RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A prisão do presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil), nesta quarta-feira (3) pela Polícia Federal enterra o plano original de Cláudio Castro (PL) para a eleição ao Governo do Rio em 2026 e consolida a atual encruzilhada da direita no estado.

Bacellar era, até julho, o escolhido de Castro para concorrer. O plano era que o deputado fosse o representante da direita, em oposição ao prefeito Eduardo Paes (PSD), que já se colocou na disputa.

Mas, em seis meses, o presidente da Alerj foi de potencial concorrente, com apoio da máquina, a escanteado e preso, acumulando durante esse período desavenças com correligionários, com o próprio Castro e com a família Bolsonaro, com quem tentou aproximação, mas não conseguiu.

Políticos do entorno de Castro, ouvidos pela reportagem sob reserva, atribuem ao próprio governador um dos motivos pela indefinição de um nome da direita na eleição do Rio.

Eles afirmam que Castro antecipou a conversa sobre eleição quando viajou e deixou Bacellar assumir interinamente, em julho, e depositou confiança em um deputado que já era visto com ressalvas por alguns representantes do bolsonarismo, incluindo os senadores Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Carlos Portinho (PL-RJ) e o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ).

Eleito deputado em 2018, o deputado foi o relator da comissão de impeachment do ex-governador Wilson Witzel, em 2020. A cassação do mandato alçou Cláudio Castro, vice de Witzel, ao Palácio Guanabara.

Bacellar era o preferido do governador para sucedê-lo. Para isso, o titular do Palácio Guanabara havia retirado seu vice do jogo político: Thiago Pampolha, que também queria ser candidato a governador, foi indicado em maio para o cargo de conselheiro no TCE (Tribunal de Contas do Estado). Com isso, Bacellar, presidente da Alerj, tornou-se o segundo na linha sucessória do governo.

O plano de Castro era deixar o cargo até abril de 2026 para concorrer ao Senado. Assim, Bacellar teria seis meses como governador até outubro, mês das eleições. Mas a relação se tornou conflituosa depois que Bacellar assumiu como governador interinamente e, sem o aval do titular, que estava em viagem a Portugal, exonerou o então secretário de Transportes do governo, Washington Reis (MDB), por desavenças.

Com entrada no governo fluminense, Flávio Bolsonaro avaliou como erro a exoneração de Reis, um aliado de Jair Bolsonaro (PL), e pediu para que Castro o renomeasse.

O governador manteve a exoneração ao voltar para o Brasil, mas a relação com Bacellar esfriou. Bacellar passou a estender prazos de projetos enviados pelo Executivo à Alerj. Castro deu declarações que soaram como indireta ao deputado.

Depois do atrito, Castro passou a repensar a candidatura ao Senado para não abrir espaço a Bacellar no governo.

Presidente do diretório estadual do União Brasil, Bacellar, mesmo antes da prisão, era avaliado pelos correligionários como fora da disputa. Prefeito de Belford Roxo, Márcio Canella (União Brasil) tem afirmado que deseja ser candidato, mas também não é visto internamente como um nome potencial.

O PP, com quem o União Brasil anunciou uma federação, está próximo de Paes, com cargos na prefeitura e aliança com o deputado Doutor Luizinho (PP-RJ). O PL analisa nomes, mas ainda não chegou a consenso. Eduardo Paes é o único nome consolidado como pré-candidato para o governo.

Bacellar foi preso sob suspeita de se envolver no vazamento da informação de que o ex-deputado TH Joias, acusado de intermediar negociações do Comando Vermelho, seria preso em setembro. De acordo com a investigação da PF, Bacellar já sabia da prisão desde a véspera da operação e tentou auxiliar TH em suposto apagamento de provas.

Na decisão pela prisão, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal) afirma que “são fortes os indícios” da participação de Bacellar “em organização criminosa”.

A reportagem procurou o União Brasil, a assessoria de Bacellar e o governo do estado, mas não recebeu respostas.