SÃO PAULO, SP E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Em ocasião solene nos estúdios Globo do Rio de Janeiro nesta quarta-feira (3), Susana Vieira foi homenageada com uma estrela na Calçada da Fama da emissora.
A atriz, porém, não deixou de soltar o verbo. Apesar de grata com a homenagem, ela se queixou da falta de oportunidades de trabalho para artistas veteranos e até do corte de uma farta cesta de Natal, segundo ela, oferecida na época de Roberto Marinho.
Confira na íntegra o discurso polêmico de Susana Vieira na inauguração de sua estrela na Calçada da Fama dos estúdios Globo.
“Eu não sei se eu quero falar. É porque tem compliance. E eu, quando falo, eu sei que sou meio cortada depois. Mas, enfim. Querido Soares, obrigada. Obrigada por você fazer parte dessa época. Você, juntamente com outras pessoas, deve ter tido a ideia de homenagear a gente.
Muitos de nós não estão mais na Globo trabalhando. Então, eu também achei muito bonito chamar as pessoas que não estão aqui. Porque o injusto seria isso. Mas a TV Globo pode estar passando por uma fase de novidade, de troca de elenco. Mas o público ama a gente. E o público está com saudade da gente. Não adianta botar só gente nova. Está faltando a gente. Eu estou falando por mim e por várias pessoas com quem eu conversei no particular agora.
Então, Soares, essa parte eu sei que é com você, sim. Gente, a gente está bonitinha. Olha a cara de cada um. A gente ainda dá para fazer vó. E vó namora também, viu? Vó namora. Pergunta para mim.
A minha história aqui com a Globo é a seguinte. Estreei na TV Globo em 1970. Eu fiz Pigmaleão 70 com o Sérgio Cardoso e Tônia Carrero. Eu fazia a menina má e a Tônia fazia a mulher. Ela era mais velha. Ela é 20 anos mais velha do que eu. Então, de 20 em 20 anos, eu digo que nasce uma estrela. Hoje eu estou com 83. Tônia estaria com 93. E tem Glorinha Pires, que tem 20 anos a menos do que eu. Eu acho que a Glorinha também tem que estar aqui, né? Pelo amor de Deus. Pelo amor de Deus, que ela é a nossa deusinha.
Então, eu quero dizer o seguinte. Quando a gente veio para esse lugar aqui, há muitos anos atrás, isso daqui era mato puro. O cara estava vendendo, era um português, o Sr. Roberto [Marinho], muito esperto, falou ‘ali a gente pode fazer uma coisinha’. Aí nós viemos para cá, mato, mato, tinha que fazer cocô e xixi numa casinha. E a comida vinha no… Regina, não fica fazendo que você não conhece isso. Você conhece sim. Ela estava com medo do compliance, mas eu não tenho mais medo disso.
Será que a pessoa pode ir presa com 83 anos? Bom, então é o seguinte. Aí era uma novela chamada ‘Fera Ferida’. A gente levava horas para chegar aqui. Você é desse tempo, meu diretorzão querido? Você tinha 12 anos, né? Só se você tivesse um garoto. Mas então, a gente inaugurou isso aqui e nunca a gente pensou que essa externa… Era uma externa, né? Pegava um ônibus, pegava uma carreta, né? E que hoje virasse isso. Eu me orgulho e me orgulho mesmo.
Olha, eu vou te dizer, parece uma coisa careta, parece uma coisa de funcionário público. Mas eu amo estar na mesma empresa há 60 anos. Mentira, quem fala 60? Eu entrei em 1970. Pigmaleão 70. Eu tenho, então, 55 anos de TV Globo. É, é isso. Bom, obrigada, gente. Não sei se é bom, muito bem. Patrícia Copelo, eu te amo. Tem duas pessoas especiais aqui. Você e o seu Soares. E o Manoel, que é o meu amor. Gente, eu mandei buscar esse homem lá fora, que a casa estava precisando de um diretor bonito, sexy, gentil. Aí trouxeram essa coisa linda. Não é você que eu mandei buscar na outra emissora? Estou brincando.
Olha, muito obrigada. Eu quero dizer o seguinte. Tem uma pessoa aqui que não está -vocês não fiquem ofendidos os diretores atuais- que fez essa emissora também. Chama-se José Bonifácio. O Boni, o Boni veio junto com a gente. O Boni fez isso. O Boni tirou leite da pedra, depois foi o leite da vaca, que a vaca deu frutos. E ele fez essa empresa crescer. Ele nos deu papéis maravilhosos. Ele sabia escolher. Ele valorizou todos nós. Nunca teve uma diminuição. Ele nos dava duas passagens por ano. A gente ia para a Europa ou para os Estados Unidos. Primeira coisa que cortaram.
E outra coisa também. Tinha o tal do peru do seu Roberto, que era a cesta de Natal da gente. Cortaram. Sabia, Soares? Não foi na sua, não. Foi na do outro. No seu Ali, né? Não, não. Aquele marido da Kogut, era o diretor daqui antes. Não? Não, não era você, não. Tinha outro. Mas enfim, vou falar com esse pessoal daqui que a gente sente falta. Vocês lembram? Dois pacotes de panetone Bauducco. Dois. Uma geladeirinha boa que a gente guardava para levar para Santos… Tinha um saquinho de salaminho. Como é que uma pessoa tem ideia de botar um saco de salaminho? É uma pessoa muito burra, mas enfim. Corta o salaminho e bota ali. E tinha o salaminho. Mas, gente, como a gente adorava aquilo. Como eu adorava o peru do seu Roberto. Não me conformo. E o pessoal que tinha filho pequeno também tinha brinquedos que davam.
Mas enfim. O país mudou, as coisas mudaram. A gente continua feliz de estar ainda empregado aqui. Eu me sinto grata por aquele… É uma coisa que eu não sabia se eu podia falar, mas eu já cheguei na empresa e falei que o meu contrato é vitalício. E é vitalício mesmo. E se vocês pensam que vocês vão me pagar três ou quatro anos, vão me aguentar até os cem anos, porque eu vou até lá. Tá bom? Você também [aponta para Luiz Fernando Guimarães]. Vai. Fazer aquele programa de velho. Outro dia chamaram eu ele para fazer um programa de velho. Mas ninguém me falou que era isso. Me chamaram para fazer uma gracinha. Quando a gente…
**Luiz Fernando Guimarães:** O programa chamava-se Falas. É sobre pessoas de setenta, oitenta…
Não falaram para mim que era sobre pessoas de setenta anos. Falaram que era eu e este menino, que é um comediante. Falei: ‘topo’. Quando eu vi lá, era só coisa de setenta anos, de menopausa, não sei o quê. Eu falei: ‘não vou falar’. Eu não tenho 83 anos. Quando eu falo, eu tenho. Mas, enfim. Muito obrigada, seu Roberto Marinho. Por ter tido essa cabeça incrível. E ter tido pessoas tão competentes que foram os criadores dessa programação. Parabéns!
Obrigada, gente, obrigada. Será que ficou faltando alguma coisa? Cadê o fotógrafo? Cadê a imprensa especializada? Queridos amigos, obrigada, Deus, por eu estar aqui com vocês hoje. Obrigada a minha família que me suporta. Minha família está aqui. Minha família é aqui também.”



