SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, acusou a Rússia de promover uma campanha de desinformação militar antes do encontro entre Vladimir Putin e os enviados de Donald Trump que discutirão nesta terça-feira (2) com o russo uma saída para a guerra iniciada pelo Kremlin em 2022.

O avião com o negociador Steve Witkoff e com o influente genro de Trump Jared Kushner aterrissou em Moscou pouco antes das 14h (8h em Brasília). Eles se encontrarão com Putin no Kremlin depois das 17h (11h).

Na véspera, Putin reuniu-se com os generais que comandam a invasão do vizinho e anunciou a mais importante vitória militar em quase dois anos, a tomada de Pokrovsk, centro logístico das forças de Kiev na região de Donetsk, joia da coroa da lista de desejos territoriais do russo.

Zelenski não disse isso com todas as letras na sua postagem no X, mas insinuou que a conquista e outros avanços importantes, como a ocupação de Vovtchansk (norte) eram exageros. Mais tarde, seu Estado-Maior afirmou que as derrotas “não correspondiam à realidade” e o comando local ucraniano em Donetsk disse que ainda lutava em áreas no norte de Pokrovsk.

Segundo analistas militares ucranianos e russos, contudo, os dados disponíveis indicam um fato consumado em favor de Putin na região. Como sempre no conflito, uma figura mais clara só irá emergir em alguns dias.

A queda de Pokrovsk, se for um fato, sinaliza a abertura de um caminho para a Rússia avançar sobre os 15% restantes que não controla de Donetsk, 1 das 4 regiões que Putin anexou ilegalmente em 2022 e que cuja posse e reconhecimento como suas é uma de suas demandas.

Nesta terça, houve mais avanços ao sul, com a tomada de duas cidades em Zaporíjia, outra dessas regiões. O clima otimista, verdadeiro ou não, espera os americanos em Moscou, com Putin convencido por seus generais e pela linha-dura do Kremlin que pode impor condições por ter a mão mais pesada no campo de batalha.

Antes de se encontrar com Putin, farão uma reunião com o chefe do fundo soberano russo, Kirill Dmitriev, que rascunhou com Witkoff a primeira versão do novo acordo proposto oficialmente pelos Estados Unidos, que era amplamente favorável ao Kremlin.

Fiel a seu estilo mascate, Dmitriev postou nesta terça um vídeo feito com inteligência artificial defendendo a ideia do “túnel Putin-Trump”, uma obra que ligaria o Alasca à Rússia sob o mar de Bering. Foi uma referência pouco sutil à sua defesa de oportunidades de negócios caso haja paz.

Zelenski reagiu ao plano inicial com apoio de aliados europeus e conseguiu fazer o que chamou nesta terça de versão refinada em duas etapas, ocorridas nos dois últimos domingos em Genebra e, depois, na Flórida. A Casa Branca havia dito o mesmo na véspera.

O ucraniano, que está na Irlanda após visitar a França, tenta manter o apoio europeu à sua causa. Escreveu que é vita manter os parceiros do continente à mesa nas negociações, algo a que Trump dá pouca importância.

Para agravar sua situação, Zelenski enfrenta um enorme escândalo de corrupção no setor de energia de seu governo, que nesta terça derrubou mais uma autoridade em Kiev. A principal vítima até aqui, embora não esteja clara a acusação, foi seu poderoso chefe de gabinete, Andrii Iermak, que liderava as negociações de paz.

O americano mantém sua abordagem transacional sobre a guerra: seu interesse é acabar com ela e fazer negócios, de preferência com a Rússia hoje isolada do sistema ocidental. De resto, mantém o desengajamento proposto da Europa, forçando paulatinamente os 30 parceiros continentais da Otan a assumir sua defesa.

Essa mudança de paradigma tem causado choques enormes, com os países europeus buscando se rearmar e ao mesmo tempo manter o apoio a Kiev. O problema é que não eles não têm armas para tanto, e por ora Trump montou um esquema no qual seus armamentos chegam aos ucranianos comprados pela Otan.

O problema é que, até aqui, isso não tem dado resultados, e o fluxo de ajuda militar a Kiev sofreu um tombo neste semestre, restando saber se os sucessivos anúncios de apoio na Europa mudarão o cenário.