SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As esculturas foram empilhadas umas sobre as outras num equilíbrio que parece tão frágil que uma rajada de vento poderia desfazer toda a estrutura. A impressão de instabilidade se acentua em razão da sinuosidade das obras.
Concebidas pelo artista alemão Thomas Schönauer, as esculturas reunidas na Galeria Dan, na capital paulista, surpreendem pelo jogo de aparências. Por trás da leveza e da fragilidade de movimentos cambaleantes, escondem-se a solidez e a resistência do aço inoxidável.
“A ilusão é um dos temas principais de meu trabalho”, diz Schönauer. “Para mim, a vida é uma ilusão. Algumas pessoas têm medo dessa constatação, mas eu não tenho. Na verdade, a minha poética é sobre isso.”
O interesse pelos aspectos ilusórios da matéria surgiu durante o período em que o artista estudou filosofia na Universidade de Düsseldorf.
“Eu preciso de um tema para exprimir a minha visão artística e esse tema vem muito da filosofia. Acho difícil um artista sem conceito realizar um trabalho de qualidade. O início da produção artística é justamente o conceito.”
Além da filosofia, o trabalho de Schönauer dialoga com a arquitetura, sobretudo com o modernismo brasileiro. Isso se faz sentir, por exemplo, por meio de esculturas convexas que evocam as cúpulas de projetos assinados por Oscar Niemeyer. “Eu fui muito influenciado não só pelo trabalho dele, mas também pelas obras de Roberto Burle Marx. A paisagem brasileira tem um grande impacto em minha produção.”
A relação do alemão com o Brasil é de longa data. Em 1978, ele instalou um ateliê na cidade mineira de Macacos, onde o artista tem um sítio até hoje. A partir daí, aproximou-se de forma progressiva do país até se casar com uma brasileira, com quem teve duas filhas. Além da cidade de Düsseldorf, ele mantém um ateliê em Votorantim, no interior de São Paulo.
Quem entra no estúdio do artista tem a impressão de estar em uma fábrica em razão dos equipamentos industriais. Essa atmosfera fabril contrasta com a aura de romantismo tão associada aos ateliês de arte. Ao se apropriar de processos industriais, Schönauer rompe com a ideia de sacralidade que ainda caracteriza o fazer artístico.
“Muitos artistas acham que estão criando um novo paraíso com os seus trabalhos. A gente não precisa disso”, afirma ele. “Eu trabalho com materiais para a indústria como uma forma de expressão política.”
Isso está evidente em “A Nova Complexidade do Mundo”, escultura que dá nome à exposição e que mostra o embate de diferentes discos de aço. É como se o trabalho fosse o resultado do choque entre forças contrárias, uma alegoria para os conflitos que opõem países ao redor do mundo.
“Eu exprimo a preocupação com o desenvolvimento da sociedade por meio dessa escultura. Tudo nela é difícil e complexo, inclusive o próprio processo produtivo.”
,Curador da mostra, Fábio Magalhães diz que a interação entre diferentes corpos está no centro não só desse trabalho, mas também de outras obras do artista. Isso se faz sentir a partir da união de materiais com diferentes tamanhos e níveis de opacidade. “Thomas trabalha com a ideia de relação. Ela é o cerne de tudo, inclusive da sociabilidade e da vida no universo.”
Essas relações se estabelecem também entre as obras e a luminosidade do ambiente expositivo. Isso porque as esculturas refletem a luz do entorno, de modo que pontos luminosos parecem dançar sobre a superfície metálica. “É como se fosse uma sinfonia luminosa”, diz Magalhães.
Além das esculturas, o artista reuniu na mostra telas produzidas a partir da mistura de cola industrial e de pigmentos usados em latarias de carros. O resultado são pinturas que lembram tanto constelações quanto vasos sanguíneos, criando uma fricção entre a pequena e a grande escala.
“Essa percepção varia de acordo com cada pessoa. Ainda que eu possa explicar a obra, a interpretação fica com o público.”
A Nova Complexidade do Mundo
Quando Seg. a sex., das 10h às 19h. Sáb., 10h às 13h. Até 19 de dezembroOnde Dan Galeria Rua Amauri, 73Preço GrátisClassificação Livre



