RIO DE JANEIRO, RJ E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil continuou em desaceleração no terceiro trimestre deste ano, com leve avanço de 0,1% em relação aos três meses imediatamente anteriores, apontam dados divulgados nesta quinta (4) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado indica uma relativa estabilidade da economia nacional, após elevação de 0,3% no segundo trimestre e de alta de 1,5% no primeiro.

A taxa de 0,1% ficou levemente abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,2%, de acordo com a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de -0,5% a 0,3%.

O PIB abriu o ano de 2025 com o impulso da safra recorde de grãos, mas passou a dar sinais de desaceleração após o empurrão do campo e com a permanência dos juros altos para conter a inflação.

“Está ocorrendo de fato uma desaceleração. São vários fatores conjunturais e, com certeza, a política monetária contracionista está pesando de forma negativa”, disse Claudia Dionísio, analista das Contas Trimestrais do IBGE.

“A taxa de juros mais alta compromete várias atividades da economia, umas menos sensíveis, outras mais”, acrescentou a técnica.

O BC (Banco Central) iniciou em setembro de 2024 um ciclo de aumento na taxa básica de juros, levando a Selic para 15% ao ano. A taxa está nesse patamar desde junho de 2025.

Ao manter a Selic em 15%, o BC tenta esfriar a atividade econômica para baixar a inflação. Isso porque uma demanda mais contida tende a reduzir a pressão sobre os preços.

SERVIÇOS PERDEM RITMO, INDÚSTRIA ACELERA

O setor de serviços, que tem o maior peso no PIB, ficou praticamente estável no terceiro trimestre. Houve um leve avanço de 0,1% na comparação com os três meses imediatamente anteriores.

O resultado mostra uma perda de ritmo do setor. Os serviços haviam subido 0,3% no segundo trimestre e 1% no primeiro.

Já a indústria cresceu 0,8% de julho a setembro. Isso significa uma leve aceleração, já que o setor havia avançado menos no segundo trimestre (0,6%).

Conforme o IBGE, a alta de 0,8% na indústria foi puxada pelas indústrias extrativas (1,7%). Nessa atividade, o instituto destacou a influência da extração de petróleo e gás.

Ainda dentro da indústria, houve avanços na construção (1,3%) e nas indústrias de transformação (0,3%). Os dois ramos, que são mais afetados pelos juros, subiram após dois trimestres de queda.

A agropecuária, por sua vez, avançou 0,4% de julho a setembro. O aumento veio após queda nos três meses anteriores (-1,4%) e forte alta de janeiro a março (16,4%).

CONSUMO DESACELERA, INVESTIMENTO AVANÇA

Do lado da demanda por bens e serviços, o consumo das famílias avançou apenas 0,1% no terceiro trimestre. O componente, considerado um dos motores da economia, perdeu ritmo após dois trimestres consecutivos de alta de 0,6%.

Se de um lado os juros desafiaram o PIB nos últimos meses, de outro o mercado de trabalho seguiu mostrando sinais de força no Brasil.

O desemprego em queda e a renda em alta tendem a beneficiar o consumo, impedindo uma desaceleração ainda maior.

Já os investimentos produtivos na economia, medidos pela FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), tiveram crescimento de 0,9% de julho a setembro. A taxa recompõe parte da queda registrada nos três meses anteriores (-1,5%).

TARIFAÇO TEM EFEITO LIMITADO, DIZ IBGE

O terceiro trimestre também foi marcado pelo tarifaço do presidente Donald Trump a exportações brasileiras. A medida entrou em vigor em agosto, afetando parte dos embarques para os Estados Unidos.

Os americanos já derrubaram parte das sobretaxas, e o governo Lula (PT) tenta novas medidas nesse sentido.

Apesar do tarifaço, o PIB apontou alta de 3,3% nas exportações totais do Brasil no terceiro trimestre, em relação ao segundo. As importações subiram menos (0,3%).

Segundo o IBGE, o impacto do tarifaço ficou concentrado em alguns setores e foi menor do que o esperado inicialmente.

Ainda de acordo com o instituto, parte dos exportadores afetados conseguiu redirecionar as vendas para mercados alternativos.

O PIB está no patamar recorde da série histórica do IBGE. Totalizou R$ 3,2 trilhões no terceiro trimestre.

Na comparação com o mesmo período de 2024, a economia brasileira registrou expansão de 1,8%.

Essa alta foi impulsionada pelo setor agropecuário, que avançou 10,1%. A indústria teve crescimento de 1,7% e serviços, de 1,3%.

O QUE VEM PELA FRENTE?

Na mediana, as previsões do mercado financeiro indicam crescimento de 2,16% para o PIB no acumulado de 2025, conforme o boletim Focus divulgado na segunda (1º) pelo BC. O Ministério da Fazenda, por sua vez, projeta alta de 2,2%, segundo revisão anunciada em novembro.

Ambas as estimativas sinalizam uma desaceleração ante 2024, quando o PIB cresceu 3,4%.

Para 2026, o mercado financeiro prevê avanço de 1,78%, de acordo com a mediana do Focus. O Ministério da Fazenda espera alta maior, de 2,4%.

Analistas afirmam que uma das razões para o desempenho positivo do PIB nos últimos anos foi a adoção de políticas de estímulo à economia pelo governo Lula.

Setores como o mercado financeiro costumam sinalizar preocupação com o quadro fiscal do país e cobram ações de ajuste nas contas públicas.

Há, contudo, dúvidas sobre a disposição do governo de abrir mão de medidas para incentivar a economia antes das eleições de 2026.

IBGE REVISA DADOS ANTERIORES

Como de costume, o IBGE fez revisões em dados anteriores do PIB.

Na comparação com os três meses anteriores, o crescimento do segundo trimestre foi revisado de 0,4% para 0,3%. Já a alta do primeiro trimestre passou de 1,3% para 1,5%.

VARIAÇÃO DO PIB DE DIVERSOS PAÍSES NO 3º TRIMESTRE DE 2025

**Em relação ao ano anterior, em %**

0,1 – Brasil

3 – Israel

2,30 – Dinamarca

1,40 – Arábia Saudita

1,3 – Costa Rica

1,20 – Colômbia

1,20 – Indonésia

1,20 – Coreia do Sul

1,1 – China

1,1 – Turquia

1,1 – Suécia

0,9 – Polônia

0,8 – Portugal

0,8 – Eslovênia

0,8 – República Tcheca

0,60 – Canadá

0,60 – Espanha

0,60 – Letônia

0,5 – França

0,5 – África do Sul

0,4 – Estônia

0,4 – Austrália

0,4 – Países Baixos

0,30 – Bélgica

0,30 – Eslováquia

0,1 – Áustria

0,1 – Itália

0,1 – Reino Unido

0 – Alemanha

0 – Hungria

0 – Lituânia

-0,1 – Irlanda

-0,1 – Chile

-0,2 – Islândia

-0,30 – México

-0,30 – Finlândia

-0,4 – Japão

-0,5 – Suíça

_Fontes: OCDE e IBGE_