SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O projeto de data center do TikTok no Ceará deve render exportações de cerca de R$ 16 bilhões por ano, segundo o executivo do Pátria Investimentos Rodrigo Abreu, que coordenará a construção e operação da unidade. “A conta não é exata, mas é possível usar esse valor como uma média.”

A big tech chinesa confirmou sua participação no negócio na quarta-feira (3). De acordo com Abreu, o governo Lula autorizou a Bytedance, conglomerado que controla o TikTok, a operar cinco unidades iguais a essa, todas localizadas no Porto de Pecém, na região metropolitana de Fortaleza.

Com as cinco unidades planejadas, o total chegará a R$ 80 bilhões por ano, de acordo com o Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços). A operação do complexo está garantida por dez anos, com possibilidade de extensão por mais uma década.

O montante, de acordo com a pasta comandada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, deve ajudar a equilibrar a balança comercial de serviços digitais brasileira, hoje deficitária.

O TikTok anunciou um investimento de R$ 200 bilhões só no primeiro data center, sendo R$ 108 bilhões dedicados à compra de computadores avançados. O complexo de processamento de dados terá capacidade instalada de 200 megawatts (MW) —o que representa consumo energético equivalente ao de 2,1 milhões de brasileiros.

O TikTok ainda estima mais R$ 139 bilhões de investimento para reposição das máquinas no segundo decênio de operação dessa unidade, entre 2036 e 2046, mostra documento do Mdic.

Os outros quatro data centers requerem investimento de R$ 349 bilhões, de acordo com documento do Mdic.

O negócio é uma sociedade entre Bytedance, o conglomerado que controla o TikTok, a Casa dos Ventos e a Omnia, o braço de data centers do Pátria, do qual Abreu é CEO.

Por ter recebido autorização do Mdic para operar em uma ZPE (Zona de Processamento de Exportação), as exportações estarão isentas de impostos. O pagamento dos tributos federais na compra de maquinário também pode ser adiado e anulado, caso se comprove que o equipamento foi usado para exportação.

Ainda assim, as empresas terão de recolher imposto de renda sobre pessoa jurídica e, caso faça remessas ao exterior, Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico).

Será o maior data center individual da América Latina, afirma Abreu. “São dois prédios com mais de 70 mil metros quadrados cada um, em um nível de sofisticação que nos garantirá trabalho por bastante tempo”, afirmou.

O TikTok ainda não divulgou se o data center será usado no desenvolvimento de modelos de inteligência artificial. As unidades do Ceará estarão prontas para trabalhar com resfriamento líquido, que possibilita o trabalho com a tecnologia, diz o executivo do Pátria. “É um data center muito flexível, capaz de acomodar praticamente qualquer tipo de carga.”

Em resposta ao questionamento de indígenas e de entidades da sociedade civil sobre a regularidade do licenciamento ambiental do data center, Abreu disse que o complexo de processamento de dados trabalhará com um sistema de resfriamento sem evaporação, que diminui a pegada hídrica. “Estamos trabalhando com uma tecnologia de circuito fechado de refrigeração que consome diariamente água equivalente ao consumo de poucas casas.”

O desenvolvimento do projeto começou em 2024 e a parceria com a Casa dos Ventos foi um dos primeiros passos, lembra o executivo. A geradora de energia renovável usou a expertise adquirida nos processos de licenciamento de plantas de hidrogênio verde, também grandes consumidoras de energia, para viabilizar as conexões de eletricidade. “O Pecém vai ser um polo eletrointensivo, vai ter capacidade para até dois gigawatts de projetos ali.”

A Casa dos Ventos já fez outros pedidos de ligação à linha de transmissão de energia em outros locais, como o interior da Bahia. Abreu não comentou se a Omnia também é parceira nesses projetos. “Nossa parceria não é exclusiva e analisamos os projetos individualmente”, afirmou.

A Omnia, diz o executivo, também trabalha no desenvolvimento de um “land bank”, uma lista de áreas estratégicas com alto potencial energético e de conectividade prontas para receber outros data centers. “As discussões com clientes acontecem em paralelo a tudo isso.”

Antes da Omnia, o Patria foi dono da Odata, uma das maiores gestoras de data center da América Latina. Vendeu o negócio, em 2022, por US$ 1,8 bilhões para uma multinacional chamada Aligned Data Centers.

No último mês de outubro, este último conglomerado foi comprado por US$ 40 bilhões pelo fundo global AIP (AI Infrastructure Partnership), uma sociedade entre BlackRock, Microsoft, o fundo dos Emirados Árabes MGX, Nvidia e xAI, de Elon Musk.

“Quando essa transação foi assinada no final de 2022, o ChatGPT ainda não tinha se tornado público para uso geral ainda”, diz Abreu. “Foi uma ótima transação para o Patria, mas, ao longo de 2023, o Patria começou a olhar de novo para o segmento que estava completamente transformado.”

O primeiro datacenter que o Patria construiu através da Odata, em 2015, tinha três megawatts, com investimento de US$ 30 milhões. “Dez anos depois, o investimento que nós anunciamos na Omnia é um investimento da ordem de US$ 2 bilhões em infraestrutura”, comparou o executivo.