BRASÍLIA, DF, RIO DE JANEIRO, RJ E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Ministério da Fazenda atribuiu o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre à desaceleração do consumo, como consequência da política monetária restritiva do Banco Central. A taxa de juros está no maior nível desde 2006, a 15% ao ano.
O consumo das famílias brasileiras cresceu 0,1% no terceiro trimestre de 2025, o pior resultado desde o último trimestre de 2024 (-0,9%).
Na comparação entre 2024 e 2025, o consumo das famílias foi de uma alta de 1,8% para avanço de 0,4% do segundo para o terceiro trimestre, destacou a SPE (Secretaria de Política Econômica). O movimento gera efeitos sobre o resultado do PIB, cuja alta de 0,1% ficou levemente abaixo da projeção da Fazenda, de 0,3%.
A alta de 0,4% foi a menor desde o primeiro trimestre de 2021, durante a pandemia da Covid-19. Ainda assim, o indicador se manteve em terreno positivo pelo 18º mês seguido nessa comparação, devido, principalmente, aos aumentos da massa salarial real, das transferências governamentais de renda e do crédito para as famílias, segundo o IBGE.
“O consumo das famílias desacelerou, refletindo o recuo no consumo de bens duráveis e não duráveis e a redução no ritmo de consumo de produtos semiduráveis e de serviços, principalmente importados. A desaceleração está associada ao desaquecimento dos mercados de trabalho e crédito no terceiro trimestre, em resposta aos impactos defasados da política monetária restritiva”, disse a SPE.
O movimento gera efeitos sobre o resultado do PIB. A economia brasileira continuou em desaceleração no terceiro trimestre deste ano, com leve avanço de 0,1% em relação aos três meses imediatamente anteriores.
O terceiro trimestre foi marcado pelos juros altos, que dificultam os investimentos produtivos e o consumo de parte dos bens industriais e dos serviços.
Por outro lado, o mercado de trabalho seguiu mostrando sinais de força. O desemprego baixo e a renda em alta beneficiam o consumo.
A alta dos juros tem gerado indisposição entre o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e os integrantes do governo Lula.
“O senhor [presidente Lula], assim como eu e muitos brasileiros, temos um inconformismo com a taxa de juros, a taxa Selic, que é realmente muito alta e a gente tem que trabalhar para reduzi-la”, afirmou nesta quinta-feira (4) o secretário de Reformas Econômicas, Marcos Pinto.
As revisões das séries do PIB também levaram a diferenças na expectativa de crescimento. Na comparação interanual, o IBGE revisou a alta de 2,9% para 3,1% no primeiro trimestre e de 2,2% para 2,4% no segundo. Por isso, de acordo com a Fazenda, o viés de revisão do PIB de 2025 é de alta.
“No terceiro trimestre, o ritmo de crescimento foi inferior ao projetado pela SPE na margem, embora a expansão tenha sido muito próxima à esperada na comparação interanual. Essa discrepância tem a ver com as revisões nas séries trimestrais desde 2024”, disse a secretaria.
Segundo a SPE, as revisões apontam que a atividade econômica de setores menos cíclicos também teve desempenho melhor no primeiro semestre deste ano. A pasta afirma, no entanto, que ainda há perspectiva de desaquecimento.
“A tendência de desaceleração da atividade, com a revisão para cima do PIB do primeiro semestre, se tornou mais acentuada, reduzindo também o carry-over para 2026. Dessa maneira, não se altera a perspectiva de desaquecimento econômico e de fechamento do hiato desenhada do segundo semestre de 2025 em diante.”
O comércio exterior contribuiu positivamente para o PIB, apesar do tarifaço anunciado pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros.
O avanço nas exportações de bens e serviços (3,3%) foi maior do que nas importações (0,3%) em relação ao segundo trimestre de 2025. Na comparação anual, o crescimento foi de 7,2% nas vendas para o exterior, enquanto as compras avançaram 2,2%.
Claudia Dionísio, analista das Contas Trimestrais do IBGE, afirma que os impactos do tarifaço foram localizados em setores específicos e com menor peso nas exportações totais, como as indústrias de calçados e madeira. Produtos que pesam mais, como petróleo, soja e carne bovina, conseguiram encontrar outros compradores, com destaque para a China.
Segundo a analista, os efeitos das restrições foram menores que os esperados inicialmente, como já mostraram outras pesquisas setoriais do IBGE, embora o instituto não tenha como mensurar separadamente apenas o efeito do tarifaço no PIB.
“O feito é pequeno. É muito mais importante olhar para efeitos conjunturais macroeconômicos, no caso, política monetária, inflação e mercado de trabalho, que estão explicando melhor o resultado do terceiro trimestre.”
O resultado do PIB indica relativa estabilidade na economia, após elevação de 0,3% no segundo trimestre e de alta de 1,5% no primeiro. O PIB abriu 2025 com o impulso da safra recorde de grãos, mas passou a dar sinais de desaceleração após o empurrão do campo e com a permanência dos juros altos.



