SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em leve queda nesta terça-feira (2), com os investidores atentos aos debates no Congresso para a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias e do aumento da tributação de fintechs e bets nas comissões do Poder Legislativo.

Já nos EUA, a preocupação se haverá novo corte na taxa de juros em dezembro, na última reunião do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) deste ano.

Às 9h05, a moeda norte-americana caía 0,27%, cotada a R$ 5,3459. Na segunda-feira (1º), o dólar fechou em alta de 0,44%, cotado a R$ 5,359, com os investidores reagindo à divulgação de dados da economia norte-americana, a uma possível redução de juros no Japão e à participação do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em um evento em São Paulo.

A Bolsa, por outro lado, recuou 0,28%, a 158.611 pontos, acompanhando uma aversão global ao risco.

Nos EUA, no dia em que o mercado americano retoma as atividades regulares após a liquidez reduzida pelo feriado do Dia de Ação de Graças, os índices Dow Jones e Nasdaq também registraram quedas, de 0,90% e 0,38%, respectivamente.

O pessimismo devolve parte dos ganhos da sexta-feira (28), quando o dólar caiu 0,31%, a R$ 5,335, e a Bolsa renovou o recorde de fechamento ao superar os 159 mil pontos pela primeira vez na história (159.072 pontos).

Para Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, ainda é incerto se o movimento indica ou não uma tendência para a semana. Segundo ele, o movimento é de ajuste.

“PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil e dados dos EUA vão indicar como vai ser o fluxo de abertura do mês. A Bolsa subiu bastante na semana passada, e dólar caiu. Nada preocupante”, afirma.

No mercado doméstico, analistas continuaram atentos a sinais da política monetária. Em evento da XP Investimentos, em São Paulo, nesta segunda, Galípolo afirmou que o mercado de trabalho brasileiro está aquecido e que isso exige uma postura conservadora do BC.

Na sexta-feira (28), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que a taxa de desemprego do Brasil foi de 5,4% no trimestre encerrado em outubro, o menor patamar registrado em toda a série histórica, que começou em 2012.

O presidente do Banco Central também disse que a inflação ainda não está onde demanda o mandato do BC de busca pela meta de inflação e que expectativas e projeções “caem bem menos do que a gente gostaria”.

O alvo central perseguido pelo BC é 3%. No modelo de meta contínua, o objetivo é considerado descumprido quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).

O BC passou a defender juros contracionistas por “período bastante prolongado” em junho deste ano, quando fez sua última elevação da Selic no ciclo, a 15%, maior patamar em 20 anos.

Em novembro, deixando a Selic em 15%, o BC passou a demonstrar convicção de que esse patamar é adequado para cumprir a meta de inflação, apontando a necessidade de “manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado”.

Segundo Boletim Focus, divulgado nesta segunda, a expectativa entre economistas é de que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) terminará o ano a 4,43% e chegará a 4,17% em 2026 —ambas projeções dentro do teto da meta do BC para a inflação, de 4,5%.

No exterior, dados dos EUA estiveram no radar dos investidores. O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) da S&P Global revelou que a indústria dos EUA avançou 48,8 em novembro, de 48,2 em outubro.

Com impacto das tarifas de Donald Trump, o índice registrou o sétimo mês seguido em contração. Segundo o PMI, o setor só cresce quando ultrapassa a marca de 50.

Resultado similar foi identificado pelo Índice de Gerentes de Compras do setor industrial dos Estados Unidos, medido pelo ISM, cujo avanço caiu para 48,2 pontos em novembro, ante 48,7 em outubro. O resultado ficou abaixo da estimativa de economistas consultados pela Reuters, que previam avanço de 49.

Os indicadores servem de base para as apostas sobre o futuro da política monetária do Fed (Federal Reserve, banco central norte-americano) que, na próxima semana, tomará sua decisão sobre os juros.

Assim como nas últimas semanas, analistas continuam atentos às expectativas de corte de juros nos EUA pelo Fed, que pesam sobre a divisa americana.

Na semana passada, foram divulgados o livro Bege, relatório do Fed sobre as condições econômicas dos EUA e os índice de preços ao produtor e vendas no varejo, que tiveram resultados abaixo do esperado ou em linha com as projeções de economistas.

A ferramenta FedWatch, do CME Group revela que investidores veem uma chance de 87,4% de que o banco central americano reduza a taxa de juros para 3,50% a 3,75%, em dezembro —hoje é de 3,75% a 4,00%.

Reduções nos juros dos EUA costumam ser uma boa notícia para os mercados globais —e o oposto também é verdadeiro. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, também chamados de “treasuries”, são um investimento praticamente livre de risco.

Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.

Os analistas também reagiram a sinalizações do Banco do Japão de que um aumento na taxa de juros do país é possível. O presidente da instituição Kazuo Ueda afirmou nesta segunda que irá analisar os “prós e contras” do aumento.

A fala incentivou o “carry trade”. Nela, pega-se dinheiro emprestado a taxas mais baixas, como a dos EUA, para investir em ativos com alta rentabilidade, como a renda fixa japonesa. Assim, quanto mais atrativo o carry trade, mais dólares tendem a entrar no país asiático.

O iene e os rendimentos dos títulos subiram após os comentários, o que levou os mercados a precificar uma chance de aproximadamente 80% de um aumento dos juros na reunião de 18 e 19 de dezembro —em comparação com cerca de 60% na semana passada.