BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Representantes civis de Israel e do Líbano se encontraram nesta quarta-feira (3) em Nagoura, no sul do país árabe, para uma reunião do comitê que monitora o cessar-fogo entre os dois países. O desdobramento amplia o espaço para diálogo entre as partes, atualmente em uma trégua recheada de acusações de violação entre as partes e bombardeios israelenses, inclusive na capital libanesa.

A reunião também vai ao encontro de uma exigência feita pelo governo de Donald Trump feita há meses: de que os dois países ampliem as conversas para além do monitoramento do cessar-fogo, em vigor desde 2024 -em alinhamento com a agenda do presidente americano de costurar acordos de paz em todo o Oriente Médio.

O Líbano, que não reconhece o Estado de Israel, permanece oficialmente em estado de guerra com o vizinho e criminaliza contatos com cidadãos israelenses. Reuniões entre funcionários civis dos dois lados têm sido extremamente raras ao longo da conturbada história entre os países.

Após o encontro, o primeiro-ministro libanês Nawaf Salam disse que uma paz duradoura e normalização de relações diplomáticas poderia abrir caminho para a maior construção de laços econômicos -mas disse que esse futuro ainda está distante. Salam também disse que o governo em Beirute está aberto a receber tropas francesas e americanas em seu território para garantir a estabilidade da região.

Desde que foi criado para monitorar a trégua de 2024 mediada pelos EUA, o comitê tem contado apenas com a presença de oficiais militares de Israel, Líbano, EUA e França, além da força interina das Nações Unidas na região (Unifil) -cujo mandato está previsto para terminar no fim de 2026, após decisão do Conselho de Segurança da ONU.

A porta-voz do governo israelense, Shosh Bedrosian, em conversa com repórteres, afirmou que a reunião de quarta-feira foi “um desdobramento histórico”.

“Esta reunião direta entre Israel e Líbano ocorreu como resultado dos esforços do primeiro-ministro [Binyamin] Netanyahu para mudar a face do Oriente Médio. Como o primeiro-ministro disse, existem oportunidades únicas para criar paz com nossos vizinhos”, afirmou Bedrosian.

Netanyahu havia instruído Gil Reich, diretor interino do Conselho de Segurança Nacional, uma instituição civil do governo, a enviar um delegado em seu nome. “Esta é uma tentativa inicial de estabelecer uma base para um relacionamento e cooperação econômica entre Israel e Líbano”, disse um comunicado do gabinete de Netanyahu. O enviado foi Uri Resnick, diretor de política externa do conselho.

O gabinete do presidente libanês, Joseph Aoun, afirmou que ele nomeou Simon Karam, ex-embaixador nos EUA, para liderar a delegação libanesa depois que os EUA informaram a Beirute que Israel também havia concordado “em incluir um membro não militar” em sua delegação nas reuniões. Do lado americano, participou a enviada ao Líbano Morgan Ortagus.

Um comunicado emitido após o término da sessão diz que os participantes receberam bem os emissários adicionais como um “passo importante” para garantir que o comitê esteja “ancorado em um diálogo civil e militar duradouro”.

O comunicado afirma ainda que o comitê espera trabalhar em estreita colaboração com os representantes libaneses e israelenses para integrar suas recomendações a fim de promover a paz ao longo da fronteira, volátil ao menos desde as décadas de 1970 e 1980, quando Israel invadiu o Líbano com o objetivo declarado de desmontar grupos armados palestinos.

Foi em resposta a essas incursões, inclusive, que surgiu o Hezbollah, o grupo fundamentalista xiita apoiado pelo Irã que se tornou uma das principais forças políticas do país, com profunda capilaridade na sociedade libanesa.

Recentemente, com a manutenção do frágil cessar-fogo na Faixa de Gaza, as atenções do governo de Israel voltaram-se novamente ao sul do Líbano.

Tel Aviv segue acusando o Hezbollah de agir livremente na região, algo que, segundo acordos passados e o mandato da Unifil, não deveria ocorrer. O Exército israelense também executa bombardeios e operações terrestres pontuais em território libanês próximo à chamada Linha Azul, a fronteira de fato entre os dois países, a despeito da trégua.

Com o crescimento dos temores de que Israel voltasse à carga contra o grupo fundamentalista -cuja liderança foi destruída desde o início da guerra em Gaza, mas que segue como força política relevante- a reunião dá o sinal contrário de que há espaço para manutenção e avanço do cessar-fogo.

O escritório de mídia do Hezbollah não respondeu a perguntas da Reuters sobre a expansão das conversas. O grupo tem rejeitado repetidamente quaisquer negociações com Israel e as define como uma armadilha.