RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O cantor João Gomes disse que fazer o projeto “Dominguinho” o fez ter mais confiança em sua música. Ele foi uma das atrações do Navio Tempo Rei, cruzeiro temático dedicado a Gilberto Gil que embarcou na segunda (1º), em Santos, para onde retorna na quinta-feira (4), após parar no Rio de Janeiro na terça (2).
O álbum lançado neste ano reúne João Gomes, o acordeonista Mestrinho e o cantor Jotapê, e foi acompanhado por um vídeo gravado nas ruas de Olinda. Eles cantam músicas de seus repertórios individuais e também canções e gente como Kara Veia e Dorgival Dantas num formato de forró acústico, com violão, zabumba e sanfona.
“Faço há muito tempo o mesmo ritmo, o piseiro, e queria cantar de outra forma. Só que eu não queria que isso fosse estranho para a galera que já me ouvia -porque a gente é guiado pelo público”, diz à reportagem nos bastidores do cruzeiro de Gil, antes de subir ao palco.
A ideia do disco veio depois que João Gomes participou de um show com Vanessa da Mata. O sucesso dos vídeos da performance conjunta levaram o cantor a acreditar que poderia se aventurar pelo terreno da MPB, ainda que mantendo as raízes do baião.
“Eu já estava fazendo algumas músicas com Mestrinho, e sempre que a gente se encontrava ele dava dicas de canções. Falou de ‘Arriadinho por Tu’ e depois mostrou ‘Beija-Flor. Pensei em botar zabumba e sanfona em ‘Lenda’, música que era dele. No fim das contas virou um disco”, ele disse, citando canções do álbum.
Para João Gomes, “Dominguinho” o fez ter mais confiança. “Sempre tive essas ideias, mas não conseguia colocar em prática. Ia no efeito manada, fazendo mais do mesmo. Só que aí segurei as rédeas, disse ‘calma, deixa eu tentar fazer isso, depois eu faço o que a turma quer’.”
“Eu vivia muito rodeado de pessoas e mudei para ficar mais sozinho. Isso foi fundamental para eu saber o que era importante para mim. Entendi que se eu acertasse, muita gente ia dizer que acertou, mas se errasse era só eu. Então, que eu continuasse tentando, sem medo, com coragem de falar o que está no meu coração”, acrescentou.
Ele cantou com Mestrinho no cruzeiro na madrugada de quarta, logo depois de Paralamas do Sucesso e do primeiro dos dois shows de Gilberto Gil na embarcação. Também dividiu o palco com Mãeana, cantora que interpreta sua obra no projeto “Canta JG”, em que ela dá vida a músicas famosas com João Gilberto, além das do pernambucano.
Eles cantaram sucessos como “Meu Pedaço de Pecado” emendada em “Chega de Saudade”, e a cantora brincou com as críticas que recebeu na internet -acusada de embranquecer a música de João Gomes com suas versões em MPB. “Me abençoe, por favor”, ela pediu, ajoelhada, ao cantor. “Assim eu fico parecendo um velhinho”, ele respondeu, sem jeito.
“Defendo ela”, disse João Gomes. “Nem eu sabia o valor da minha música até ela chegar e falar tanta coisa de luz, tanta coisa bonita. O país inteiro não é só de uma raça, todo mundo é misturado, mestiço, tem alguma coisa de algum lugar. São questões injustas. É fácil falar qualquer coisa do sofá. A Mãeana tem um movimento em Salvador, me trouxe novos fãs e admiradores.”
Vencedor do Grammy Latino com “Dominguinho” na categoria de música de raiz cantada em português, João Gomes afirmou que o forró tem de ter uma categoria própria na premiação. “Um dia, quando eu tiver tamanho suficiente, vou brigar por isso”, ele disse. “O Leo Foguete, por exemplo, esse ano disputou em sertanejo, sendo que é até injusto para ele concorrer com Chitãozinho e Xororó. Ele não é sertanejo.”
“Estamos entrando na Academia, mas não estamos no lugar certo”, afirmou o cantor. “O que é música de raiz cantada em português? A música do Pará, da Bahia, de Pernambuco. Na nossa categoria, muita gente pode entrar. E o forró é muito grande.”
João Gomes também foi convidado para o especial de fim de ano se Roberto Carlos e confirmado como atração do próximo Rock in Rio. Ele falou sobre estar acessando lugares em que o forró não costuma ter muita entrada.
“Que a gente conquiste o Brasil inteiro e depois possa buscar os espaços mo Grammy. Esses espaços [para a música nordestina], com o tempo,teve que ser conquistado. Luiz Gonzaga chegou ao Ro de Janeiro, depois veio o Alceu Valença e todo o resto. Se a música tivesse um pai e eu fosse falar com o pai da música, diria que minhas intenções são as melhores.”



