PELOTAS, RS (FOLHAPRESS) – Desde segunda-feira (1º), a defesa de Luigi Mangione, acusado de assassinar o CEO da UnitedHealthcare, Brian Thompson, em dezembro de 2024, tenta anular provas do processo.

Os advogados alegam que os direitos de Mangione não foram respeitados quando ele foi identificado e detido em um McDonald’s em Altoona, na Pensilvânia, em 9 de dezembro do ano passado.

Dentro e fora do tribunal, apoiadores se reuniram para acompanhar a audiência. A aglomeração evidencia o status de herói adquirido por Mangione, que foi alçado a uma espécie de símbolo da indignação dos americanos contra o sistema de seguros de saúde no país.

Nas últimas fileiras, cerca de duas dúzias de fãs usando verde —cor que se tornou símbolo de identificação do grupo, em alusão ao personagem Luigi do universo Mario Bros.— riam, cochichavam e se esticavam para ver o acusado.

Do lado de fora, uma van projetava a imagem de Mangione e slogans de apoio em um telão. Outra van exibia estatísticas sobre a indústria de seguros de saúde.

A audiência ocorre a pedido da defesa, que alega que a polícia violou os direitos constitucionais de Mangione durante sua prisão e pede que as provas retiradas de sua mochila, assim como as declarações feitas na ocasião, não sejam aceitas.

A defesa afirma que, quando o acusado foi detido, um policial revistou sua mochila sem mandado. Os agentes encontraram uma arma, um silenciador, “um caderno vermelho contendo escritos pessoais, outros textos, um chip de computador, um iPhone e vários pen drives”, dizem os advogados.

A defesa também pede que testemunhas da acusação não mencionem os escritos encontrados. Segundo os promotores, os textos denunciavam o sistema de saúde privado dos Estados Unidos e os “parasitas” da indústria de seguros. Um diário detalhando planos de assassinato também foi encontrado entre seus pertences, de acordo com a promotoria.

Segundo a polícia, os cartuchos recuperados no local do assassinato correspondem à arma que o acusado portava durante a prisão.

Espera-se que os promotores convoquem dezenas de testemunhas para detalhar como se deu a prisão de Mangione. No primeiro dia, cinco testemunhas foram chamadas, incluindo agentes penitenciários que o vigiaram na Pensilvânia, policiais que fizeram sua prisão, uma supervisora do serviço de emergência e um homem que depôs sobre as câmeras de vigilância do McDonald’s onde ele foi detido.

A prisão ocorreu cinco dias depois de Brian Thompson ser assassinado a tiros em frente a um hotel em Manhattan. O CEO estava a caminho de um encontro com investidores da Unitedhealthcare, uma das maiores seguradoras de saúde dos EUA.

O policial que atendeu ao chamado que resultou na prisão de Mangione, Joseph Detwiler, disse na audiência que “soube na hora” que ele era o suspeito procurado pela polícia. Dias antes, imagens de câmeras de segurança foram divulgadas ao público para ajudar nas buscas.

As imagens da câmera corporal mostram Mangione respondendo a várias perguntas. Inicialmente, ele deu nome e sobrenome falsos ao policial e disse que não havia estado recentemente em Nova York.

Para manter Mangione tranquilo, Detwiler relatou ter inventado uma história: disse que o McDonald’s tinha uma política de acionar a polícia quando um cliente permanecia por muito tempo, e o tranquilizou afirmando que, assim que a identidade fosse verificada, ele poderia ir embora.

Detwiler disse que continuou conversando sobre trivialidades com Mangione. Com o tempo, os policiais descobriram que o nome e a habilitação eram falsos. Segundo os promotores, a identificação era idêntica à usada pelo atirador em um hostel no Upper West Side.

Depois da chegada de mais policiais, Mangione deu seu nome verdadeiro e data de nascimento após ser alertado de que, se mentisse novamente, seria preso.

Ele foi informado de seus direitos e algemado. As imagens mostram policiais vasculhando seus bolsos e encontrando uma carteira com “muito dinheiro”, incluindo moeda estrangeira; um pedaço de papel; luvas pretas; um barbante ou corda; e um pote de pasta de amendoim.

Imagens inéditas de câmeras de segurança apresentadas no tribunal mostraram policiais conversando com Mangione por mais de 30 minutos antes de prendê-lo.

Outra testemunha, um agente penitenciário, disse que Mangione lhe falou espontaneamente que tinha uma pistola impressa em 3D na mochila. Um advogado de defesa questionou a alegação de que Mangione teria oferecido voluntariamente uma informação tão incriminadora e tentou mostrar que o agente pode tê-lo questionado sem avisar seus direitos.

Promotores negam que Mangione tenha sido alvo de busca ou interrogatório ilegais.

Ele pode pegar prisão perpétua se for condenado por homicídio em segundo grau, definido como assassinato intencional. Ele também responde por sete acusações de porte ilegal de arma e uma de posse de identificação falsa.

O acusado se declarou inocente das acusações de homicídio e outros crimes e deve ir a julgamento no ano que vem. Ele também se declarou inocente em um processo federal separado no qual promotores pretendem pedir a pena de morte. Em setembro, o tribunal descartou acusações de terrorismo contra ele.

Ainda não há datas marcadas para os julgamentos, seja no caso estadual ou no federal. Mangione está detido sob custódia federal no Brooklyn.