SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O candidato à Presidência de Honduras Salvador Nasralla apareceu à frente de seu rival Nasry Asfura por 0,07 ponto percentual na tarde desta segunda-feira (2), quando o órgão eleitoral do país centro-americano retomou a contagem sob pressão de Donald Trump.

O presidente dos Estados Unidos, no entanto, não deve se contentar com os números -que ainda podem mudar nas próximas horas devido à proximidade entre os presidenciáveis na corrida. O republicano teve um papel ativo no pleito, chegando a afirmar que cortaria a cooperação ao país se Asfura, um empresário de 67 anos do PN (Partido Nacional), não saísse vitorioso.

Horas antes da retomada da apuração, Trump renovou as ameaças. “Parece que Honduras está tentando alterar os resultados da eleição presidencial. Se conseguirem, haverá consequências graves”, afirmou o republicano em sua plataforma, a Truth Social.

Ele respalda sua acusação na pausa da contagem preliminar durante a noite desta segunda, quando os dois candidatos mais populares apareciam com uma diferença de 515 votos -praticamente empatados, cada um com pouco menos de 40% dos votos. A esquerdista Rixi Moncada, do Libre, estava em um distante terceiro lugar com 19% dos votos.

Em um comunicado nesta terça, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) atribuiu a lentidão a uma falha no sistema, o que também levou a problemas no site onde os resultados deveriam ser atualizados em tempo real. O portal ficou fora do ar durante grande parte de segunda, aumentando as tensões na disputa acirrada, como previam pesquisas eleitorais.

Agora, funcionários do órgão agora estão contando os votos manualmente, e não está claro quando a apuração será finalizada -a lei hondurenha exige que o CNE divulgue os resultados oficiais em até um mês.

Trump chama o direitista Nasralla, apresentador de televisão de 72 anos e candidato do Partido Liberal, de “quase comunista” por ter ocupado um cargo no governo da presidente de esquerda Xiomara Castro, com quem rompeu pouco depois.

O candidato atribuiu as declarações a uma “desinformação mal-intencionada” de seus adversários. Asfura, por sua vez, aproveitou o apoio e disse estar pronto para colaborar com os EUA, principal parceiro comercial do país e onde vivem dois milhões de hondurenhos.

“Os números vão falar por si mesmos”, disse Asfura, enquanto Nasralla declarou que só poderia perder em caso de trapaça, nas palavras dele.

As eleições representam um revés para a esquerda, liderada por Xiomara, que governa um dos países mais pobres e violentos da América Latina, afetado pelo narcotráfico e pela corrupção.

A candidata do governo, Rixi Moncada, acusada por Trump de ser aliada do ditador venezuelano Nicolás Maduro, ficou a uma distância de mais de 20 pontos percentuais dos primeiros colocados.

O apoio de Trump ao ex-prefeito de Tegucigalpa “foi entendido pelo povo como uma coerção”, disse Moncada nesta segunda-feira.

Xiomara chegou ao poder em 2021, mais de uma década após o golpe de Estado contra seu marido, Manuel Zelaya, que se aproximou da Venezuela e de Cuba, o que provocou uma inédita polarização entre esquerda e direita em Honduras.

Asfura e Nasralla basearam suas campanhas na tese de que a permanência da esquerda tornaria Honduras a nova Venezuela, mergulhada em uma crise profunda, e se mostraram dispostos a se aproximar de Taiwan, em detrimento da relação com a China -a ilha de gestão autônoma é considerada por Pequim como parte de seu território.

A intervenção de Trump foi ainda mais longe ao anunciar que concederá indulto ao ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, condenado nos EUA a 45 anos de prisão pelo envio de centenas de toneladas de drogas em aliança com o narcotraficante mexicano Joaquín “El Chapo” Guzmán.

Segundo a Justiça americana, Hernández, que governou de 2014 a 2022 com o partido de Asfura, transformou Honduras em um narcoestado, mas Trump considera que ele foi vítima de uma armação de seu antecessor, Joe Biden.

O anunciado perdão vai na contramão da ofensiva de Trump contra embarcações supostamente ligadas ao narcotráfico no Caribe, como parte de sua pressão sobre Maduro, aliado de Xiomara.

O perdão a este “chefão do tráfico” [Hernández] foi negociado pelas elites locais, denunciou Moncada, a candidata de esquerda, uma advogada de 60 anos.

Asfura disputa a Presidência pela segunda vez, após a derrota em 2021 para Xiomara, e Nasralla está em sua terceira candidatura.

Preocupados com a troca de ataques, os candidatos pouco abordaram durante a campanha as preocupações principais dos hondurenhos: a pobreza, a violência das gangues, a corrupção e o narcotráfico.

Honduras é um país extremamente dependente dos EUA, com 60% de seus 11 milhões de habitantes vivendo na pobreza e 27% de seu PIB alimentado pelas remessas dos imigrantes.

Quase 6,5 milhões de hondurenhos estavam registrados para votar em quem sucederá Xiomara em uma votação de turno único, que também define deputados e prefeitos para mandatos de quatro anos.

Após uma campanha marcada por denúncias antecipadas de fraude, o dia de votação transcorreu em um ambiente de calma, segundo a missão de observadores da OEA (Organização dos Estados Americanos).