RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Manobra política realizada pelo governador Cláudio Castro (PL) e pelo deputado estadual Rodrigo Bacellar (União), em setembro, que evitou que a manutenção da prisão de TH Joias passasse por votação na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) foi vista pela Polícia Federal como articulação para “proteção de agentes políticos aliados” ao Comando Vermelho.

Procurado, Castro não respondeu até a publicação desta reportagem. A assessoria do deputado Rodrigo Bacellar e os diretórios nacional e estadual do União também não se manifestaram. Bacellar é presidente estadual da legenda.

Thiego Raimundo dos Santos, o TH Joias, foi preso no dia 3 de setembro, sob suspeita de ser um intermediário do CV. Ele era deputado estadual pelo MDB.

Suplente, havia assumido o mandato após a morte de Otoni de Paula Pai e a manutenção de Rafael Picciani (MDB) como secretário de Esportes do governo Castro.

No dia da prisão de TH, Castro exonerou Picciani, que reassumiu a cadeira na Alerj. A manobra fez com que TH Joias perdesse o mandato. TH também foi expulso do MDB.

A costura serviu para evitar que a Alerj precisasse decidir pela manutenção da prisão de TH. A manobra, para a PF, envolveu participação de Bacellar, presidente da Casa.

“O governador do estado e a cúpula da Alerj promoveram uma célere manobra regimental. Esta ação política, que remete à notória Carta Picciani, resultou no retorno imediato de deputado titular ao cargo, exonerando TH Joias (seu suplente) do mandato parlamentar”, afirma a PF, em trecho mencionado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), na decisão pela prisão de Bacellar, nesta quarta-feira (3).

Na época da exoneração de Picciani, Castro escreveu no X: “O retorno de Rafael já estava previsto, mas, diante da operação realizada hoje, decidimos antecipar. O trabalho integrado deixa um recado muito claro: a lei vale para todos”, escreveu.

Para a PF, o vazamento da prisão de TH, do qual Bacellar é suspeito, teria como finalidade proteger supostos aliados do CV.

“Tal articulação serve como forte indício de que o vazamento de informações pode ter tido como objetivo primário a proteção de agentes políticos aliados à organização criminosa”, diz a PF, que indica que “um possível objetivo subjacente da ação obstrutiva é a manutenção do vínculo desses agentes políticos com o Comando Vermelho, facção responsável pelo maior controle territorial do estado do Rio de Janeiro”.

“A movimentação se justifica como uma estratégia imediata de controle de danos, visando desvincular a imagem da Alerj do investigado TH”, diz ainda a polícia.

Em nota divulgada no início da tarde, a Alerj afirmou que “ainda não foi comunicada oficialmente sobre a operação ocorrida nesta manhã. Assim que tiver acesso a todas as informações, irá tomar as medidas cabíveis”.

A investigação da Operação Zargun, que culminou na prisão de TH em setembro, apontou que o ex-deputado é suspeito de intermediar compra de armas e equipamentos antidrones para o CV. Sob TH também recai a suspeita de nomeação em seu gabinete na Alerj de assessores com supostos vínculos com a facção.

A investigação da Polícia Federal que culminou com a prisão do presidente da Alerj revelou diálogos e imagens que ele manteve na véspera e no dia da prisão do então deputado TH Joias.

Entre as conversas, TH Joias chama Bacellar de “01”, e este responde com uma figurinha de um homem bebendo cerveja, após TH avisar que havia comprado um celular novo.

Já no dia da operação, Bacellar é avisado em tempo real, por foto, da presença da Polícia Federal, que tentava cumprir o mandado de prisão.

Segundo a Polícia Federal, TH comprou um celular novo na noite anterior à operação e colocou Bacellar como primeiro contato na lista de comunicação urgente. Para os investigadores, isso sugere que ele já tinha conhecimento da troca de celular e do plano de fuga.