BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), se tornou o responsável pela operação que prendeu nesta quarta-feira (3) o presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) a partir do entendimento de que o caso tem conexão com a chamada ADPF das Favelas, que ele herdou do ministro Edson Fachin.
Os documentos da Polícia Federal que motivaram a prisão do deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil) foram enviados em uma investigação conexa à ADPF -uma ação que discute a letalidade da atuação da polícia no Rio de Janeiro- e supervisionada por Moraes.
A operação desta quarta, que se chamou Unha e Carne, é um desdobramento de outra operação de setembro, chamada Zargun. Nela, o então deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, foi preso. Ele era filiado ao MDB, mas foi expulso após o caso.
As decisões que respaldaram a deflagração da Zargun, à época, foram ordenadas pelas Justiça Federal e estadual, não pelo Supremo.
Para que o caso chegasse às mãos de Moraes, o caminho passou pela ADPF das Favelas, da qual ele se tornou relator temporariamente enquanto não é definido um sucessor para a vaga aberta com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso da corte.
Por causa dessa relatoria, Moraes abriu um inquérito vinculado a seu gabinete após a Operação Contenção, a mais letal da história do país, para apurar suspeitas relacionadas ao crime organizado no Rio de Janeiro.
Ele tem o “objetivo de apurar indícios concretos de crimes com repercussão interestadual e internacional e que exigem repressão uniforme”. Além disso, pretende “investigar a atuação dos principais grupos criminosos violentos em atividade no Estado e suas conexões com agentes públicos, sem prejuízo da possibilidade de atuação conjunta aos órgãos e forças de segurança estaduais”.
Foi em um procedimento relacionado a esse inquérito que a Polícia Federal encaminhou os autos das investigações sobre TH Joias, que é apontado como suspeito de conexão com o Comando Vermelho e de usar seu mandato para lavar dinheiro dos crimes cometidos pela facção.
De acordo com a decisão de Moraes, a PF também pediu ao ministro nesses autos a decretação da prisão preventiva (sem tempo determinado) de Bacellar, além de busca e apreensão e afastamento do mandato parlamentar, sob a suspeita de que ele vazou informações sigilosas da Operação Zargun a TH Joias.
A PGR (Procuradoria-Geral da República) também deu aval para que Moraes decidisse pela prisão.
A manutenção de Moraes com assuntos relacionados a facções e segurança pública têm servido, como a Folha mostrou, para que ele se torne referência na corte sobre o tema, que domina a agenda do país e com potencial de ser o principal assunto nas eleições de 2026.
Também tem o potencial de se tornar mais um dos “superinquéritos” sob a responsabilidade do Supremo, que têm se tornado comuns desde que Moraes assumiu, em 2019, o inquérito das Fake News.
Foi a partir dessa relatoria da ADPF que o ministro se reuniu com o governador Cláudio Castro (PL-RJ) para tratar do balanço da Operação Contenção no início de novembro.
Em nota divulgada no início da tarde, a Alerj afirmou que “ainda não foi comunicada oficialmente sobre a operação ocorrida nesta manhã. Assim que tiver acesso a todas as informações, irá tomar as medidas cabíveis”. A PF realizou busca e apreensão na parte da manhã no gabinete de Bacellar.
O superintendente da Polícia Federal no Rio, Fábio Galvão, chamou Bacellar para a sede da corporação, e ele foi detido ao chegar ao local. A estratégia foi usada para evitar espetacularização da prisão.



