SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Rosalía pegou seus fãs de surpresa ao realizar uma audição de seu novo disco, “Lux”, no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, na noite deste domingo (30). Além da presença da espanhola no ponto turístico, surpreendeu o fato de os dois maiores hits do álbum terem ficado de fora da setlist.

“Berghain”, que pode ser considerada uma das músicas que mais geraram interesse de público e crítica no ano e carro-chefe do novo trabalho, bem como “La Perla”, não foram ouvidas na apresentação, que não teve cobertura da imprensa e contou com um pequeno grupo de convidados.

Na setlist entraram “Relíquia”, “Mio Cristo Piangi Diamanti”, “Sauvignon Blanc”, “Magnolias”, “Divinize” e “Memória”. Todas elas têm menos da metade da quantidade de audições de “La Perla” e “Berghain” no Spotify. As duas últimas são, respectivamente, a primeira e a segunda canções mais populares da cantora na plataforma neste momento. Também não foi tocada a quarta canção mais ouvida hoje, “Sexo, Violencia y Llantas”.

As faixas evitadas têm em comum o fato de versarem sobre relacionamentos fracassados ou de alta voltagem sexual. Em “Berghain”, por exemplo, a frase “I’ll fuck you ‘till you love me”, ou “eu vou transar com você até você me amar”, é repetida diversas vezes. Em “La Perla”, Rosalía fala sobre a coleção de sutiãs de seu amante, enquanto em “Sexo, Violencia y Llantas” diz que amará ao mundo antes de amar a Deus.

Segundo a Sony Music, gravadora da cantora, a escolha seguiu um “caminho de respeito ao santuário e ao fato de ser um lugar sagrado”. A decisão, portanto, não teria envolvido a Arquidiocese do Rio de Janeiro, responsável pela administração do Santuário Cristo Redentor.

Procurada, a entidade diz que o local tem gestão própria no que diz respeito a eventos e que não se envolve em qualquer etapa de suas produções. A gestão do santuário, por sua vez, diz que prepara um comunicado, que não foi divulgado até a publicação deste texto.

As seis músicas apresentadas por Rosalía, das quais apenas duas estão presentes no top dez de mais ouvidas de “Lux”, dialogam de forma mais abstrata com os temas principais do disco, entre os quais estão desilusões amorosas, autonomia feminina e desejo sexual, por vezes abordados a partir da apropriação de elementos ligados ao cristianismo.

O próprio título do disco significa “luz”, símbolo de presença divina, em latim. Imagens sacras também são contrapostas ao corpo e ao desejo na identidade visual criada para a atual era musical de Rosalía, como é o caso da capa do álbum, em que ela veste um véu que remete à vestimenta de freiras.

Em “Divinize”, que foi apresentada no evento do Rio, a espanhola já evoca nas primeiras linhas a Bíblia, ao falar da maçã como fruto proibido e associá-la à espiritualidade que o próprio corpo da cantora guarda. Rosários também são mencionados na letra.

Já em “Sauvignon Blanc”, ela canta sobre “acender a minha luz” após desapegar do plano material, o que acontece ao queimar um Rolls-Royce, jogar fora os sapatos Jimmy Choo e escutar Deus. Como em outros de seus trabalhos, Rosalía com frequência traz a religiosidade ibérica para dento de suas músicas.