SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Elas se sentem desrespeitadas. É o que mostra um levantamento conduzido pelo DataSenado e pelo instituto de pesquisa Nexus, em parceria com o OMV (Observatório da Mulher contra a Violência), do Senado Federal.
A pesquisa ouviu mais de 20 mil mulheres em todas as regiões do país de 16 de maio a 8 de julho deste ano e mostra que a percepção de que as mulheres não são tratadas com respeito atinge 46% das brasileiras. A margem de erro é de 0,69 ponto percentual para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.
A sensação de desrespeito é maior nas ruas, onde chega a 49%. O maior aumento, de quatro pontos percentuais, foi registrado dentro de casa (21%). Ou seja, cerca de 3,3 milhões a mais de mulheres passaram a ver o ambiente familiar como um local mais inseguro na comparação de 2023 (data do levantamento anterior) com 2025, segundo os pesquisadores.
Beatriz Accioly, antropóloga e líder de Políticas Públicas pelo Fim da Violência Contra Meninas e Mulheres do Instituto Natura, considera que o aumento da declaração do desrespeito dentro de casa pode estar relacionado a uma maior conscientização das mulheres em relação à violência doméstica e familiar.
“Embora seja preocupante a percepção de que as mulheres não são respeitadas no círculo social mais íntimo, aquele que, em tese, deveria ser um espaço de proteção e acolhimento, isso vai ao encontro dos números altos de violência doméstica no país”, diz.
Casos de violência contra a mulher acontecem principalmente dentro de casa. Estudo feito pelo Instituto Sou da Paz com base nos dados da Secretaria de Segurança Pública paulista aponta que dos 207 casos de feminicídios registrados no estado este ano, 61% foram no ambiente familiar.
A pesquisa do DataSenado mostra ainda que 94% das entrevistadas classificaram o Brasil como um país machista. Além disso, 79% das mulheres afirmaram perceber um crescimento da violência.
Quando questionadas, uma minoria (11%) disse acreditar que mulheres denunciam sempre ou na maioria das vezes casos de violência.
Em meio ao aumento de casos, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) apresentou um projeto de lei para tipificar a propagação do discurso misógino na internet.
Pelas redes, a parlamentar disse que a iniciativa é uma resposta a campanhas de ódio organizadas, perseguições virtuais, ameaças, divulgação de dados pessoais, vídeos misóginos fantasiados de “conselhos masculinos” e ataques sistemáticos.
O projeto prevê agravantes quando o crime for cometido por agentes públicos como parlamentares, juízes e promotores, e quando ocorrer nas redes sociais por meio de contas falsas, mecanismos automatizados ou impulsionamento artificial.



