SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira renovou o recorde intradiário pelo terceiro dia consecutivo nesta quinta-feira (4), com investidores reagindo a um PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro mais fraco do que o esperado no terceiro trimestre. O resultado reforça as apostas de analistas em um corte na taxa Selic, hoje em 15%.

Às 11h48, o Ibovespa, índice de referência do mercado acionário brasileiro, subia 1,24%, a 163.772 pontos, após atingir uma nova máxima histórica de 164.057 pontos durante a manhã. É a primeira vez que a Bolsa ultrapassa as marcas de 162, 163 e 164 mil pontos durante o período de negociações.

No mesmo horário, o dólar recuava 0,37%, a R$ 5,293, em queda mais intensa que a observada no exterior. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana frente a seis outras divisas importantes, rondava a estabilidade, com leve baixa de 0,01%.

Segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a economia brasileira continuou em desaceleração no terceiro trimestre deste ano, com leve avanço de 0,1% em relação aos três meses imediatamente anteriores

O resultado indica uma relativa estabilidade, após elevação de 0,3% no segundo trimestre e de 1,5% no primeiro. Analistas do mercado financeiro esperavam variação positiva de 0,2%, de acordo com a mediana das projeções coletadas pela agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de -0,5% a 0,3%.

Para Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado, o aumento próximo da estabilidade mostra que a política monetária está desacelerando a economia. “O crescimento mais lento da atividade econômica brasileira diminui os riscos inflacionários, visto que crescimento baixo costuma estar correlacionado a estabilização de preços, e também aumenta um pouco a urgência para que o Copom volte a cortar juros.”

A economia nacional abriu o ano de 2025 com o impulso da safra recorde de grãos, mas passou a dar sinais de desaceleração após esse empurrão do campo e com a permanência dos juros altos. Pelo lado da oferta, o setor de serviços, que tem o maior peso no PIB, ficou praticamente estável, resultado que indica uma perda de ritmo do setor.

Segundo Rafael Perez, economista da Suno Research, a economia brasileira vive três fases distintas ao longo de 2025. “Depois de um primeiro trimestre bastante robusto, o segundo mostrou sinais mais evidentes de perda de tração, e o terceiro revela uma acomodação, sentindo os efeitos da política monetária restritiva, mas também uma desaceleração mais disseminada”.

O Banco Central tem defendido manter a taxa atual, de 15%, por período prolongado. Em evento da XP Investimentos, em São Paulo, na segunda (1º), o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo afirmou que o mercado de trabalho brasileiro está aquecido e que isso exige uma postura conservadora do BC.

O BC passou a defender juros contracionistas por “período bastante prolongado” em junho deste ano, quando fez sua última elevação da Selic.

Em novembro, deixando a Selic em 15%, o BC passou a demonstrar convicção de que esse patamar é adequado para cumprir a meta de inflação, apontando a necessidade de “manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado”.

O alvo central perseguido pelo BC para a inflação é 3%. No modelo de meta contínua, o objetivo é considerado descumprido quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).

O Banco Central volta a se reunir na próxima semana, nos dias 9 e 10, para sua última decisão do ano de política monetária, com expectativa de manutenção da Selic.

No exterior, o foco está sobre a divulgação de dados sobre os pedidos semanais de seguro-desemprego nos EUA. Na véspera, informações do setor privado do país influenciaram o pregão e aumentaram as apostas de corte de juros pelo Fed na próxima semana.

O setor fechou mais vagas do que abriu em novembro, contrariando a projeção de analistas, revelou relatório divulgado nesta quarta-feira. Foram fechados 32 mil postos de trabalho no último mês, ante estimativa de economistas consultados pela Reuters de abertura de 10 mil postos de trabalho.

Para João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos, os números surpreendem negativamente. “É uma queda bastante acentuada no número de empregos. Os empresários estavam tentando ter uma leitura mais clara sobre o real impacto das tarifas na demanda, para então tomar decisões de contratação. O dado de hoje revela de que talvez haja um enfraquecimento um pouco maior do que o esperado nos EUA”, afirma.

Segundo ele, os dados devem pesar para o Fed tomar uma decisão na reunião da próxima quarta-feira (10).

Por mais que a paralisação do governo federal dos EUA tenha se encerrado no começo do mês, dados importantes não foram coletados. O relatório “payroll”, uma das métricas preferidas do Fed (Federal Reserve, banco central americano) para medir informações sobre empregos, está defasado e só será atualizado em 16 de dezembro, quando as informações de outubro e novembro serão divulgadas.

O BC americano, portanto, irá focar em outros dados. “Não vai ter divulgação de novas informações oficiais em relação ao emprego e inflação [antes da decisão do dia 10 de dezembro]. Cresce a importância de dados regionais e de informações sobre o setor privado para o Fed calibrar a leitura de como a economia americana está evoluindo”, diz Leonel Mattos, da StoneX.

A ferramenta FedWatch, do CME Group revela que investidores veem uma chance de 88,8% de que o banco central americano reduza a taxa de juros para 3,50% a 3,75%, em dezembro -hoje é de 3,75% a 4,00%.

Reduções nos juros dos EUA costumam ser uma boa notícia para os mercados globais -e o oposto também é verdadeiro. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, também chamados de “treasuries”, são um investimento praticamente livre de risco.

Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.

Além disso, uma redução nos juros por lá e a manutenção da taxa brasileira fortalece a estratégia conhecida como “carry trade”. Nela, pega-se dinheiro emprestado a taxas mais baixas, como a dos EUA, para investir em ativos com alta rentabilidade, como a renda fixa brasileira.

Assim, quanto mais atrativo o carry trade, mais dólares tendem a entrar no Brasil, o que ajuda a valorizar o real.