SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sem reversão na tendência de queda no volume em novembro, o sistema Cantareira vai continuar a operar na segunda faixa mais crítica de abastecimento durante dezembro. Dados mostram que o sistema tinha 20,8% de volume armazenado nesta segunda-feira (1º).

O indicador está no limite da chamada faixa de restrição, que estabelece volume entre 20% e 30% e permite a retirada de 23 mil litros de água por segundo. Abaixo dela está a faixa especial, que limita essa redução a 15,5 mil litros por segundo.

Em novembro, o volume de chuva na área dos reservatórios responsáveis por abastecer a região metropolitana de São Paulo ficou abaixo da média, e o governo estadual tem acelerado medidas para enfrentar os próximos meses.

Além disso, o Sistema Integrado Metropolitano (SIM), com 25,7% de sua capacidade, também segue operando com restrições e medidas como a redução da pressão de água por dez horas, segundo modelo anunciado no fim de outubro pela Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo).

No Cantareira, a retirada de água é organizada em cinco faixas, da menos à mais grave, por meio de uma resolução conjunta entre a Ana (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) e o antigo Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), atual SP Águas. A partir da faixa 2 (quando o volume armazenado é igual ou maior que 40% e menor que 60%) é permitido à Sabesp usar água do reservatório de Jaguari, na bacia do rio Paraíba do Sul.

Segundo a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), Natália Resende, o cenário atual tem seguido a modelagem do governo para monitorar a situação, na chamada curva de contingência.

A chuva no Cantareira, diz afirma, registrou 108 milímetros em novembro, ante uma média de 150 milímetros. Para enfrentar a escassez, considerada crônica pela alta demanda da população na região metropolitana, o governo tem anunciado diferentes medidas.

Uma delas foi a entrega antecipada da captação no rio Itapanhaú, na Serra do Mar, que adiciona 2.500 litros de água por segundo ao sistema Alto Tietê (17% de incremento) por meio de oito bombas.

A obra de R$ 300 milhões estava prevista para terminar no ano que vem, foi entregue antes e funciona atualmente por meio de geradores até a conclusão das linhas de energia. Outras iniciativas, diz Natália, estão em andamento para adicionar mais água ao sistema, como a expansão da Estação de Tratamento de Água Rio Grande, com 400 litros por segundo.

Também estão previstas outras obras, como a interligação Billings-Taiaçupeba, com conclusão prevista para 2027 —que também deve ser antecipada— e acréscimo de 4.000 litros por segundo de água, a um custo de R$ 530 milhões.

O governo também aponta economia de 44,3 bilhões de litros de água por meio da redução de pressão no abastecimento durante a noite. O volume considera o período de 28 de agosto a 23 de novembro e poderia abastecer por um mês, segundo cálculo da administração, 7,8 milhões de pessoas.

Por outro lado, a secretária diz que a gestão tem investido em campanhas de conscientização sobre consumo. “É preciso racionalizar, é preciso fazer esse uso racional de recursos hídricos, ter um consumo olhando a hora de escovar dentes e fechar torneira, de tomar banhos mais curtos.”

Para Eduardo Caetano, coordenador de conhecimento do Instituto Água e Saneamento, caso o nível do Cantareira fique abaixo de 20% perto do fim de dezembro, é possível que a população passe a sentir mais efeitos da restrição no abastecimento. “Lembrando que a gente já está sob medidas drásticas de uma redução de demanda noturna de 10 horas.”

A avaliação de Caetano é que, com as chuvas, o sistema pode recuperar o nível e talvez não seja preciso adotar medidas mais severas, embora isso também não esteja garantido. Na área do sistema metropolitano, de acordo com o governo, novembro teve acumulado de 82,7 milímetros, abaixo de 2021, um dos anos de referência para a crise, de 98,8 milímetros, e abaixo da média histórica para o mês, de 142,6 milímetros.

O especialista também defende mais transparência em relação aos números, especialmente para discriminar o que o governo anuncia com a redução de pressão do que efetivamente foi reduzido de consumo da população, e que ainda não é possível avaliar a efetividade dessas medidas.