SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar registra alta nesta segunda-feira (1º) com os investidores reagindo à participação do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em um evento em São Paulo, e à divulgação de dados da economia norte-americana.
Às 14h02, a moeda norte-americana subia 0,35%, cotada a R$ 5,354. No mesmo horário, o Ibovespa, índice de referência do mercado acionário brasileiro, recuava 0,42%, a 158.393 pontos.
O desempenho do pregão devolve parte dos ganhos da sexta-feira (28), quando o dólar caiu 0,31%, a R$ 5,335, e a Bolsa renovou o recorde de fechamento ao superar os 159 mil pontos pela primeira vez na história (159.072 pontos).
No mercado doméstico, analistas continuam atentos a sinais da política monetária. Em evento da XP Investimentos, em São Paulo, nesta segunda, Galípolo afirmou que o mercado de trabalho brasileiro está aquecido e que isso exige uma postura conservadora do BC.
Na sexta-feira (28), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que a taxa de desemprego do Brasil foi de 5,4% no trimestre encerrado em outubro, o menor patamar registrado em toda a série histórica, que começou em 2012.
O presidente do Banco Central também disse que a inflação ainda não está onde demanda o mandato do BC de busca pela meta de inflação e que expectativas e projeções “caem bem menos do que a gente gostaria”.
O alvo central perseguido pelo BC é 3%. No modelo de meta contínua, o objetivo é considerado descumprido quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).
O BC passou a defender juros contracionistas por “período bastante prolongado” em junho deste ano, quando fez sua última elevação da Selic no ciclo, a 15%, maior patamar em 20 anos.
Em julho e setembro, a autarquia manteve os juros básicos em 15% ao ano, reafirmando a necessidade de restrição monetária por período bastante prolongado, mas ainda avaliando se o nível de 15% seria suficiente para levar a inflação à meta.
Em novembro, novamente deixando a Selic em 15%, o BC passou a demonstrar convicção de que esse patamar é adequado para cumprir a meta de inflação, apontando a necessidade de “manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado”.
Segundo Boletim Focus, divulgado nesta segunda, a expectativa entre economistas é de que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) terminará o ano a 4,43% e chegará a 4,17% em 2026 -ambas projeções dentro do teto da meta do BC para a inflação, de 4,5%.
No exterior, dados dos EUA estão no radar dos investidores. O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) da S&P Global revelou que a indústria dos EUA avançou 48,8 em novembro, de 48,2 em outubro.
Com impacto das tarifas de Donald Trump, o índice registrou o sétimo mês seguido em contração. Segundo o PMI, o setor só cresce quando ultrapassa a marca de 50.
Resultado similar foi identificado pelo Índice de Gerentes de Compras do setor industrial dos Estados Unidos, medido pelo ISM, cujo avanço caiu para 48,2 pontos em novembro, ante 48,7 em outubro. O resultado ficou abaixo da estimativa de economistas consultados pela Reuters, que previam avanço de 49.
Os indicadores servem de base para as apostas sobre o futuro da política monetária do Fed (Federal Reserve, banco central norte-americano) que, na próxima semana, tomará sua decisão sobre os juros.
O mercado americano retoma as atividades regulares nesta segunda, após ter liquidez restrita em virtude do feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos, celebrado na última quinta.
Assim como nas últimas semanas, analistas continuam atentos às expectativas de corte de juros nos EUA pelo Fed, que pesam sobre a divisa americana.
Na semana passada, foram divulgados o livro Bege, relatório do Fed sobre as condições econômicas dos EUA e os índice de preços ao produtor e vendas no varejo, que tiveram resultados abaixo do esperado ou em linha com as projeções de economistas.
Segundo Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, os dados sugerem que a economia americana passa por um enfraquecimento. “Há uma expectativa de que as projeções por corte de juros na decisão de dezembro continuem sendo maioria”.
A ferramenta FedWatch, do CME Group revela que investidores veem uma chance de 87,4% de que o banco central americano reduza a taxa de juros para 3,50% a 3,75%, em dezembro -hoje é de 3,75% a 4,00%.
Reduções nos juros dos EUA costumam ser uma boa notícia para os mercados globais -e o oposto também é verdadeiro. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, também chamados de “treasuries”, são um investimento praticamente livre de risco.
Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.
Além disso, uma redução nos juros por lá e a manutenção da taxa brasileira fortalece a estratégia conhecida como “carry trade”. Nela, pega-se dinheiro emprestado a taxas mais baixas, como a dos EUA, para investir em ativos com alta rentabilidade, como a renda fixa brasileira. Assim, quanto mais atrativo o carry trade, mais dólares tendem a entrar no Brasil, o que ajuda a valorizar o real.



