SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa renovou a máxima intradiária nesta terça-feira (2), ultrapassando a marca dos 160 mil pontos pela primeira vez na história, com investidores reagindo a dados fracos da indústria brasileira e projetando um possível corte de juros no país. O cenário eleitorial também está no radar.
No exterior, as atenções seguem voltadas para uma possível nova redução na taxa básica dos EUA em dezembro, na última reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) deste ano. O pregão, porém, é marcado pela ausência de divulgação de indicadores relevantes no mercado americano.
Às 12h56, o Ibovespa, índice de referência do mercado acionário brasileiro, subia 0,73%, aos 159.771 pontos, após registrar uma nova máxima intradiária de 160.473 pontos durante o pregão. No mesmo horário, a moeda norte-americana caía 0,29%, cotada a R$ 5,343.
No mercado doméstico, os investidores estão atentos a dados da economia brasileira. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a indústria brasileira registrou crescimento abaixo do esperado em outubro.
No mês, a produção industrial teve avanço de 0,1% em relação a setembro, resultado que ficou aquém da expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,4%. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve queda de 0,5% na produção, contra expectativa de avanço de 0,2%.
A indústria vem enfrentando este ano a pressão da uma política monetária, com a taxa básica de juros em 15%, que encarece o crédito.
Segundo Ian Lopes, economista da Valor Investimentos, os dados industriais mais fracos impulsionam a Bolsa. “Mostram uma desaceleração econômica e demonstram o impacto da Selic mais alta. Com a desaceleração, o mercado já precifica um corte de juros; não se sabe quando, mas provavelmente no início do ano que vem”.
Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, concorda. “São dados que confirmam um cenário de atividade [econômica] menor e isso ajuda no início do ciclo de cortes no 1º trimestre de 2026”.
Os sinais do Banco Central têm sido mistos. Em evento da XP Investimentos, em São Paulo, na segunda, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo afirmou que o mercado de trabalho brasileiro está aquecido e que isso exige uma postura conservadora do BC.
Na sexta-feira (28), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que a taxa de desemprego do Brasil foi de 5,4% no trimestre encerrado em outubro, o menor patamar registrado em toda a série histórica, que começou em 2012.
O presidente do Banco Central também disse que a inflação ainda não está onde demanda o mandato do BC e que expectativas e projeções “caem bem menos do que a gente gostaria”.
O alvo central perseguido pelo BC é 3%. No modelo de meta contínua, o objetivo é considerado descumprido quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).
Na última terça-feira (25), porém, Nilton David, diretor de Política Monetária do Banco Central, afirmou que a expectativa é de que o BC realize cortes na taxa Selic, não aumentos. Ele não especificou quando essas reduções poderiam ser realizadas.
O Banco Central volta a se reunir na próxima semana para sua última decisão do ano de política monetária, com expectativa de manutenção da Selic.
Felipe Tavares, da BGC Liquidez, também destaca que, com o cenário de juros caindo praticamente certo, o cenário eleitoral de 2026 e o fluxo estrangeiros vindo para o Brasil destacam o alta da Bolsa.
Uma pesquisa AtlasIntel divulgada nesta terça-feira (2) revela que, em um eventual segundo turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece empatado na margem de erro com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O petista teria 49% dos votos, ante 47% de Tarcísio.
Na simulação de primeiro turno, Lula teve 48,4% e Tarcísio, 32,5%.
Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, o ano eleitoral promete volatilidade. “Para a taxa de câmbio, isso não deve ocorrer apenas no segundo semestre -a tendência é que haja volatilidade ao longo de todo o ano”.
No exterior, analistas continuam atentos às expectativas de corte de juros nos EUA pelo Fed, que pesam sobre a divisa americana, em dia de pregão esvaziado.
Na semana passada, foram divulgados o livro Bege, relatório do Fed sobre as condições econômicas dos EUA e os índice de preços ao produtor e vendas no varejo, que tiveram resultados abaixo do esperado ou em linha com as projeções de economistas.
A ferramenta FedWatch, do CME Group revela que investidores veem uma chance de 87,4% de que o banco central americano reduza a taxa de juros para 3,50% a 3,75%, em dezembro -hoje é de 3,75% a 4,00%.
Reduções nos juros dos EUA costumam ser uma boa notícia para os mercados globais -e o oposto também é verdadeiro. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, também chamados de “treasuries”, são um investimento praticamente livre de risco.
Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.
Além disso, uma redução nos juros por lá e a manutenção da taxa brasileira fortalece a estratégia conhecida como “carry trade”. Nela, pega-se dinheiro emprestado a taxas mais baixas, como a dos EUA, para investir em ativos com alta rentabilidade, como a renda fixa brasileira.
Assim, quanto mais atrativo o carry trade, mais dólares tendem a entrar no Brasil, o que ajuda a valorizar o real.



