SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O aluno de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, baleado e morto por um policial militar em São Paulo, foi diplomado de forma póstuma pela Universidade Anhembi Morumbi.
O diploma foi entregue aos pais de Marco Aurélio durante a coleção de grau de sua turma. Júlio Cesar Acosta Navarro e Silvia Cárdenas Prado foram convidados a participar do evento realizado na última quinta-feira (27) no edifício Bunkyo.
O momento da entrega do documento foi filmado. Na gravação, Júlio e Silvia são chamados no palco e recebem emocionados o certificado, aplaudidos pelos presentes.
“Chamo o Dr. Júlio Cesar Navarro para receber essa singela homenagem da Universidade Anhembi Morumbi, em nome de todos esses bacharéis, que nesse momento aplaudem em pé seu colega”, disse Marco Aurélio. Celebrante durante colação de grau.
Celebrante disse ainda que o estudante morto seja um exemplo para o restante da turma ao decorrer do exercício da profissão. “Que Marco Aurélio continue a inspirar cada passo de seus colegas, trasformando dor em propósito e saudade em força”, declarou na cerimônia.
Pais lamentaram o filho não poder participar desse momento. “Marco Aurélio, filhinho do meu coração, hoje era um dia especial, tua formatura, mas esse PM assassino destruiu teus sonhos”, escreveu a mãe nas redes sociais.
Marco Aurélio foi baleado na barriga em 20 de novembro de 2024. Na ocasião, ele foi perseguido por dois PMs após dar um tapa no retrovisor de uma viatura.
PMs perseguiram estudante e um deles disparou à queima-roupa quando o jovem entrou no saguão de um hotel da rua Cubatão. Houve um princípio de confusão dentro do estabelecimento, momento em que o policial Guilherme Augusto Macedo efetuou o disparo.
Estudante caiu em uma escadaria do hotel. Ele passa algum tempo semiconsciente, gemendo, até aparentemente desmaiar.
Os dois policiais responsáveis pela ocorrência foram indiciados por homicídio. Além de Guilherme, também responde pela ação o PM Bruno Carvalho do Prado. Os dois respondem em liberdade e estão afastados de suas atividades operacionais.
PAI FALA EM TORTURA
O médico Júlio Cesar Acosta Navarro, pai de Marco Aurélio, diz que seu filho foi “torturado” pelos policiais e pelos bombeiros. “Policiais e bombeiros são pagos para salvar vidas, não para matar a população. Essa é uma atitude pior que a de criminosos. Mataram meu filho de maneira covarde, criminosa”, declarou ao UOL.
Júlio Cesar diz que leu o prontuário médico e assistiu aos vídeos de toda a ação “com lágrimas nos olhos”. Ele também alega que os bombeiros levaram o filho para um hospital longe do local dos fatos, sendo que tudo ocorreu a poucos metros de uma unidade de saúde -o Hospital Santa Rita fica localizado na mesma rua em que Marcos Aurélio foi baleado.
“Houve falha e impunidade. Eu cobrei [à Justiça] e consegui acessar o prontuário médico do meu filho, que não foi pedido pela polícia [durante as investigações]. Quando li, com lágrimas nos olhos, eu vi tudo que estava lá e me inteirei que meu filho foi levado para um hospital que havia comunicado à central que não podia levar pacientes graves porque estava lotado. Apesar dessa advertência, os bombeiros [o levaram para lá]. Isso pode se caracterizar tortura por parte do PM em confabulação com os bombeiros. Os bombeiros, aliás, tiraram sarro do meu filho.”
ADVOGADOS DA FAMÍLIA PEDEM PRISÃO DOS PMS
A defesa da família de Marco Aurélio acionou a Justiça para pedir a prisão preventiva dos PMs. Os advogados embasam o pedido nas imagens registradas pelos próprios agentes durante a ocorrência.
Justiça tem negado prisão dos militares. A família do jovem já havia solicitado a detenção dos agentes anteriormente, mas a juíza Luciana Scorza negou.
Além da prisão, família também quer que o estado de São Paulo expulse os dois agentes da PM. “A família espera e cobra da parte da justiça a prisão preventiva dos policiais. E, da parte do Estado, que eles sejam expulsos da corporação”.



