SÃO PAULO, SP E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O crescimento de apenas 0,1% do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre de 2025 confirma as expectativas do governo e do setor privado de uma desaceleração suave da economia brasileira após três anos de forte expansão para o padrão nacional.
Na mediana, as previsões do mercado financeiro indicam crescimento de 2,16% para o acumulado de 2025, conforme o boletim Focus divulgado na segunda (1º) pelo Banco Central. O Ministério da Fazenda projeta alta de 2,2%, segundo revisão anunciada em novembro. Ambas as estimativas sinalizam uma desaceleração ante 2024, quando o PIB cresceu 3,4%.
Para 2026, o mercado financeiro prevê avanço de 1,78%, de acordo com a mediana do Focus. O Ministério da Fazenda espera alta maior, de 2,4%.
“Está ocorrendo de fato uma desaceleração. São vários fatores conjunturais e, com certeza, a política monetária contracionista está pesando de forma negativa”, disse Claudia Dionísio, analista das Contas Trimestrais do IBGE.
“Com o final do ano se aproximando, ja esta claro que a desaceleraçao da economia e um fato”, disse Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.
“Entretanto, esse movimento nao apareceu ainda em todos os indicadores, especialmente os de mercado de trabalho”, acrescentou.
Vale prevê PIB de 2,1% em 2025 e de 1,5% em 2026. Para o último trimestre deste ano, ele estima uma queda de 0,8% na comparaçao com os três meses anteriores.
“Esse cenario de enfraquecimento da economia sera um desafio extra ao governo em ano eleitoral. Com a demanda domestica em desaceleraçao e limites para novas políticas microeconomicas de est?mulo, o desafio do governo sera convencer a sociedade de que esta no caminho certo na economia”, afirmou Vale.
O economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, projeta um PIB estável no quarto trimestre, o que já garante um crescimento de 2,6% neste ano, e uma expansão de 1,5% em 2026, confirmando a expectativa de desaceleração gradual da economia.
“É um desempenho bastante saudável para a atividade econômica, principalmente com uma Selic de 15%”, afirma Sichel, que espera um corte da taxa básica de juros a partir de março.
Ele afirma ainda que é necessário verificar qual será o impacto no próximo ano do aumento da isenção do Imposto de Renda sobre a renda disponível e o consumo.
Claudio Considera, pesquisador associado do FGV Ibre, afirma que os indicadores da instituição mostram que a demanda por bens e serviços segue acima da oferta há dez trimestres seguidos, fator que ajuda a pressionar a inflação.
Para ele, a economia brasileira deve continuar no caminho de um “pouso suave”, com a taxa básica de juros contribuindo para desacelerar a atividade, mas, ao mesmo tempo, segurando a inflação, que aumenta o poder de compra dos trabalhadores.
“Você pode reclamar que a política monetária está muito restritiva, atrapalhando, mas essa mesma política monetária permite o aumento da renda real dos trabalhadores”, afirma Considera.
O economista Arnaldo Lima, líder de Relações Institucionais da Polo Capital, diz que o resultado do trimestre mostra de forma mais nítida a desaceleração em curso e reforça a expectativa de corte de juros em janeiro. “Os dados do IBGE confirmam que o processo de pouso suave está se consolidando.”
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, afirma que a atividade está esfriando gradualmente, mas as medidas de estímulo anunciadas pelo governo devem evitar uma desaceleração maior da economia. Ela projeta que o PIB cresça 2% em 2025 e 1,7% em 2026.
“O mercado de trabalho aquecido e os estímulos promovidos pelo governo, como o aumento da isenção do Imposto de Renda, que passará a valer em 2026, devem manter a economia brasileira em expansão, ainda que em ritmo mais moderado.”
André Valério, economista sênior do Inter, diz esperar a continuidade da tendência de acomodação do crescimento, com o PIB encerrando o ano com alta acumulada de 2,2%. “Ainda assim, vemos uma economia bastante robusta.”
Analistas afirmam que uma das razões para o desempenho positivo do PIB nos últimos anos foi a adoção de políticas de estímulo à economia pelo governo Lula (PT).
Setores como o mercado financeiro costumam sinalizar preocupação com o quadro fiscal do país e cobram ações de ajuste nas contas públicas.
Há, contudo, dúvidas sobre a disposição do governo de abrir mão de medidas para incentivar a economia antes das eleições de 2026.
Renato Correia, presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), destaca que o PIB do setor avançou 1,3% no terceiro trimestre deste ano, enquanto as atividades imobiliárias cresceram 0,8% comparado aos três meses anteriores, dados que indicam que o setor mantém ritmo aquecido.
“O mercado da construção segue em um momento positivo. Isso se deve aos contratos de infraestrutura e ao bom desempenho do Minha Casa, Minha Vida. É uma boa notícia para o emprego e para a renda no país”, afirmou.
A indústria de transformação voltou a crescer no terceiro trimestre. Esse desempenho, no entanto, refletiu a base de comparação deprimida, segundo a Fiesp (federação das indústrias de São Paulo).
“Altamente sensível às taxas de juros, o segmento vem sendo impactado pelo aperto monetário. A piora da confiança da indústria e a redução do nível de utilização da capacidade instalada no período recente reforçam a complexidade do ambiente macroeconômico para o setor industrial.”
A entidade projeta estabilidade do PIB no quarto trimestre. Também revisou a projeção de crescimento em 2025 de 2,4% para 2,3%. Para 2026, a expectativa é de uma alta de 1,9%.
“Contudo, as medidas de estímulo à demanda anunciadas pelo governo federal nos últimos meses -como o consignado para o setor privado, a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5.000, mudanças no crédito imobiliário, dentre outras medidas- trazem um viés de alta para a projeção do crescimento em 2026”, diz a entidade.
A soma de todas as medidas anunciadas pelo governo até o momento pode chegar a R$ 212 bilhões, o que corresponde a cerca de 1,6% do PIB, segundo a Fiesp.



