RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A investigação da Polícia Federal que culminou com a prisão do presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), Rodrigo Bacellar, nesta quarta-feira (3), revela diálogos e imagens que ele manteve na véspera e no dia da prisão do então deputado TH Joias, detido em setembro.
Entre as conversas registradas na véspera da deflagração da operação, TH Joias chama Bacellar de 01, e este responde com uma figurinha de um homem bebendo cerveja, após ser avisado por TH de que havia comprado um celular novo. Já no dia da operação, Bacellar é avisado em tempo real, por foto, da presença da Polícia Federal, que tentava cumprir o mandado de prisão contra TH. A defesa de Bacellar ainda não se manifestou.
Em nota divulgada no início da tarde, a Alerj afirmou que “ainda não foi comunicada oficialmente sobre a operação ocorrida nesta manhã. Assim que tiver acesso a todas as informações, irá tomar as medidas cabíveis”. A PF realizou busca e apreensão na parte da manhã no gabinete de Bacellar.
Segundo a Polícia Federal, TH comprou um celular novo na noite anterior à operação e colocou Bacellar como primeiro contato na lista de comunicação urgente. Após ser chamado de “01” por TH, Bacellar responde com a figurinha. Para os investigadores, isso sugere que ele já tinha conhecimento da troca de celular e do plano de fuga.
No dia da operação, às 6h03, TH não foi encontrado em sua residência no condomínio Mansões, na Barra da Tijuca, zona sudoeste do Rio de Janeiro. Ele, no entanto, foi localizado horas depois em outro condomínio.
Enquanto a PF estava na casa de TH, o então deputado enviou a Bacellar uma foto de um celular contendo imagens do sistema de segurança do imóvel, que mostravam a equipe policial dentro da residência. O local estava revirado e faltavam móveis.
A representação da PF afirma que, “diante do cenário probatório apresentado, mostra-se inequívoco o conhecimento prévio e o direcionamento das ações de TH pelo deputado estadual Rodrigo Bacellar, agente anômalo na cadeia hierárquica em que transitam informações sigilosas oriundas dos órgãos estaduais”.
Os investigadores afirmaram ainda que, como presidente da Alerj, Bacellar é “figura central no combate à criminalidade violenta no Estado do Rio de Janeiro”. A Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República ressaltaram que a necessidade da prisão se impunha para garantir a ordem pública, uma vez que os crimes investigados, entre eles organização criminosa armada com participação de funcionário público e obstrução de investigação, revelam “o grau acentuado de vulneração à ordem pública” e a infiltração de interesses ilícitos em estruturas estatais, caracterizando um cenário de “estado paralelo”.
Segundo a Procuradoria, a influência de Bacellar não se limitava à assembleia: ele também exerceria ingerência no Poder Executivo estadual, interferindo na nomeação de cargos estratégicos nas polícias Civil e Militar. Esse domínio ampliaria sua capacidade de interferir nas investigações, segundo os investigadores.
Para a PF, o caso representa “o retrato perfeito da espoliação dos espaços públicos de poder pelas facções criminosas no Rio de Janeiro”, evidenciando um “verdadeiro estado paralelo” comandado por “capos da política fluminense”, responsáveis por vazar informações e inviabilizar operações contra grupos como o Comando Vermelho.
Outro ponto destacado pela investigação foi a reação política imediata à deflagração da Operação Zargun. Conforme a PF, houve uma “célere manobra regimental” articulada pelo governador e pela cúpula da Alerj logo após as medidas cautelares.
A manobra permitiu o retorno instantâneo de um deputado titular ao cargo, resultando na exoneração do suplente TH Joias no próprio dia da operação. Para os investigadores, essa articulação constitui “forte indício de que o vazamento de informações pode ter tido como objetivo primário a proteção de agentes políticos aliados à organização criminosa”.
Além disso, a PF aponta que um objetivo subjacente à obstrução seria a “manutenção do vínculo desses agentes políticos com o Comando Vermelho”, facção que representa “milhões de votos no pleito eleitoral que se avizinha”, dada sua influência territorial no estado.
A decisão do STF também alcançou o assessor parlamentar Thárcio Nascimento Salgado, para quem foram aplicadas medidas cautelares diversas da prisão. Thárcio teria fornecido auxílio material para que TH Joias fugisse na véspera de sua captura. Às 22h27, o parlamentar pediu o endereço pelo novo número de telefone, e o assessor informou apenas o bloco 6 e o apartamento 802. TH Joias foi encontrado no apartamento 802 do Condomínio Majestic. Ainda não há informações sobre se o assessor foi localizado.



