovadoras, como a coleta do DNA ambiental, capaz de identificar material genético deixado no ambiente por diferentes organismos.

Com um projeto voltado para a bacia do Rio Doce, a docente vai estudar áreas com diferentes tipos de perturbação por atividade humana e sua restauração, permitindo mapear redes de polinização e produzir ferramentas voltadas para a recuperação dos serviços ecossistêmicos e a sua conservação.

LUANA ROSSATO

Concluiu mestrado em ciências farmacêuticas na UFSM e doutorado em fisiopatologia na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.

Ela pesquisa como a exposição a agrotóxicos no Pantanal favorece a resistência a antifúngicos em fungos ambientais capazes de infectar humanos.

Agora, por meio de uma análise do solo, água e vegetação, ela quer examinar material genético em busca de padrões genéticos associados à maior virulência e resistência a medicamentos, tendo em vista a geração de conhecimento que pode facilitar estratégias de vigilância sanitária e monitoramento ambiental em áreas rurais e indígenas.

PAULA MEDINA MAÇAIRA

Graduada em estatística, fez mestrado em engenharia elétrica e doutorado em engenharia de produção na PUC-Rio.

Sua pesquisa busca apontar como o Brasil pode conduzir uma transição energética segura e eficiente.

Por meio de modelos de inteligência artificial e “machine learning”, ela analisa riscos e incertezas envolvidos no descomissionamento de plataformas de petróleo e na substituição de combustíveis fósseis por alternativas sustentáveis.

RENATA ROJAS GUERRA

Economista, tem mestrado em engenharia de produção pela UFSM e doutorado em estatística pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A pesquisa dela concentra-se no desenvolvimento de métodos estatísticos capazes de prever dados que variam dentro de limites fixos –como proporções entre 0% e 100%— e que se modificam ao longo do tempo. Eles são fundamentais para acompanhar, por exemplo, indicadores de ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU.

A partir de imagens de satélite ela pretende monitorar os impactos de queimadas e do desmatamento nos biomas amazônia e cerrado.

SONAIRA SILVA

É engenheira agrônoma e professora da Ufac, campus Floresta, com mestrado em produção vegetal pela mesma instituição e doutorado em ciências de florestas tropicais pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).

Silva estuda soluções para melhorar o monitoramento de queimadas na amazônia, como o uso do fogo para manejo agrícola, mas que, com o avanço do desmatamento, tem levado a incêndios mais intensos e frequentes.

Sua pesquisa vai analisar áreas de queimadas no Acre em uma combinação de sensoriamento remoto (satélite), poluição de ar e inventários florestais para diferenciar queimadas agrícolas de incêndios florestais e compreender seus impactos na floresta, no clima e no uso da terra.

THAIS AZEVEDO

É bacharel em física biológica, com mestrado e doutorado no Instituto de Física da USP. Hoje professora doutora do instituto, ela estuda como a assimetria de membranas celulares influencia o funcionamento das células.

Seu interesse principal é investigar a distribuição do colesterol nas camadas celulares e como alterações estruturais podem estar relacionadas a doenças, como aquelas causadas por vírus e outros parasitas celulares.

VANESSA DO NASCIMENTO

Formada em química industrial pela UFSM, com mestrado e doutorado em química pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ela leciona na UFF e estuda a síntese de compostos funcionalizados com organocalcogênios para aplicação em testes biológicos.

O projeto dela busca desenvolver um novo tratamento para a esporotricose, uma doença fúngica que teve rápido crescimento nos últimos anos no país, com o estado do Rio de Janeiro como principal foco.

Diante da resistência fúngica às terapias atuais, Nascimento pretende investigar a combinação em uma única molécula do itraconazol com a naftoquinona e o selênio na produção de um medicamento de baixo custo, mais eficaz e de baixo impacto ambiental.