BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) ligou nesta terça-feira (2) para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, telefonema no qual trataram do combate ao crime organizado. Sem citar as interferências do país na Venezuela, o brasileiro pediu cooperação dos EUA no tema, em ligação que durou 40 minutos, segundo o Planalto.

“O presidente Lula ressaltou a urgência em reforçar a cooperação com os EUA para combater o crime organizado internacional. Destacou as recentes operações realizadas no Brasil pelo governo federal com vistas a asfixiar financeiramente o crime organizado e identificou ramificações que operam a partir do exterior”, diz a nota do governo brasileiro.

“O presidente Trump ressaltou total disposição em trabalhar junto com o Brasil e que dará todo o apoio a iniciativas conjuntas entre os dois países para enfrentar essas organizações criminosas”, afirma o Planalto no comunicado.

Os dois presidentes concordaram em voltar a conversar em breve sobre o andamento dessas iniciativas.

Os EUA mantêm desde agosto uma operação com o objetivo declarado de combater o narcotráfico na América Latina. A mobilização americana inclui navios, caças, milhares de militares e o maior porta-aviões do mundo.

Caracas afirma que as manobras não têm como objetivo combater o narcotráfico, mas sim derrubar o regime. A Casa Branca acusa o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, de liderar o Cartel de los Soles, organização criminosa cuja existência é colocada em dúvida por especialistas —o autocrata nega qualquer relação com o narcotráfico.

A partir daquele mês de agosto, Washington passou a bombardear embarcações no Caribe e no oceano Pacífico que supostamente estariam carregando drogas e sendo tripuladas por traficantes. Até o momento, o governo Trump não forneceu evidências de que os barcos eram ligados a grupos criminosos. Mais de 80 pessoas teriam morrido nos ataques.

A Venezuela foi um assunto levantado por Lula na primeira reunião presencial que teve com Trump, na Malásia, em outubro. O presidente brasileiro se colocou como possível mediador.

“[Lula] levantou o tema, disse que a América Latina e América do Sul, especificamente onde estamos, é uma região de paz e ele se prontificou a ser um contato, ser um interlocutor, como já foi no passado, com a Venezuela para se buscar soluções que sejam mutuamente aceitáveis e corretas entre os dois países”, afirmou o chanceler Mauro Vieira.

Dois interlocutores do Departamento de Estado disseram à Folha que a sugestão foi mal recebida porque a abordagem defendida pelos EUA na ocasião não considerava negociações diplomáticas.

Recentemente, no entanto, ainda que diante de meses de pressão sobre Caracas, Trump e Maduro conversaram por telefone. Em ligação feita no dia 21 de novembro Trump teria rejeitado uma série de pedidos feitos pelo autocrata.

A chamada desta terça também tratou de temas da agenda comercial e econômica, segundo o Planalto. Lula indicou ter sido “muito positiva” a decisão dos EUA de retirar a tarifa adicional de 40% imposta a alguns produtos brasileiros, como carne, café e frutas.

No telefonema desta terça, Lula também voltou a tratar do tarifaço, afirmando que ainda há outros produtos tarifados que precisam ser discutidos entre os dois países, e reforçou a intenção do Brasil de avançar rápido nessas negociações.

Nesta semana, documento da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) sobre os desafios da instituição para o próximo ano apontou que a interferência externa e a atuação do crime organizado como riscos para o processo eleitoral de 2026.

A pauta de combate ao crime organizado ganhou mais força política após a megaoperação policial no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos. Na ocasião, o governador Cláudio Castro (PL) travou embates com o governo federal, alegando falta de amparo da gestão de Lula para a segurança pública dos estados.

Em meio aos embates, o governo Trump chegou a publicar carta dirigida ao governo fluminense na qual lamentou a morte de policiais e se colocou “à disposição para qualquer apoio que se faça necessário”.

Em reação às falas de Castro, o governo tratou de acelerar o andamento de pautas de autoria da gestão petista no Congresso Nacional, como a PEC da Segurança Pública, que centraliza no Executivo federal algumas diretrizes de segurança e sofre resistência de governadores.

Junto a ela, o PL Antifacção foi um dos principais objetos de embate e discussão política entre governo e oposição, após mudanças feitas no texto de Lewandowski pelo relator Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança licenciado de Tarcísio de Freitas (Republicanos).