TORONTO, CANADÁ (FOLHAPRESS) – Em filmes e séries dos Estados Unidos, é fácil encontrar piadinhas sobre a rivalidade com o Canadá, visto como um lugar de interior quando comparado ao seu irmão maior e mais influente.
Mas o fato é que, pelo menos em Toronto, o turista brasileiro encontra quase tudo o que ele mais gosta nos EUA -compras e diversão-, mas numa escala menor, com menos muvuca e a preços muitas vezes mais vantajosos.
A maior cidade do Canadá tem 3 milhões de habitantes, mas, fora do seu centro agitado, consegue manter um ar mais sossegado. Metade de sua população é imigrante, e o transporte público é amplo e confiável. Dá para dizer que é uma versão mais amigável das metrópoles americanas.
Estão lá, por exemplo, quase uma centena de restaurantes recomendados pelo guia Michelin e, em boa parte deles, é possível comer bem sem que o bolso pese muito. É o caso do chinês Mothers Dumplings, onde um jantar para dois com diferentes pratos para compartilhar sai por cerca de 60 dólares canadenses (R$ 230).
Ele fica na Spadina, avenida que corta a cidade de norte a sul passando por bairros como Kensington Market e Chinatown. É uma área que certamente pede mais de uma visita, já que são muitas as lojinhas e os restaurantes, das mais variadas nacionalidades.
Estão lá também, num mesmo sobrado, o Project Seoul, café moderninho com sobremesas que são quase uma refeição em si, e a casa especializada em churrasco coreano Daldongnae, mais cara, mas com um ótimo custo- -benefício. Há ainda o vietnamita Cà Phê Rang, outro indicado pelo Michelin e com preços justos, que tem como sócio Matty Matheson, que interpreta o personagem Fak na série “O Urso”.
Quando der vontade de comer em um lugar mais moderninho, ou quando cada comensal quiser uma coisa diferente, pertinho dali está o Waterworks Food Hall. É uma praça de alimentação gourmet com todo tipo de comida que, desde o ano passado, ocupa um galpão industrial dos anos 1930, todo de tijolinhos e com janelões para uma simpática praça.
Esse prédio, aliás, é um bom exemplo dos contrastes, dessa vez arquitetônicos, que permeiam Toronto. Dos bancos da pracinha, é possível reparar que há uma moderna torre de apartamentos erguida sobre e atrás dos antigos galpões, ainda preservados.
A solução está longe de ser uma unanimidade entre urbanistas, mas foi o jeito que a cidade encontrou para conciliar o rápido desenvolvimento imobiliário com a preservação do seu patrimônio histórico. O principal símbolo dessa prática é o EY Tower, um arranha-céu de vidro erguido por trás da elegante fachada em art decó do prédio que ocupou o mesmo terreno no centro antigo entre os anos 1930 e 2010.
Mas há exemplos de fachadas assim por toda parte, incluindo o Museu Real de Ontário, um dos maiores da cidade. Em 2005, o prédio centenário original, também de tijolinhos, ganhou uma fachada moderna, toda pontuda, em aço e vidro, assinada por Daniel Libeskind, mesmo arquiteto do One World Trade Center, em Nova York. Ainda que sob críticas, essa mistura se tornou quase uma marca da cidade.
Museus não faltam na metrópole canadense. O Museu Real de Ontário é o maior deles, com extensas coleções de belas artes e também de história natural, incluindo uma seção imperdível de minerais que exibe ouro, diamantes e pedras preciosas de todos os tipos e origens, incluindo algumas vindas do Brasil. Mas ele está longe de ser o mais legal. Esse título, se existisse de fato, poderia ser dividido entre dois museus vizinhos com temáticas curiosas.
Um deles é o Gardiner, inteiramente dedicado à porcelana, que reconta a história desta arte que surgiu na China no século 7º e logo se tornou a primeira commodity global. É um museu pequeno, encantador e legal de explorar.
Há peças raríssimas, como dragões japoneses do século 17 e um grande vaso chinês do século 18; outras curiosas, como uma delicadíssima coleção de frascos de perfume; e algumas cômicas, como as figuras da commedia dellarte fazendo mil poses que eram usadas entre os séculos 16 e 18 para enfeitar as mesas de sobremesa dos banquetes europeus.
Já o outro museu curioso para visitar em Toronto é o Bata Shoe, voltado a expor sapatos. A princípio, parece mais uma dessas experiências um pouco com cara de arapuca turística, mas basta entrar na primeira sala para que essa impressão se desfaça.
O espaço reconta a história da cultura a partir dos nossos calçados, com um recorte inusitado e divertido. Inclui itens como uma réplica do sapato mais antigo de que se tem notícia (datado de 5.500 anos atrás) e sneakers da Nike assinados pelo designer Virgil Abloh, passando por sapatos egípcios, da África subsaariana e por uma coleção de botas que contempla caubóis e drag queens.
Mas o que talvez seja a melhor surpresa de Toronto fica em Vaughan, na região metropolitana. É o parque de diversão Canadas Wonderland, a cerca de uma hora do centro da cidade e perfeitamente acessível combinando metrô e uma pequena corrida de Uber.
Operado pelo gigante americana do setor, o Six Flags, o parque tem atrações para toda a família, mas o carro-chefe é a adrenalina. São 18 montanhas-russas, dos mais variados modelos, o que proporciona ao visitante uma viagem pela história do brinquedo.
Estão lá dois exemplares de madeira dos anos 1980, época da abertura do parque -horríveis, daquelas que fazem a gente se sentir dentro de uma máquina de lavar. Mas há opções bem mais modernas também, e até bastante confortáveis, como a Yucon Striker, a mais alta, rápida e longa montanha-russa de mergulho do mundo -daquelas que caem a 90 graus de inclinação-, além da recém-inaugurada AlpenFury, de lançamento eletromagnético, com nove inversões (isto é, aquele trecho em que os passageiros ficam de cabeça para baixo).
No mês de outubro, os ingressos custavam cerca de 50 dólares canadenses (R$ 190) e o passe fura-fila ilimitado saía por outros 90 dólares (R$ 340). Ou seja, um dia todo de diversão sem filas acaba saindo por menos do que um ingresso comum de qualquer parque de Orlando, nos EUA. Nos arredores dali, aliás, há uma porção de outlets para os que preferem se divertir fazendo compras.
Antes de ir embora, não deixe de conhecer as ilhas de Toronto, no lago Ontário. Elas formam um parque, talvez o mais interessante para turistas, justamente por oferecer uma combinação de muito verde, boas praias de água doce e as melhores vistas da cidade.
Na orla do centro antigo, procure pelos táxis aquáticos, ali pertinho do CN Tower e do Aquário -duas atrações, aliás, que podem ser dispensáveis caso a grana esteja curta, já que o combo com ambas sai pelo equivalente a R$ 300). Esses veículos levam às ilhas por 15 dólares canadenses (quase R$ 60), mas valem a pena porque a volta pode ser feita de graça nas balsas de linha, que cobram passagem só na ida.
Como as opções de alimentação nas ilhas são quase inexistentes, a dica é levar um lanchinho para passar o dia todo por lá.
Quem viaja em família pode desembarcar no centro das ilhas, e de lá seguir pedalando ou caminhando para a praia do centro. Já quem se sente à vontade em praias de nudismo pode rumar para o Hanlans Point, um dos mais antigos espaços queer ainda em atividade no mundo, que recebeu a primeira parada gay de Toronto, em 1972. A praia dessa parte das ilhas, virada para o oeste, tem um lindo pôr do sol. E deixa o turista com aquele gostinho de que deve ser muito bom morar em Toronto -pelo menos no verão, é claro.



