RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Basílica da Imaculada Conceição, localizada na praia de Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, preocupa fiéis e moradores devido a rachaduras e fissuras observadas no teto e na lateral direita da igreja, próximo ao altar.

O imóvel é considerado um patrimônio histórico municipal, tombado desde 1987.

Logo ao entrar na igreja, do lado direito, a área está isolada com uma fita amarela e um aviso alertando que existe perigo de queda de materiais do teto, visivelmente com uma rachadura grande. Próximo ao altar também é possível notar infiltrações.

As fitas de isolamento foram colocadas pela Defesa Civil municipal em setembro de 2024, quando o órgão foi acionado pelo cônego Marcos William, responsável pela igreja há cerca de 20 anos. “Eles avaliaram que não havia risco iminente de desabamento, mas, por precaução, interditaram a área”, disse o religioso.

Na inspeção, os técnicos constataram pequenas fissuras, rachaduras e umidade no teto, sem risco iminente de desabamento, mas recomendaram intervenções urgentes e obras estruturais. O órgão afirma que não houve solicitação recente de vistoria.

O laudo foi enviado ao IRPH (Instituto Rio Patrimônio da Humanidade) e ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), órgãos municipal e federal, para acompanhamento e fiscalização.

Após mais de um ano das fitas instaladas para isolar parte da igreja, as obras emergenciais começam nesta semana, segundo a Emop-RJ (Empresa Municipal de Obras Públicas). O custo total dos reparos ainda não está definido.

Enquanto a situação não é resolvida, nenhuma atividade da igreja foi interrompida, o que preocupa alguns frequentadores, como Monique Ramiro, 50.

“É de cortar o coração ver a Basílica nesse estado, parte da história da minha vida está nela. Estudei no colégio Imaculada Conceição por anos. Fico com medo, porque vejo a área interditada já por meses e acho que isso pode aumentar os riscos de cair alguma coisa e machucar alguém”, disse.

As restaurações devem ser realizadas com verbas do governo estadual, pelo programa Infratur, que prevê reforma, recuperação e requalificação de prédios e atrativos turísticos, públicos ou privados, desde que abertos à população.

Embora a legislação não mencione templos religiosos, igrejas antigas e de relevância histórica ou turística podem ser contempladas, inclusive imóveis tombados com mais de 100 anos ou de interesse social, mediante autorização do proprietário.

A situação da basílica levou a Associação de Moradores e Amigos de Botafogo a procurar o Ministério Público estadual.

Regina Chiaradia, presidente da entidade, critica o desmembramento da antiga residência das freiras, que fica ao lado da igreja. O imóvel foi vendido para a Performance Empreendimentos Imobiliários,q ue vai construir um prédio no espaço.

“O abalo da nova construção está danificando a igreja. E, pelas fotos, parece que havia um cemitério no local, isso era comum nas igrejas antigas. É uma situação estranhíssima. Já entramos com queixa no Ministério Público, mas não tivemos uma definição”, afirma.

Via assessoria, a Performance disse que as trincas e fissuras na Basílica Imaculada Conceição foram identificadas em laudo técnico da Defesa Civil, anteriores a qualquer intervenção relacionada ao empreendimento Enseada Botafogo e que a empresa “permanece à disposição das autoridades competentes para quaisquer esclarecimentos”. A empresa afirma ainda que o projeto foi devidamente aprovado e que segue rigorosamente a legislação vigente.

O Ministério Público do Rio de Janeiro instaurou um inquérito civil para apurar a autorização concedida pela prefeitura para a obra, investigando possível violação das normas de preservação do entorno de bens tombados.

A denúncia partiu de um morador, que questionou o aumento de altura do prédio, anteriormente limitado a três andares. Segundo a Promotoria, no início deste mês foi solicitada uma perícia pelo Grupo de Apoio Técnico Especializado do próprio Ministério Público, ainda em andamento.

Segundo o IRPH, o projeto passou pelo processo regular, recebeu parecer técnico favorável e foi aprovado pelo Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural.

A Basílica da Imaculada Conceição foi construída em 1886 como capela do Colégio da Imaculada Conceição, fundado por irmãs francesas a convite de Dom Pedro 2º, projetada pelo padre Júlio Clavelin. Com vista para a Praia de Botafogo e o Corcovado, destaca-se pelos vitrais franceses e brasileiros e colunas de mármore rosa.

A igreja, elevada a Basílica Menor, abriga o túmulo de Odettinha, menina em processo de beatificação.