SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Alunos que fizeram a prova teórica da residência médica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), neste domingo (30), no prédio da Universidade São Judas, na Mooca, na zona leste de São Paulo, relatam supostas irregularidades na realização do exame. Entre as reclamações, estão envelopes de prova que deveriam estar lacrados, mas chegaram abertos às salas, segundo eles.

Os estudantes também falam sobre falta de suporte por parte de fiscais e coordenação diante dos problemas e diferença no tempo de prova após uma queda de luz de cerca de 15 minutos -alguns puderam compensar o tempo e outros, não. Há relatos de candidatos que fizeram a prova com o celular no bolso ou usando smartwatch, itens proibidos.

Diante disso, candidatos pedem a anulação do exame. Eles registraram denúncias na Polícia Civil e no MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) e enviaram emails ao Coreme (Comissão de Residência Médica), responsável por planejar e supervisionar os programas de residência.

“A sala 53 recebeu seu envelope de provas completamente aberto. O lacre não havia sido utilizado e o plástico adesivo permanecia intacto, indicando claramente que o envelope não foi selado em nenhum momento”, diz uma das mensagens enviadas ao Coreme e obtidas pela Folha.

“A falha compromete diretamente a segurança, a inviolabilidade e a igualdade de condições do processo seletivo”, conclui a candidata que não teve a identidade divulgada.

O edital da Unifesp oferece mais de 600 vagas, com taxa de inscrição de R$ 660. O cronograma prevê divulgação de resultados da primeira fase a partir de 12 de dezembro. A prova prática está marcada para 9 e 10 de janeiro de 2026, e o resultado final sai em fevereiro.

A médica Rafaela Rocha, 29, candidata à residência em psiquiatria, estava na sala 53 e relata que o envelope já chegou violado. “Parecia que nem tinham tentado lacrar. O selo estava ali, mas o envelope estava completamente aberto”, diz.

Segundo Rafaela, os candidatos da sala 53 foram orientados a aguardar um coordenador. Ele determinou que todos continuassem a prova e, depois, recorressem à Coreme para abertura de investigação interna.

Ao final, os alunos decidiram registrar boletins de ocorrência. Nas redes sociais, formaram um grupo que inicialmente reunia apenas candidatos das salas afetadas, mas rapidamente cresceu.

“Agora já somos cerca de 240 pessoas”, diz Rafaela. O grupo busca orientação jurídica e foi aconselhado a registrar boletins de ocorrência por fraude e a encaminhar representações ao Ministério Público Federal. Eles também acionaram o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.

“Você estuda anos, paga caro, e quando senta para fazer a prova vê o envelope aberto. A prova já era muito difícil, e esse impacto atrapalhou qualquer concentração. Todo mundo saiu se sentindo lesado”, diz Rafaela.

Um estudante de 33 anos, que pediu anonimato por medo de retaliação, também relata problemas no prédio da São Judas. Ele estava na sala 59 e assinou a conferência dos envelopes. Afirma que o pacote de folhas de resposta -que também deveria estar lacrado- já estava aberto sobre a mesa antes do exame.

“Foi a primeira vez que vi um caderno de respostas exposto assim. Isso permite que alguém responda antes e coloque no meio das demais folhas”, afirma.

A Folha de S.Paulo procurou Cremesp e Unifesp na tarde desta segunda-feira (1º), mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Em 2023, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo anulou a 1ª fase do processo seletivo para residência médica e aplicou novas provas para os mais de 5,2 mil candidatos inscritos. De acordo com a instituição, os erros na aplicação do exame afetaram a equidade dos inscritos no processo seletivo, tornando necessária a reaplicação de todas as provas.